Jornal Estado de Minas

Governo admite que número de casos de dengue em 2013 pode superar o de 2010

Total de notificações nos meses de janeiro e fevereiro é 58% maior

Paula Sarapu
Maria do Amaral reclama de imóvel que, segundo ela, está abandonado há quatro anos na Cidade Nova - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press

As medidas tomadas depois de surtos de dengue em Minas nos últimos anos não foram suficientes para reduzir o perigo de transmissão da doença em pleno século 21Projeções da Secretaria de Estado de Saúde e de especialistas apontam a possibilidade de que 2013 seja ainda pior em número de casos da enfermidade do que 2010 – ano da última e mais grave epidemia no estado, de acordo com o governoOs números de janeiro e fevereiro são alarmantes: as notificações superam em 58,5% as de 2010E a tendência histórica, segundo a própria secretaria, é de que os picos de casos da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti ocorram em março e abrilLevando em conta o último balanço de março, o total de notificações de dengue chega a 123,6 mil este ano, com 28 mortesOntem, uma grávida morreu com sintomas de dengue hemorrágica na Santa Casa de Belo Horizonte, segundo caso suspeito na capital em uma semana.

Veja o infográfico sobre a doença

“O ano de 2010 foi o pior da história do estado em transmissão de dengue, mas o que observamos na série histórica é que os picos ocorrem em março e abrilSó poderemos dizer que 2013 foi pior quando o ano acabar, mas nossa expectativa é de aumento por causa dessa tendência”, reconhece Geane Andrade, coordenadora do programa estadual de controle de dengue“Trabalhamos com essa possibilidade até para que as ações sejam realizadas a contento e para que haja mobilização da população e dos municípios”, acrescentaA preocupação é reforçada por especialistas, que apontam esta semana como decisivaCálculos feitos pelo doutor em bioinformática Bráulio Couto indicam que, se a taxa de transmissão em março for tão alta quanto a de janeiro para fevereiro, a projeção para abril é de mais 88,6 mil notificaçõesUma queda no ritmo de notificações, diz ele, indicaria situação mais controlada.

Para Carlos Starling, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o crescimento do número de pacientes com suspeita de dengue deve ocorrer até meados de abril
“Tem muito mosquito, muita gente infectadaE a subnotificação é grande”, diz ele, lembrando que, “para atender os pacientes, os médicos deixam de preencher as fichas como elas deveriam ser feitas”O infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, também acredita que as estatísticas não chegaram ao seu pico“Está começando a chover tardiamente e a expectativa é de que as notificações continuem aumentando nos próximos meses, até por causa da circulação do tipo 4”, afirma“As autoridades precisam correr contra o tempo para implantar ações mitigadorasVamos ver se as medidas anunciadas conseguirão reduzir alguns milhares de casos, o que já seria favorável”, completa.

Geane Andrade, do programa estadual de controle de dengue, reconhece que a situação é graveSegundo ela, 357 municípios mineiros já são classificados como locais de alta e média transmissão de dengue, quando há mais de cem casos para cada 100 mil habitantes“Já é o suficiente para nos deixar completamente em alertaNão dá para descansar de jeito nenhum”, pontuaEla atribuiu o aumento de casos este ano a vários fatores, entre eles ocorrência da dengue tipo 4, que não circulava no estado havia mais de uma década
“A população acaba mais suscetível à doença porque não estava imune ao soro tipo 4”, dizA coordenadora afirma ainda que a troca de prefeitos em mais de 80% dos municípios de Minas resultou na desmobilização das equipes de coleta de lixo e controle de vetoresEla fez apelo à população para que fique atenta aos focos de água parada em caixas-d’água, calhas e pratos de planta e acondicione lixo de forma correta.

Uma mulher com oito meses de gestação, que morreu no começo da tarde de ontem, pode ser a segunda vítima da dengue em Belo HorizonteLígia Barcelos, de 26 anos, estava internada na Maternidade da Santa Casa desde a madrugada da quinta-feiraNo sábado, o quadro piorou e ela teve de ser transferida para o Centro de Terapia Intensiva (CTI)No dia seguinte, a coordenação médica do hospital notificou a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) sobre o caso da gestante, que, além de apresentar um quadro de doença hematológica prévia, contraiu dengue hemorrágicaOs médicos tentaram salvar a criança, mas ela não resistiu(Com Landercy Hemerson)