Jornal Estado de Minas

Negociações com presos rebelados na Nelson Hungria devem ser retomadas pela manhã

Duas pessoas são feitas reféns desde a manhã de quinta-feira. Agente penitenciário está algemado e com uniforme da Suapi enquanto professora está isolada em cela

Daniel Silveira Landercy Hemerson

Presos do pavilhão 1 ocuparam parte do telhado da penitenciária e arrancaram telhas para jogar nos agentes - Foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS



A rebelião na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, onde dois reféns são mantidos no pavilhão 1 da unidade desde as 9h dessa quinta-feira, avança pela madrugada desta sexta-feira sem previsão de fimO fornecimento de água, luz e comida foi suspenso e um forte aparato policial foi montado para acompanhar as negociações, que acabaram interrompidas no começo da noite pelos líderes do motim e a expectativa é que sejam retomadas pela manhãNo fim da noite, um ônibus foi incendiado na capital numa suposta ação orquestrada com os rebelados.

De acordo com o coronel Antônio Carvalho, da Polícia Militar, os rebelados disseram que não se sentiam seguros em manter o contato durante a noiteEles garantiram que a integridade física dos dois reféns é preservada e que pela manhã retomarão as negociaçõesO militar disse que uma invasão é descartada, uma vez que há abertura para o diálogoAinda segundo o coronel, o corregedor da Secretaria de Estado de Defesa Social irá à penitenciária para ouvir os presos, que fazem críticas ao sistema implantando no complexo pelo atual diretor, Luiz Carlos Danúzio.

No começo da madrugada, o advogado Zanone Manuel de Oliveira, que entrou no complexo penitenciário por volta das 22h se apresentando como integrante da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Minas Gerais (OAB-MG), deixaram de atender ao rádio comunicador usado para contatar a polícia desde o início das negociações.

Veja algumas imagens da rebelião

Reféns

São mantidos reféns o agente penitenciário Renato Andre de Paula Siqueira, que trabalha na unidade desde julho de 2011, e a professora Eliana da Silva, que há 12 anos leciona para os albergados no complexo penitenciárioAmbos são hipertensos e a mulher chegou a passar mal durante a tarde

Segundo o coronel Antônio Carvalho, o agente penitenciário foi obrigado a vestir o mesmo uniforme dos detentos e está algemadoEle permanece junto aos rebelados, que se concentram no pátio interno do pavilhãoJá a professora é mantida no canto de uma celaO militar conversou com ela por meio de rádio e ela teria afirmado a ele que está bem e que não foi agredida pelos presos, assim como o agente penitenciário.

Exigências

Com cinco condenações por roubo e uma por homicídio, o detento Daniel Augusto Cipriano, 29 anos, se apresentou à polícia como líder da rebelião

Por meio de um celular, ele chegou a telefonar para uma rádio local apresentando as reivindicaçõesA Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) disse desconhecer como ele teria conseguido acesso ao aparelho telefônico.

Conhecido pelos apelidos de Carioca e Snap, Daniel teria revelado à polícia que o motim se deve, principalmente, às novas regras de visitação impostas na unidade prisionalGrávidas teriam sido proibidas de entrar no complexo, assim como criançasCom lençóis, os rebelados escreveram no pátio as palavras “opressão” e “sistema”O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira, as mudanças foram implementadas para dar conforto às mulheresHoje elas são levadas para uma sala onde ficam trinta minutos com o preso em uma visita assistida

O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar iniciou as negociações por volta das 13hPor meio de um rádio comunicador do agente penitenciário mantido refém, os oficiais mantiveram contato com o detento que se apresentou como líder do motimNo começo da noite havia expectativa de rendição dos presos, com parte das exigências aceitas pelas autoridadesPorém, os rebelados voltaram atrás ao saber que foi negado o afastamento do diretor da penitenciária Luiz Carlos Danúzio.

Falha na segurança

Para o subsecretário de administração prisional, houve falha na segurança, o que gerou o motim quando começaria uma aula para os albergados
“Foi uma questão de oportunidadeUm deslize do agenteA professora estava na sala e eles renderam primeiro o agente e depois a professora”, disse Murilo Andrade

Ônibus incendiado

No fim da noite dessa quinta-feira, um ônibus foi incendiado na marginal do Anel Rodoviário, na altura do Bairro Califórnia, na capital, numa suposta ação orquestrada com os rebelados na Penitenciária Nelson Hungria, em ContagemDe acordo com a Polícia Militar, o coletivo atacado é da linha 4501 e ninguém ficou ferido

Segundo a PM, havia apenas o cobrador, o motorista e uma passageira dentro do ônibus quando dois homens embarcaram anunciando um assaltoDepois de recolher o dinheiro que estava com o cobrador, a dupla ordenou que todos desembarcassem e atearam fogo no interior do veículoAntes de fugir, a dupla entregou um bilhete ao cobrador com as palavras “opressão” e “sistema”, as mesmas que foram escritas pelos detentos com lençóis no pátio do pavilhão onde ocorre o motim.

Visita ao goleiro Bruno

O promotor responsável pela acusação contra o goleiro Bruno Fernandes, Henry Vasconcelos de Castro, foi até a Penitenciária Nelson Hungria no fim noite desta quinta-feiraEle disse que pretendia verificar a situação do réu acusado de arquitetar a morte de Eliza Samudio e não deu mais detalhes sobre a visitaO amigo do ex-atleta, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, já condenado pelo sequestro e morte de Eliza Samudio, cumpre pena no pavilhão 5 do mesmo complexo Ele deixou o local no começo da madrugada, mas não conversou com a imprensa.

 

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