Faltavam apenas 28 quilômetros para completar a viagem de quase 600 entre Belo Horizonte e Búzios, cidade praiana na Região dos Lagos do Rio de JaneiroCom quase 95% do trajeto completo, o carnaval de cinco pessoas terminou de forma trágica no início da manhã dessa quarta-feira, depois que o Cross Fox em que estavam invadiu a contramão e bateu com violência, de frente, em um caminhão na BR-040, matando todos os ocupantes e criando um cenário de guerra na estradaSomada à violência do desastre, a demora para remoção dos corpos provocou um congestionamento gigantesco e evidenciou despreparo e desrespeito não só com as vítimas e seus parentes, mas também com milhares de pessoas que tentavam voltar para casa
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Em nota, a Polícia Civil argumentou que o trecho onde aconteceu o acidente é de competência da Delegacia Regional de Ouro Preto, responsável pelo município de ItabiritoNo entanto, alegou que devido ao engarrafamento por causa do desastre, a equipe de plantão em Belo Horizonte teve de ir ao local
Quase 20 minutos depois, às 11h20, chegou ao local o delegado Ramon Sandoli, chefe de Operações Especiais do Detran-MGO policial disse que estava de folga e que foi até o local para tentar resolver o problema da ausência do peritoCom ele chegou também outra versão para a demora: o trabalho deveria ser feito por alguém de Conselheiro Lafaiete“O tráfego ficou complicado de Lafaiete até o local do acidentePor isso, a perícia de BH foi acionada”, afirmou, acrescentando que não comentaria assuntos relacionados ao efetivo da políciaÀs 11h42, enfim, chegou o perito
A equipe do EM ouviu de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que a situação se repete na maioria dos acidentes no trecho, complicando a retomada do trânsito normal e prolongando o sofrimento de amigos e parentes das vítimasAo meio dia, os Bombeiros começaram a cortar pedaços do veículo, e a última vítima foi retirada por volta das 13h
Quase uma hora depois a estrada foi liberada, com a remoção dos dois veículos que se acidentaram
Sucessão de desencontros e de versões
Roney Garcia
É difícil classificar a ação da Polícia Civil no desastre que vitimou cinco pessoas, mas uma tragédia de erros seria uma definição aproximada para o que se viu ontem na BR-040Não é aceitável que falta de pessoal, de planejamento, de coordenação entre equipes, ou a combinação de todos esses fatores, deixe durante cinco horas corpos de seres humanos expostos ao descaso, suas famílias à mercê de uma espera que só agrava a dor e os demais usuários da rodovia parados diante de tamanha exibição de ineficácia oficialAs várias versões para a demora da perícia – que não chegaram a consenso nem sobre qual deveria ser a equipe responsável pela ocorrência –, o fato de o rabecão que partiu de BH ter chegado 40 minutos antes do perito que saiu da mesma cidade, o helicóptero que foi empregado sem socorrer vítimas nem transportar quem pudesse resolver o problema deram aos cidadãos uma demonstração de que as corporações não se falam e menos ainda se completamJá seria grave em um local com estradas em ótimas condições e índices de acidentes baixíssimos nos feriadosEm nossas rodovias, e durante o carnaval, não é admissível.
‘Achei que tudo ia pegar fogo’
O acidente ocorreu em uma reta, apenas oito quilômetros antes do trecho duplicado da rodovia que liga a capital fluminense a BHO caminhão envolvido estava carregado de cimento e seguia com destino a Lagoa Dourada, no Campo das VertentesO motorista, Luciano Fraga, de 54 anos, ficou traumatizado com o que viuCom lágrimas nos olhos, ele parecia não acreditar na situação“São 26 anos de estrada e é duro ver uma coisa dessasSó me lembro de ver o carro de repente invadindo a contramão e vindo para o meu ladoA impressão que tive é que ele estava a uns 100 km/h e ainda tentou retornar, mas não teve jeito”, conta LucianoEle diz ainda que, depois da batida, ficou desesperado“Só pensava em sair do caminhão, porque achei que tudo ia pegar fogo.”
A cena na BR-040 foi de destruição completaO Cross Fox entrou na parte da frente do caminhão, ficando irreconhecívelDas cinco vítimas, duas eram mãe e filha, de apenas 2 anosEmbora houvesse cadeirinha no carro, a criança foi retirada do colo de um dos ocupantesNo banco dianteiro do passageiro viajava Maria Helena de Andrade Oliveira, de 55No banco de trás morreram Lawana Paula Tavares, 20, e Tamara de Almeida Guimarães Correia, de 29, mãe da pequena Ana Luiza, de 2
Segundo um motorista de ônibus que é cunhado de uma das pessoas que estava na viagem a Búzios, o grupo era composto de 14 pessoas, divididas em três carrosEm um Palio viajavam quatro e em uma caminhonete Ranger as outras cincoO motorista da caminhonete com placa de Búzios disse apenas que o comboio saiu do litoral na terça-feira às 21h e parou na estrada durante a viagem para descansarTodos estavam extremamente abalados, sem condições de dar muitas informações.