Jornal Estado de Minas

Em 2012, mais de 1,3 mil pessoas morreram em acidentes nas estradas mineiras

Guilherme Paranaiba Valquiria Lopes
Acidente com envolvimento de ônibus e moto matou pedestre que esperava coletivo na MG-010 - Foto: Maria Tereza Correira

“As pessoas são muito violentas no trânsitoMeu primo perdeu a vida pela falta de educação e pelo excesso de velocidade”, desabafa o motorista Valdinei Pereira Sandes, de 39 anosAinda chocado, ele se refere ao desastre de ontem na MG-010, que matou o também motorista Claudino Nunes Brandão, de 40, atropelado por uma motocicletaSegundo testemunhas, o homem foi atingido enquanto aguardava um ônibus às margens da Linha Verde pelo veículo, que seguia em alta velocidadeO desfecho trágico do acidente de Claudino se repete com frequência nas rodovias estaduais e federais delegadas em Minas GeraisNo no passado, mais de 1,3 mil pessoas morreram em acidentes nessas estradas, número 80% maior que o de 2006, quando foram 752 óbitos.

Apesar de em 2013 os números de janeiro e fevereiro não acompanharem a tendência de crescimento, o ano passado foi recordista de acidentes, feridos e mortos nas rodovias de responsabilidade da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) em Minas GeraisNo acidente de ontem, de acordo com o sargento Anderson Correia, um ônibus também se envolveu e duas versões foram apresentadas no local“O motorista do coletivo disse que estava parado quando a moto o acertou de lado e depois pegou o pedestreJá o motoqueiro contou que o ônibus fez uma conversão brusca à direita para entrar no ponto e que acabou atingindo-o”, disse o militarA única certeza é que mais uma morte está computada na conta das rodovias estaduaisClaudino deixa mulher e três filhos, completamente transtornados com a notícia, segundo contou o primo.

O aumento do número de mortes nas rodovias estaduais e federais delegadas pode estar associado ao tamanho da manha viária gerida pelo estado e pela ineficiência da fiscalização nesses pontos
De acordo com o doutor em planejamento de transportes e logística Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, muitos motoristas optam pelas rotas feitas por MGs para evitar o rigor das federais, considerado por ele um pouco maior“Além desse movimento de fuga da fiscalização, as estradas estaduais padecem com baixo efetivo e com a falta de aparelhamento técnico”, critica Resende, lembrando que a situação é ruim nos dois tipos de estradas, mas ainda pior nas estaduais

Mais tráfego, mais desastres

Segundo o chefe do setor de Trânsito da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar (Dmat), major Gibran Condé Guedes, os principais fatores que contribuem para o aumento das mortes nas estradas policiadas pela PMRv são a expansão da frota, a evolução dos carros, que estão cada vez mais potentes, e a conduta dos motoristas“Com o aumento da intensidade do tráfego nas rodovias a tendência é aumentar os acidentes Com os veículos correndo cada vez mais, a chance das batidas também é maior”, avaliou.

Ainda segundo ele, são 1,3 mil policiais para dar conta de quase 27,5 mil quilômetros de estradas estaduais, além de 4,7 mil quilômetros de rodovias federais delegadas à fiscalização estadualMesmo assim, o militar não acredita que o efetivo seja pouco para a demanda atual“Com o quadro que temos, conseguimos fazer muito no que diz respeito à fiscalizaçãoAcho que o retorno seria muito maior se houvesse investimento maciço na educação dos motoristasNão adianta aumentar o número de policiais se a cabeça das pessoas não mudar”, completa o militar

Investimento em Infraestrutura
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que investe hoje mais de R$ 1 bilhão em obras de conservação rotineira, revitalização e restauração de pavimento em praticamente toda a malha
Nos corredores federais, segundo o órgão, serão concedidas à iniciativa privada as BRs 040, 050, 116, 153 e 262A BR-381 tem promessa de duplicação entre BH e Governador Valadares, com recursos de aproximadamente R$ 4 bilhõesEm nota, o Dnit diz que continua investindo na manutenção de 4,5 mil quilômetros de rodovias federais delegadas, apesar de o governo do estado ter assumido a responsabilidade por cerca de 6 mil quilômetros deste tipo de viaJá na malha rodoviária estadual, segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas foram investidos cerca de R$ 2,18 bilhões no biênio 2011/2012, em programas de pavimentação, manutenção de estradas, desenvolvimento econômico, prevenção de acidentes, concessão de vias, entre outrosPara 2013/2014, o investimento previsto é de R$ 6,4 bilhões, com recursos assegurados, segundo o governo do estado

As vidas que o trânsito roubou (E ainda vai roubar)

Em 28 de janeiro, um desastre comoveu o país: depois do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), 241 pessoas morreramO episódio resultou em investigações e providências que repercutem até hojeLonge do Sul, no trânsito mineiro, uma outra tragédia se repete todos os dias Silenciosa e mais graveDesde o início do ano, mais de 560 pessoas morreram em ruas e rodovias do estadoÉ como se a catástrofe gaúcha tivesse ocorrido duas vezes em menos de quatro mesesO quadro é assustador, mas não gera a mobilização que se seguiria à queda de dois aviões em 90 dias, por exemploPorém, o tráfego mineiro sozinho tirou mais vidas que a soma dos acidentes com os voos 3054, da TAM – com 199 óbitos em São Paulo, em 2007 –, e 447, da Air France, que matou os 228 ocupantes que seguiam do Rio para Paris, em 2009E o pior: mantido esse ritmo, quase 2.180 pessoas terão morrido vítimas de carros, motos, caminhões e ônibus até o fim de 2013.