“Meu salário será salvar vidas”, afirma João LucasCom a compulsão própria dos viciados, ele mergulhou de cabeça nos cursos de capacitação, palestras e livros especializados na dependência química“Não tem cura, mas tem tratamentoSempre vai existir a ‘compulsão’ dentro de mim e, por isso, devo evitar frequentar os mesmos lugares, hábitos e pessoas de antesTento canalizar essa ansiedade para um novo estilo de vida, seja a prática de esportes radicais ou o prazer de estar com a família”, conta João Lucas, que começou a fumar maconha aos 13 anos, experimentou cocaína aos 14, provou LSD e ecstasy nas baladas aos 18 e, aos 20, estava atolado no crack.
“Só de pensar em abrir as portas da entidade, dá aquela adrenalina”, brinca João LucasEle e Élcio, sócio da Amigos da Sobriedade Comunidade Terapêutica (Amis), ainda não recebem financiamento governamental e contam apenas com as prestações a serem pagas pelos familiares dos internosPor enquanto, a dupla tem dificuldades até para abastecer o tanque de gasolina do carro, mas confia em que o projeto vai dar certo“Se funcionou para a gente, vai funcionar para outros
De cada cinco usuários ocasionais de drogas, um vai se tornar dependente químico segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS)João Lúcio e Élcio já fizeram parte dessa estatísticaDesde que conseguiram sair dela, sentem necessidade de retribuir a ajuda que receberam, quando ninguém acreditava ser possível recuperar viciados em crackPerguntado sobre a internação espontânea ou compulsória de viciados que vivem nas ruas como mendigos, João reflete e responde: “Existe uma regraO dependente químico só para de usar a droga quando o sofrimento dele estiver maior do que a vontade de usar”.
“Basta estender a mão”
“É fácil acabar com cracolândia em Belo Horizonte
Por meio da página da entidade na internet (www.curadopordeus.webnode.pt), com mais de 8 mil acessos, Imbuzeiro recebe todos os dias apelos desesperados como os da professora K., de Ibirité: “Não sei mais a quem recorrerHá quatro anos divido meu marido com o crack e sinto que estou perdendo ele para as drogasSaio para trabalhar e, quando volto, dou falta de algo em casaPreciso de ajuda, pelo amor de Deus”.
Com muita boa vontade e pouco dinheiro, Imbuzeiro conta que vai atrás dos dependentes químicos onde eles estiverem, inclusive em bocas de fumo nas favelasEle diz pedir licença aos traficantes para fazer o trabalho de resgate social“Geralmente, consigo convencer o usuário de crack a aceitar o tratamento, com base em muita conversaÉ preciso entender o motivo que levou o dependente químico a buscar o crack, se ele brigou com a mulher, se está se sentindo desprezado, se a família é preconceituosaMuitas vezes o dependente químico não é ouvido sobre seus sentimentos, só é cobradoE nem sempre está fazendo uso da droga na rua, ele pode estar esperando uma marmita ou se escondendo do sol”, defende o militante, que recebeu medida alternativa para fazer trabalho social ao ser flagrado por porte ilegal de drogas“Era uma pedra só, mas foi minha salvação”, conclui