Problemas que atingem diretamente o setor mais sensível das empresas: o caixaAs perdas no faturamento dos estabelecimentos são estimadas em 30% desde que a Lei Seca passou a ser ainda mais rigorosa, no fim do ano passado, com tolerância zero ao consumo de qualquer quantidade de bebida alcoólica e multa pesada, de quase R$ 2 mil, ao motorista infratorE, se tem sido um problema atrair o cliente até o bar, quando ele se senta surge outro desafio: a adequação às novas regras para colocar mesas e cadeiras nas calçadas, que ainda geram em média 2,7 infrações por dia na capitalApesar de as normas terem entrado em vigor em 2011, com o vencimento das licenças antigas, só agora alguns bares estão sendo surpreendidos pelas exigências, que impedem estabelecimentos de usar passeios com largura inferior a três metrosEste ano já foram feitas 158 vistorias específicas sobre o uso de mesas e cadeiras, média de 18 por semana.
''Os estabelecimentos tinham de ter se adequado desde a alteração da lei, em 2010Em abril de 2011, as licenças que seguiam a lei antiga começaram a vencer'', afirma a secretária municipal adjunta de Fiscalização, Míriam Leite BarretoSegundo ela, há casos de estabelecimentos que só agora perderam a licença para mesas e cadeiras, porque havia algum recurso no processo de renovação do documento tramitando na prefeitura.
As mesas e cadeiras dispostas próximo ao pé de cana plantado na calçada são a marca do Bar do Antônio, que funciona há quase 40 anos no Bairro Sion, Região Centro-Sul de BHMas desde o fim de fevereiro o cenário não é mais o mesmo: quem vai ao boteco tem que se acomodar na parte internaO estabelecimento '' integrante do Comida di Buteco'' não conseguiu renovar a licença para a colocação do mobiliário no passeio, que tem menos de três metros de largura
''Em 2012, já haviam nos negado o alvará, mas recorremos e continuamos funcionandoAgora, em janeiro, veio o indeferimento do nosso pedido e, logo depois, a fiscalização nos multou em R$ 1.192'', conta um dos donos, Túlio BontempoA três dias do festival, não há muito o que comemorar''Estamos tentando uma solução até sexta-feira, mas meu bar perdeu o charme e, se continuar assim, vou ter que mandar gente embora'', afirma.
Paulo César da Cunha, dono do Bar do Paulinho, também no Sion, enfrenta o mesmo problemaPor 30 centímetros o passeio, de 2,70m, o impede de ter a liberação para mesas e cadeiras na parte externa''Em novembro do ano passado, minha licença venceu e meu novo pedido foi negadoEstou a ver navios desde então'', conta o comerciante, que disse ter sido pego de surpresa e perdido 60% dos clientes''Não tenho a menor ideia de por que aceitaram no ano passado e negaram agora'', reclamaSua única chance é propor opções à prefeitura''Podemos diminuir o tamanho da mesa ou pintar uma faixa no passeio
MEIO-TERMO
Uma das organizadoras do evento que destaca a gastronomia dos bares, Maria Eulália Araújo admite que a situação preocupa''Esse é um ponto muito delicado, porque falamos da legislação urbana e de uma característica cultural da cidade, com apelo turístico, inclusiveOrientamos os estabelecimentos para que se preocupem em atender o aumento de fluxo dentro da sua capacidade, sem querer engolir o mundo e aumentar o número de mesas, mas esperamos bom senso da prefeitura'', diz ela''Tem que existir, sim, a regulamentação, porque, quando o prazer incomoda o outro, deixa de ser saudávelMas talvez não haja necessidade de tanto rigor.''
Porém, a pressão que começa na calçada dos bares vai cozinha adentroNos últimos 30 dias, a Vigilância Sanitária municipal também aumentou o cerco, depois de receber da Belotur uma lista de estabelecimentos que deveriam ter as vistorias intensificadas para a Copa das ConfederaçõesBatizado de Rota Copa, o roteiro inclui bares e restaurantes principalmente da Região Centro-Sul e das regionais Pampulha e Leste''A ideia é arrumar a cidade para os grandes eventos e, neste momento, estamos priorizando os locais que certamente vão receber muito movimento, já que BH é a capital dos botecos'', afirma a gerente de Fiscalização da Vigilância Sanitária, Mara CorradiSegundo ela, os estabelecimentos estão sendo multados inclusive por estocar comida com data fora da validade''Estamos coletando alimentos e água também, para monitorar a qualidade do que é servido'', explicou