Jornal Estado de Minas

Dengue desfalca empresas na capital mineira

Alta incidência de casos da doença em BH já repercute nos escritórios e no comércio, com grande número de funcionários afastados do serviço para tratamento contra o mal

Clarisse Souza
  Iaçanã Woyames, Daniele Silva, Izabela Santana e Renata Rocha voltaram ao trabalho, mas ainda se recuperam dos efeitos da doença - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


As estatísticas sobre o aumento vertiginoso do número de casos de dengue em Belo Horizonte e em todo o estado começam a deixar de ser apenas um problema de saúde públicaO avanço da doença – que somente na capital registrou alta de 71,6%, com 4.215 casos confirmados até quarta-feira – já afeta empresas, que estão sofrendo desfalque no efetivo em função da contaminação de funcionários pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegyptiEm menos de duas semanas, quatro empregadas de uma agência de comunicação localizada no Bairro Sagrada Família, na Região Leste da capital, contraíram a doença e tiveram de faltar ao trabalho por pelo menos três diasLojistas também já sentem os efeitos do aumento no número de contágios, que começa a dificultar o cumprimento de metas em grandes redes.

Veja o infográfico sobre a doença

Nas últimas duas semanas, os jornalistas da agência Pessoa Comunicação tiveram de se desdobrar para conseguir atender a carteira de clientes da empresaA contaminação pela doença atingiu um terço da equipeDebilitadas pelos sintomas, as quatro funcionárias tiveram de levar atestado médico para empresaAs licenças variaram de dois dias a uma semana“Na segunda-feira, não tinha condições de trabalharEstava com muita dor no corpo e nos olhos e manchas vermelhas na pele”, relata a gerente de atendimento da agência, Iaçanã WoyamesEla ficou em casa por apenas dois dias, embora o atestado médico desse a ela o direito de faltar durante toda a semana“Senti alívio depois de ser medicada e por isso decidi voltar ao trabalho

Afinal, tenho um cargo que exige muito minha presença”, diz.

Com as funcionárias doentes, a diretora da empresa, Érica Pessoa, explica que teve de modificar todo o plano de atendimento para não prejudicar o faturamento mensal“Além de ter o quadro de empregados reduzido, tivemos de aumentar a carga horária de quem estava trabalhandoCom certeza, isso vai impactar nas contas no fim do mês, já que tivemos de arcar com o pagamento de horas extras”, afirmaA suspeita dos funcionários era de que o foco do mosquito estivesse em uma casa localizada na Rua Elói Mendes, ao lado da agênciaNo entanto, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o imóvel foi vistoriado e não foram encontradas larvas ou locais em que o Aedes aegypti pudesse proliferar.

O supervisor de vendas de uma loja de utensílios domésticos, no Centro de BH, teve de se afastar do estabelecimento comercial devido ao contágio pelo vírus, no início do mêsO proprietário do local também foi diagnosticado com dengue“Na ausência da gerente, eu sou o único que pode responder pela lojaQuando fiquei doente, tiveram de trazer um funcionário de outra loja para me substituir, o que gera transtorno”, conta o supervisor Paulo Roberto Júnior Fernandes SouzaPara Heleno José de Souza, gerente de uma loja de artigos de cama, mesa e banho na Rua São Paulo, a falta de um funcionário vítima de dengue prejudicou as vendas neste mês“É um prejuízo
Ele ficou afastado muitos dias e isso compromete de algum modo o lucro”, acredita

Metas

Em redes de lojas com grande número de empregados, o impacto gerado pelo aumento de casos de dengue é percebido facilmenteGerente de uma das unidades das Lojas Rede, especializada em artigos de perfumaria e beleza, Tiago Henrique Martins conta que apenas no estabelecimento na Rua dos Caetés, no Centro, três funcionários já trouxeram atestado médico depois de apresentarem os sintomas da doençaSegundo ele, o caso é semelhante nas outras 33 unidades da loja na Grande BH“A média é de três pessoas com dengue por loja neste ano, sendo que algumas delas ficam na Região Norte, onde há maior incidência da doença, o que deve aumentar o número de casos”, explicaSegundo ele, já é possível perceber comprometimento do programa de metas da empresa.

Os órgãos que representam o comércio em BH ainda não têm dados oficiais sobre uma possível alta no número de atestados médicos apresentados por funcionários em decorrência dos casos de dengueO diretor do Sindicato dos Empregados no Comércio de Belo Horizonte e Região Metropolitana, José Clovis Rodrigues, conta que a instituição está divulgando informações sobre a doença em seu jornal informativo“É uma tentativa de chamar a atenção da categoria para os riscos relacionados a esse mal”, considera RodriguesSegundo ele, até mesmo o efetivo do sindicato já foi prejudicado“Estamos sem dois funcionários, que foram diagnosticados nesta semana.” Para ele, embora não haja dados que comprovem o impacto, o setor já sofre com o aumento das licenças médicas relativas à dengue

Secretaria admite a gravidade

A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) admite que o aumento de casos de dengue em Belo Horizonte tem atrapalhado o rendimento em empresasSegundo o secretário municipal adjunto de Saúde, Fabiano Pimenta, o absenteísmo ocasionado pela doença é uma realidade constatada em toda a cidade e demanda atenção especialPara tentar reduzir os impactos do mal nas organizações, a SMSA desenvolve o projeto Empresa sem dengueOs próprios funcionários são treinados para formar um comitê de combate à doença e integram as equipes responsáveis pelo monitoramento de possíveis focos dentro dos estabelecimentosCom isso, a secretaria espera reduzir casos de proliferação do mosquito nos ambientes de trabalhoA ação, que é realizada desde 2011 em BH, tem sido intensificada em todas as regionais da cidade e já conta com a adesão de mais de 40 empresas

O projeto é dividido em três etapasSão realizados encontros em que os empregados recebem orientações que vão desde as noções básicas sobre o mosquito transmissor até as atividades de combate efetivo à doençaOs funcionários são treinados por agentes de zoonoses para aprender a melhor forma de combater a denguePara fazer com que as empresas conheçam o programa, a secretaria realiza um trabalho de divulgação, convidando os gestores dos estabelecimentos a participar“Mas as empresas interessadas em desenvolver o trabalho também podem entrar em contato com a secretaria e solicitar o treinamento de seus funcionários”, orienta o secretário adjuntoNa avaliação de Pimenta, o projeto é relevante, “porque, além de adoecer a dengue gera um alto índice de absenteísmo, o que impacta na economia da cidade”

Vacina contra sarampo
Com a aproximação da Copa das Confederações, que será realizada em junho, a Secretaria Municipal de Saúde está realizando uma campanha de vacinação contra o sarampo, que tem como principal objetivo imunizar profissionais do setor de turismo e evitar a possibilidade de um surto da doença na capitalDez equipes de saúde estão aplicando a vacina triviral, que previne contra sarampo, caxumba e rubéola, em 180 lugares da cidadeTambém serão imunizadas pessoas que trabalhem em hotéis, empresas de táxi, aviação, shoppings, além de profissionais da imprensaA campanha vai até 27As pessoas que procurarem os centros de saúde da capital também poderão receber a dose da vacina.