Jornal Estado de Minas

INTOLERÂNCIA ACORRENTADA

Vítimas relatam agressões cometidas por skinheads na capital mineira

Prisão de skinheads acusados de racismo e formação de quadrilha expõe rede de suspeitos de crimes de ódio relacionados à ideologia neonazista. Vítimas relatam as agressões em BH

Mateus Parreiras
Antônio Donato, que tem várias passagens policiais, foi preso ao desembarcar em Americana (SP) - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


As prisões em São Paulo e em Belo Horizonte, por racismo e formação de quadrilha, de três integrantes de uma gangue de skinheads que agia na capital mineira chamaram a atenção para uma situação ainda mais preocupanteAntes rivais, radicais paulistas e mineiros estão se aliando e podem intensificar suas açõesDe acordo com a chefe da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo, Margarete Barreto, a mudança se deu quando o grupo ao qual é ligado Antônio Donato Baudson Peret, de 25 anos – detido no último domingo, em Americana (SP) –, assassinou um líder dos cabeças raspadas mineiros, o estudante de direito Bernardo Dayrell Pedroso, de 24, e sua namorada, de 21, em 2009, no Paraná, nas comemorações do aniversário de 120 anos do nascimento de Adolf Hitler

Além de Donato – que causou revolta ao posar numa foto veiculada na internet estrangulando um homem negro, identificado como morador de rua, com uma corrente – foram presos, também no domingo, em Belo Horizonte, Marcus Vinícius Garcia Cunha, de 26, e João Matheus Vetter de Moura, de 20, que pertencem ao mesmo grupo skinhead na capital mineiraUma quarta pessoa teve seu apartamento vasculhado pela políciaQuatro suspeitos ainda são investigados

A prisão de Donato em Americana foi feita pela Delegacia Especializada de Investigações de Crimes Cibernéticos (DEICC), de BH, e pela Guarda Municipal do município paulistaDonato foi detido no momento em que o ônibus de viagem em que estava chegou da capital, São Paulo, à rodoviária da cidade do interior paulistaO suspeito não reagiu à prisão, mas com ele foram encontradas um faca de cozinha, uma faca tática, um facão tipo machete e um soco inglêsA Polícia Civil de Minas Gerais informou que vai apresentar os suspeitos hoje.

Apesar de estar sendo investigado por racismo e formação de quadrilha, Donato parece ser ainda mais perigoso do que essas acusações indicamSó em Minas, segundo o Estado de Minas apurou junto à Polícia Militar, o rapaz se envolveu em pelo menos dez ocorrências, entre embriaguez ao volante, agressão, lesão corporal e ameaça
No estado, ele responde ainda a três processos por agredir homossexuaisEm São Paulo, são duas ocorrências por lesão corporal.
Um dos parceiros contumazes de Donato em São Paulo, segundo a Delegacia de Crimes Raciais, é Artur Ruda Gomes Fonseca, de 20Os dois chegaram a ser presos no estado, em 2011, depois de terem agredido um grupo de 11 skatistas na Avenida Paulista, nos Jardins

Clima de alívio na Região da Savassi


A prisão dos três rapazes que se identificam como skinheads, no domingo, sob a acusação de racismo e formação de quadrilha, trouxe alívio para as vítimas das agressões cometidas e para comerciantes da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo HorizonteFerido a golpes de soco inglês no rosto quando tinha apenas 16 anos, o estudante A.A.M.C., hoje com 18, comemora a prisão de seu agressor, Antônio Donato Peret“Sinto-me aliviado ao saber que não tem um cidadão como esse circulando mais pelas ruas da cidadeTenho pena dele, pela cabeça que ele tem”

O estudante não consegue esquecer os momentos de terror que viveu ao ser atacado por Antônio Donato e outros três homens na Avenida Getúlio Vargas com Rua Tomé de Souza, na Savassi“Fiquei completamente sem entenderEram umas 21h e eu tinha saído de um shopping para encontrar amigos na Savassi
Alguém bateu no meu ombro e quando virei começaram a me agredirFiquei em choque”, contaPara ele, Antônio Donato não tem condições de viver em sociedade

A mãe do jovem, que é enfermeira, ficou impressionada com a violência do ataque“Meu filho sofreu um ferimento na boca e levou oito pontos.” Ela espera que os suspeitos continuem presos“São extremamente violentos, deram vários socos no estômago do meu filho e o chutaram.” O dono de um bar da Tomé de Souza chamou a polícia e os agressores foram presos.
Ex-colegas de trabalho de outro dos presos no domingo, Marcus Cunha, ficaram surpresos com a notícia de que ele estaria envolvido em um grupo neonazistaMarcos já trabalhou como coordenador de atendimento em um dos restaurantes mais tradicionais de Belo Horizonte, na Pampulha“Estou perplexo com o que fiquei sabendo deleEle nunca deixou transparecer nada sobre esse seu comportamento no ambiente de trabalho”, disse o gerente operacional da casa, Ronaldo Costa

Ronaldo conta que Marcus Cunha passou por avaliação psicológica antes de ser contratado, e que comandava uma equipe de 20 garçons e que o relacionamento entre eles era bom“Ele pediu demissão por ter recebido uma oferta de trabalho melhor”, disse o gerente operacional

Cansados de acompanhar a violência praticada por Antônio Donato e seu grupo contra gays, negros, moradores de rua e hippies, comerciantes da Savassi comemoraram a prisão de três dos acusados dos crimes“Com eles presos, a Savassi vai ficar mais segura e tranquilaAntônio Donato sempre estava no meio da confusão”, disse o dono de um bar.