Jornal Estado de Minas

Rebelião na Penitenciária Nelson Hungria já passa de 24h

Negociações devem ser retomadas no início da manhã. Líder da rebelião acionou o advogado Ércio Quaresma para intervir na negociação e disse que cinco detentos estão sendo mantidos com "status" de reféns

Cristiane Silva Landercy Hemerson Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri
Já passa de 24 horas a rebelião dos detentos do Pavilhão 1 do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte
As negociações foram interrompidas no início da madrugada e devem ser retomadas na manhã desta sexta-feiraUma verdadeira operação de guerra começou a se desenhar no entorno do presídio por volta das 6hPoliciais do Batalhão de Operações Especiais aumentaram a área de isolamentoUm caminhão da Cavalaria e várias viaturas começam a chegar ao local

Veja a galeria de fotos do presídio pela manhã

Ércio Quaresma, que defende Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, no caso Eliza Samúdio, chegou ao local às 7h15 após ser acionado pelo líder da rebelião, o detento Daniel Augusto Cypriano, de 29 anosQuaresma diz ter recebido um telefonema do preso, que tem cinco condenações por roubo e uma por homicídio, no início da madrugada“Ontem, por volta de meia-noite, o Daniel me ligou pedindo que eu pudesse intervir na negociaçãoEu não o conheço, mas já trabalhei para parentes dele”, explicou Quaresma

Na ligação, Daniel teria dito também que além do agente penitenciário Renato Andre de Paula Siqueira, e a professora Eliana da Silva, cinco detentos também estão sendo observados “com status de reféns” por ajudarem a direção do presídioEm frente à Nelson Hungria, Quaresma voltou a falar ao telefone com os presos
“A primeira reivindicação é a retirada da direção do presídioSem isso, não vamos aliviar”, disse Daniel no viva vozQuaresma disse que outra exigência do detento é de que ele participe das negociações, que não devem acontecer sem ele

Segundo Quaresma, seu novo cliente quer o afastamento do atual diretor do presídio, Luiz Carlos Danúzio, que adotou um novo sistema de conduta que tem dificultado a entrada de visitas, principalmente de mulheres grávidasQuaresma ainda reforçou a denúncia de Daniel ao dizer que outras regras implantadas pelo diretor fogem à normalidade, como a determinação de que cada advogado possa atender no máximo três presos por dia durante o período máximo de 30 minutos para cadaO líder dos detentos também exige que não haja transferência dos presos rebelados como uma das exigências para o fim do motim

Retomada de negociações


A retomada das negociações estava prevista para começar entre 8h e 9h desta sexta-feira, mas vai depender da boa vontade dos presos, conforme informou o chefe do Comando de Policiamento Especializado (CPE), coronel Antônio Pereira CarvalhoOs presos estão propensos a aceitar uma proposta feita no fim da noite de ontem (por volta de 22h) de serem ouvidos pelo corregedor da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds)

A intenção é que, mediante liberação dos dois reféns, os rebelados prestem depoimento em cartório para expor todas as revindicações sobre restrições de visitação e reclamações contra a diretoria da penitenciáriaSegundo o coronel, a sequência de fatos seria: fechamento do acordo, liberação da professora e do agente, retirada dos presos do pavilhão, transporte até a área administrativa e oitiva de um por um
De acordo com o militar, os amotinados só não aceitaram essa proposta ontem por causa do avançar das horas e entenderam que não seira seguro para eles o fim do motim naquele horário.

Sobre a informação de que o número de reféns teria subido para sete, o coronel informou desconhecer a situação e que a polícia continua a considerar apenas duas pessoasO coronel Carvalho destacou, também, que apesar da suspeita, não é possível afirmar que a queima de um ônibus e três carros em Belo Horizonte tenham relação com a rebelião na Nelson HungriaAs primeiras informações a respeito do caso do coletivo indicavam que teria ocorrido um assalto


Reféns

Renato André trabalha na unidade desde julho de 2011, e a professora Eliana leciona há 12 anos para os albergados no complexo penitenciário Eles foram rendidos pelos detentos por volta das 9h de quinta-feira antes de entraram na sala de aulaOs dois são hipertensos e a mulher chegou a passar mal durante a tarde

Segundo o coronel Antônio Carvalho, o agente penitenciário foi obrigado a vestir o mesmo uniforme dos detentos e está algemadoEle permanece junto aos rebelados, que se concentram no pátio interno do pavilhãoJá a professora é mantida no canto de uma celaO militar conversou com ela por meio de rádio e ela teria afirmado a ele que está bem e que não foi agredida pelos presos, assim como o agente penitenciário.

Veja as fotos do início da rebelião

O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar iniciou as negociações por volta das 13hPor meio de um rádio comunicador do agente penitenciário mantido refém, os oficiais mantiveram contato com o detento que se apresentou como líder do motimNo começo da noite havia expectativa de rendição dos presos, com parte das exigências aceitas pelas autoridadesPorém, os rebelados voltaram atrás ao saber que foi negado o afastamento do diretor da penitenciária Luiz Carlos DanúzioNo início da madrugadas, as negociações foram interrompidas e o rádio comunicador usado pelos detentos teria sido devolvidoO coronel Carvalho disse que parte do registro foi desligado, mas os presos ainda têm acesso a água

Ônibus incendiado

No fim da noite dessa quinta-feira, um ônibus foi incendiado na marginal do Anel Rodoviário, na altura do Bairro Califórnia, na capital, numa suposta ação orquestrada com os rebelados na Penitenciária Nelson Hungria, em ContagemDe acordo com a Polícia Militar, o coletivo atacado é da linha 4501 e ninguém ficou ferido

Segundo a PM, havia apenas o cobrador, o motorista e uma passageira dentro do ônibus quando dois homens embarcaram anunciando um assaltoDepois de recolher o dinheiro que estava com o cobrador, a dupla ordenou que todos desembarcassem e atearam fogo no interior do veículoAntes de fugir, a dupla entregou um bilhete ao cobrador com as palavras “opressão” e “sistema”, as mesmas que foram escritas pelos detentos com lençóis no pátio do pavilhão onde ocorre o motim.

Visita ao goleiro Bruno

O promotor responsável pela acusação contra o goleiro Bruno Fernandes, Henry Vasconcelos de Castro, foi até a Penitenciária Nelson Hungria no fim noite desta quinta-feiraEle disse que pretendia verificar a situação do réu acusado de arquitetar a morte de Eliza Samudio e não deu mais detalhes sobre a visitaO amigo do ex-atleta, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, já condenado pelo sequestro e morte de Eliza Samudio, cumpre pena no pavilhão 5 do mesmo complexoEle deixou o local no começo da madrugada, mas não conversou com a imprensa

(Com Daniel Silveira)

- Foto: ARTE/ Soraia Piva