A famosa frase “No carnaval, pode-se andar pelado pela Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, porque ninguém verá” acaba de cair por terraEste ano, a capital mineira provou ter redescoberto sua vocação para a folia e, em nome de Momo, pelo menos 72 blocos arrastaram multidões pelas ruas da cidade nos quatro dias da festa, 30 além do número cadastrado antes da folia pela BeloturForam tantas pessoas que nem as autoridades nem os próprios organizadores têm a real dimensão do número de foliõesSabe-se apenas que todo o planejamento foi feito para uma quantidade bem inferior e, no fim, todos foram pegos de surpresa
O máximo esperado para um bloco eram 1,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, mas o público chegou a 12 milNa mesma proporção os problemas se ampliaramFalta de banheiros químicos, sujeira e até moradores bloqueados em suas garagens causaram muitos transtornosDiante do potencial mostrado, prefeitura e organizadores caminham para pensar grande e evitar os mesmos erros em 2014
A Belotur vai convocar, na semana que vem, reunião com os responsáveis pelos blocos, com carnavalescos e os representantes do Conselho de Monitoramento da Violência em Eventos Esportivos e Culturais (Comoveec) para discutir a folia do ano que vemO conselho é formado por autoridades, como polícias Civil e Militar, Guarda Municipal e fiscalização
O presidente da Belotur, Mauro Werkema, informou que 42 blocos estavam cadastrados
Redes sociais
Na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, o Approach reuniu 10 mil pessoas e os problemas foram visíveisNa Savassi, a multidão foi refém também da falta de infraestruturaNo Bairro de Lourdes, o Baianas Ozadas, que esperava um público entre 100 a 500 pessoas, recebeu entre 8 mil e 10 mil“Temos de fazer uma reflexão sobre esse fenômeno que está ocorrendo para nos prepararmos para o ano que vem“Será que o mineiro venceu sua dificuldade antropológica e se entregou ao carnaval? Ou foram as redes sociais?”, questiona Mauro Werkema
A PM concorda com uma readequaçãoO comandante de Policiamento da Capital, coronel Rogério Andrade, conta que foi preciso remanejar policiais para dar conta do público, já que o número final de foliões superou em muito a previsão inicialEle acredita que parte disso foi causada pelas redes sociais“A internet não nos deixa fazer um cálculo seguroPara assegurar um nível de controle, teremos de ter um planejamento contemplando muito mais gente que o esperado”, afirma
O coronel diz que, apesar da grande quantidade de pessoas, foi uma festa pacífica“É importante a atenção dos organizadores em alguns pontos, como não permitir garrafas nos locais de dispersão, ambulantes trabalhando sem fiscalização e instalar lixeiras”, avaliawFoi um carnaval de alegria, seguro, as pessoas se divertiram realmente, mas pode ter uma infraestrutura melhor para que a comunidade local não seja pega de surpresa”, ressalta.
Cinzas
O carnaval de rua continuou nessa quarta-feira em BHQuatro blocos saíram depois do meio-dia no Bairro Santa TerezaCom participação enxuta de foliões, a maioria de trabalhadores autônomos e estudantes, os blocos atraíram pessoas com energia e disposição para aproveitar o rescaldo da festa“Mais que uma retomada do carnaval, o que estamos fazendo é uma inovação”, afirmou Sandra Leão, 25 anos, estudante de música e criadora do BlocoloridoEla hospedava em casa amigos cariocas e paulistas
“BH está a pulsar”, resumiu o restaurador português David Arranhado, de 28 anosEle mora na capital há quatro anos com a mulher, a estudante de arquitetura Juliana Valente, de 24, mas, nesse período, costumava fugir para Olinda ou cidades do interior de MinasEste ano, decidiu ficar em BH e não se arrependeu“A festa aqui é mais espontânea, não vai na onda”, compara o portuguêsE a mulher completa: “Por ser uma manifestação nova, há mais liberdade para criar”
Ocupando espaços
Sarah Assis, Janaína macruz e Guto borges
Organizadores de Blocos
Em 2013, ele diz que integrou a equipe de “uns 15 blocos”, como o Tico-Tico Serra Copo e o Mamá na VacaOs jovens à frente desse movimento exibem traços em comumCostumam ter entre 20 e 30 anos, são de classe média e universitários, quando já não têm diplomaE muitos são produtores culturais ou artistasA maioria ajuda a “puxar” mais de um bloco“Os amigos ajudam uns aos outros, é tudo coletivoO que precisar, a gente apoia”, diz a produtora cultural Janaína Macruz, de 30, co-organizadora do Alcova Libertina e do Manjericão“Em 2012, a gente sacou que BH tinha virado uma cidade de carnaval, mas não esperava que a festa fosse crescer tanto”, dizDesde 2010, os blocos se multiplicaramEm 2012, cerca de 40 desfilaram em BH A divulgação é feita no boca a boca e na internet, pelas redes sociais, como Facebook e Twitter“O novo carnaval de BH surgiu de forma espontânea, com amigos que se juntaram para criar os blocos”, avalia a coorganizadora do Bloco Tico -Twico do Serra Copo, Sarah Assis(Tiago de Holanda)
Balanço da festa
O QUE DEU CERTO
Animação
Convivência pacífica
Grande diversidade de blocos
O QUE DEU ERRADO
Número insuficiente de banheiros químicos
Falta de lixeiras
lPlano de trânsito não atendeu a demanda