“A impressão que temos é a de que a atividade (aborto ilegal) era feita sem muita preocupaçãoPor isso, a participação de agentes do Estado e a falta de uma ação contra os criminosos serão alvo de mais investigações”, disse o promotor do caso, Mário KonichiEm BH, o procedimento era feito por meio de indução, um processo cirúrgico em que se extrai líquido do cordão umbilical, matando o feto, que pode ser expelido entre 24 horas e 15 dias.
Segundo descreveu o promotor, a casa onde os procedimentos eram feitos não chamava a atenção nem se destacava, apesar de receber mulheres grávidas e da circulação de médicosA denúncia que levou a procuradoria a investigar a quadrilha foi feita em 2011, mas desde 2007 vem sendo denunciada a ação de aborteiros no localUm dos médicos seria conhecido como “doutor Cássio”Sem qualquer embaraço, o homem já recebia os casais ou mulheres grávidas perguntando se já tinham os exames de ultrassom
A pena por realização de aborto ilegal com consentimento da gestante é de um a três anos, julgada por júri popular, por se tratar de crime contra a vidaPor formação de quadrilha, os envolvidos podem ser condenados a penas semelhantesAs gestantes também podem ser processadas“Em Diadema, em uma das escutas, chegamos a saber que um bebê nasceu durante o procedimentoNesse caso, o crime será tratado como homicídio”, afirma o promotor.
Pelas investigações, ficou provado que mulheres de vários níveis sociais recorriam aos serviçosE isso influenciava no preço, como no caso de uma mulher que era amante de um homem rico e casado, que ao recorrer aos aborteiros teve de pagar R$ 8 milEm Diadema, quando as pacientes passavam mal ou sentiam dores, eram levadas de casa para a clínica clandestina por um taxista que fazia parte do esquema e cobrava até R$ 1 mil pela corrida sigilosa.
A operação de prisão ficou a cargo do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), que precisou aguardar o momento exato, já que em Diadema a ação era diária, mas era esporádica na capital mineira“A ação tinha de começar em BH, senão haveria comprometimentoMonitoramos os telefonemas do médicoQuando ele disse que viria de São Paulo a BH, fizemos o pedido de mandados de prisão, busca e apreensão e o detivemos no aeroporto de Confins, por volta do meio-dia (de ontem)”, conta o promotor