Jornal Estado de Minas

Automóveis, lixo e fungo põem árvores em risco em BH

Prefeitura admite não ter achado solução para praga que atinge árvores na Bernardo Monteiro

Gustavo Werneck
Uma das situações mais críticas ocorre na Avenida Bernardo Monteiro - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press

Atacados por pragas e doenças, ameaçados pelos veículos e transformados em depósito de lixo ou toca de ratosOs “gigantes verdes” de Belo Horizonte, alguns centenários, sofrem reveses diariamenteUma das situações mais críticas ocorre na Avenida Bernardo Monteiro, na região hospitalar, no Bairro Santa EfigêniaOs 53 fícus (Ficus microcarpa L.) estão infestados por um fungo (Lasiodiplodia theobromae) e pela mosca-branca-dos-fícus (Singhiella sp.), que secam o tronco e deixam os galhos sem folhas


“O estado delas piora cada vez maisAinda não encontramos uma solução para o problema”, admite a engenheira civil Joseane Lopes, gerente de Áreas Verdes e Arborização Urbana da Secretaria Municipal de Meio Ambiente“Por enquanto, não oferecem riscos de queda mas, se isso acontecer, terão que ser retiradas”, afirma a gerente

Na esquina das ruas Niquelina e Cardoso, no Bairro Santa Efigênia, o problema é outroUm fícus frondoso, com cerca de 15m de altura e 5m de diâmetro, avança sobre a ruaO proprietário de estacionamento Rômulo Artur Pereira conta que já pediu providências à prefeitura para fazer a poda de galhos e raízesA Administração Regional Leste informou que hoje será feita uma vistoria no local

Na Avenida Bernardo Monteiro, um conjunto de três fícus mais parece um guarda-roupa abandonadoEntre as raízes, há pares de tênis, calças velhas e lixo.

Inseto O ataque da mosca-branca-dos-fícus às árvores da Bernardo Monteiro é letalJoseane Lopes explica que o inseto suga a seiva da árvore, injeta um veneno e, como consequência, os ramos vão secando e a árvore morre“Isso ocorre em outras capitais brasileirasSão Paulo perdeu grande parte da arborização urbana devido à mosca”, afirma a engenheiraA prefeitura faz vários estudos, testa produtos, mas não tem respostas nem forma de parar o processo de degradaçãoJoseane lembra que são espécimes arbóreos centenários sob proteção do município.

Em maio de 2011, a Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana da Câmara Municipal esteve na avenida para verificar a situação“Pedimos uma avaliação à Secretaria de Meio Ambiente, mas até hoje não recebemos um parecer”, diz o vereador Leonardo Mattos (PV)“Se for necessário cortá-las, será uma grande perda para a capital”, lamentaEle diz que outras árvores estão em situação crítica na cidade, demandando fiscalização urgente


Na tarde de ontem, era possível ver galhos caídos na avenida“Passo aqui há 30 anos e observo sempre o aspectoA copa está diminuindo”, disse, com ar de tristeza, a professora da Faculdade de Medicina Yola Gurgel“Os fícus são muito bonitos, um patrimônio da cidade”, comentou a professoraO funcionário público federal Eustáquio Trajano também se impressionou com os fungos, parecidos com cogumelos brancos“As árvores estão condenadasO perigo é um galho cair e machucar alguém”, alertou.

MEMÓRIA: Derrubada na Afonso Pena
Belo Horizonte tem um histórico traumático de corte de árvoresNa madrugada de 20 de novembro de 1963, foram retirados pela prefeitura, na base do serrote, 350 fícus que, desde do início do século, embelezavam a Avenida Afonso Pena, na Região Centro-SulO motivo oficial da derrubada do corredor verde era a proliferação dos insetos Gynaikothrips ficorum Marchal 1908, os tripes, conhecidos popularmente como “amintinhas”, numa referência ao então prefeito de BH, Amintas de Barros (gestão de 21/1/1959 a 31/1/1963)Ao passar sob as árvores, a população se queixava e se irritava, pois os bichinhos caíam nos olhos e nas roupasMas em outra versão o motivo era alargar a Afonso Pena e dar lugar aos automóveis que chegavam às ruas com força total.