Jornal Estado de Minas

Mutilação de mama é alta no país por causa do câncer

Mastectomia ainda é necessária em metade dos casos de câncer quando a doença é descoberta em estágio avançado. Alternativa é cirurgia de reconstrução da mama

Patrícia Giudice
"Um câncer é muito traumatizante, é uma lição diária. Tive que aprender que a vida é mais que duas mamas", Lucrécia do Carmo Campolina Pinto, de 53 anos, dona de casa - Foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

O câncer de mama é uma doença silenciosa, que se desenvolve, na maioria dos casos, sem provocar dores fortesE uma preocupação dos médicos é de que seja descoberto sem a necessidade de mutilar a mulherSegundo o mastologista Carlos Henrique Menke, integrante da Sociedade Brasileira de Mastologia e médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em geral, a estimativa brasileira é que em 50% dos casos ainda é preciso retirar a mama, a mastectomia, por causa do tamanho do tumor encontrado

“Temos tumores muito grandes aindaO ideal é até 1,5cm, que tem chance de cura sem deformar a mulherA grande meta é curar aqueles em tamanho menor”, afirmouHoje, uma das técnicas usadas pela medicina é a cirurgia oncoplástica, quando a mama é reconstruída fazendo assimetria com a outraA prótese é necessária quando a mama inteira é retirada

A dona de casa Lucrécia do Carmo Campolina Pinto, de 53 anos, sabe o que é entrar na sala de cirurgia e sair sem parte do corpoEla teve o primeiro câncer aos 40 anos, na mama esquerdaA mãe morreu com 45, pela mesma doença
Quatro anos depois, apalpando a mama direita, ela identificou mais um nódulo e não conseguiu salvar o outro seioPôs próteses, mas não se esqueceu do trauma“Um câncer é muito traumatizanteÉ uma lição diária, me olho no espelho sempre e vejo minha situaçãoTive que aprender que a vida é mais que duas mamas.”

 O primeiro nódulo ela não conseguiu detectar no autoexame, apenas o segundo, quando já estava mais treinada“Sempre falo que é importante que a mulher conheça seu corpo e mantenha uma disciplina de consultas médicas e examesÉ um conjunto”, afirmou

Troca de experiências

Já a dona de casa Sílvia Helena Pinheiro mora em Matosinhos, mas está sempre em Belo Horizonte a pedido dos médicos que acompanharam seu tratamento contra o câncerTinha mania de se tocar e, num caso raro, descobriu um câncer na mama aos 28 anos, quando amamentava seu segundo filho, há 13 anosEla teve que tirar a mama, fez radioterapia, quimioterapia e pediu muito a Deus para continuar a viver
“Hoje, aos 40 anos, era para eu fazer a primeira mamografiaMas já fiz mais de 100.” Ela participa do Projeto Conhecer, desenvolvido pelo Centro de Quimioterapia da Santa Casa

A cada três meses, mulheres, familiares e médicos se reúnem para trocar experiênciasSílvia sempre mantém o seu alto astral“Meus médicos, quando precisam dar a notícia para alguma paciente, me ligam para eu esperar do lado de foraQuando saem, chorando, digo a elas que é possível vencer, que na hora é o fim do mundo, mas depois tudo passa”, contouO próximo encontro do Projeto Conhecer será no dia 16 de março, às 8h30, na Santa Casa de Belo Horizonte, com entrada gratuita.

De olho no próprio corpo

Além de se apalpar, mesmo que não seja tecnicamente autoexame, as mulheres devem observar alterações no próprio corpoSegundo o médico oncologista Charles Pádua, diretor do Cetus hospital-dia, em Betim, na Grande BH, na frente do espelho, elas podem identificar sinais de que algo está errado com a mamaUma dica é observar, com os braços levantados ou para baixo, se os mamilos estão alinhadosSair qualquer líquido que não seja o leite materno não é normalMamilo retraído, com alguma ferida, ou a pele como uma casca de laranja, são alterações que precisam ser investigadas

Outra dica do médico é apalpar as axilas tambémAlguns tumores, em casos raros até mesmo os de mama, podem se desenvolver nessa região“Estimular que a mulher conheça e observe seu próprio corpo se soma à vigilância, é um conjunto de ações para o diagnóstico precoce”, afirmou.

A mamografia é indicada a partir dos 40 anos, mas alguns fatores podem aumentar o risco para o câncer de mama e sugerem mais atenção pelas mulheres que estiverem em idade mais baixaSegundo Pádua, ter um histórico familiar do tipo de câncer aumentam as chances e exigem cuidadoA exposição excessiva ao estrógeno (hormônio feminino) é outro fator influenciado, por exemplo, pela falta de amamentação e longo período menstrual durante a vidaCharles Pádua enfatiza ainda fatores externos, como consumo de gordura e ingestão de álcool em excesso, além de sobrepeso e tabagismo“As mulheres estão bebendo demais e isso é fator negativo”, disse.