“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…” Quem entrava nessa casa no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, usada como cracolândia por até 50 viciados, ficava sem chão“Na loucura das drogas, os caras furavam as paredes, subiam no telhado, destruíam tudo”, revela o porteiro Almir Alves dos Santos, de 33 anos, que frequentou o lugar por cinco anosDiante do cenário de horror, os vizinhos chamaram a polícia, acionaram a Justiça, mas não havia jeito de intervir no caso, por se tratar de propriedade particular
A resposta ao impasse veio de Almir, o primeiro a deixar a chamada casolândia do Serra VerdeDepois de recuperado das drogas, ele voltou ao local para buscar os amigos, entre eles o dono do imóvel, Oswaldo Santos, de 40 anosCom um histórico de três overdoses, Santos estava entregue aos efeitos do crack“Ele tinha desistido de viverEstava muito magro e não tomava banhoSem dinheiro, abria as portas da residência a quem oferecia um pedaço de pedra ou um gole de cachaçaAs pessoas foram entrando e a casa foi enchendo”, explica AlmirE completa: “Com o uso da pedra, a pessoa se torna antissocial, deixa de trabalhar, larga a família e se isola no meio do lixo, vivendo como mendigo”.
A casa caiu, como se diz na gíria, quando até o dono do barraco bateu em retirada
Na semana que vem, uma caçamba vai parar em frente a Rua Maria José Duarte, 93O lixo começará a ser recolhido do espaço, que será reformado em regime de mutirão, com a ajuda dos ex-dependentes químicos que costumavam se reunir no endereçoO grupo promete arregaçar as mangas e reconstruir a única moradia de Oswaldo, que não pode voltar a viver nas mesmas condições de antes, sob risco de ter uma recaída