Jornal Estado de Minas

Perícia vai apontar causas do desmoronamento no Bairro São Bento

Condôminos dos três prédios do São Bento e Vila Paris contratam empresa para apurar os motivos do desmoronamento. Defesa Civil monitora outras 21 áreas de risco na capital

Flávia Ayer e Guilherme Paranaiba
- Foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press

 

Uma empresa particular vai fazer a perícia técnica para indicar as causas do desabamento de um muro de contenção no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul de Belo HorizonteA estrutura se rompeu na tarde de ontem e deixou pelo menos 39 famílias desabrigadasPor recomendação da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), os condôminos dos três prédios envolvidos no desastre contrataram empresa de engenharia para levantar as razões do rompimento da estrutura e as soluções que deverão ser tomadasDe acordo com o coordenador da Comdec, o coronel Alexandre Lucas, ainda não há como apontar de quem é a responsabilidade.

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Este é o quarto episódio, em pouco mais de um ano, em que a combinação de chuva e deslizamentos deixa sem casa moradores da cidade formal, fora de vilas e favelas (leia memória abaixo)Além do desmoronamento da encosta no Bairro São Bento, outras 21 áreas de riscos são monitoradas pela Comdec  em BH“Como se trata de área particular, os moradores têm de contratar um empresa para verificar a movimentação de terra e fazer um laudoEm termos de prevenção, a Defesa Civil já fez tudo que poderia, isolando a área e retirando os moradores”, comenta Lucas.

O muro de quase 15 metros fazia a contenção da quadra de esportes do Edifício Morigerati, no número 77 da Rua Abadessa Gertrudes Prado, no Bairro Vila ParisÀs 17h, a estrutura caiu sobre a parte de trás dos edifícios São Tomás de Aquino e Bela Morada, respectivamente nos números 70 e 120 da Avenida Professor Cândido Holanda, já no Bairro São Bento, na Região Centro-SulNa tarde de ontem, logo depois do desabamento, peritos fotografavam os prédios para verificar a evolução do risco e os próximos passos.

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Síndico do Edifício São Tomás de Aquino, Mirabeau Cardoso, de 82 anos, um dos moradores mais antigos da região, disse que os síndicos dos três prédios se reuniram e aguardariam o laudo da empresa contratada“Às 8h, vimos uma rachadura grande no muro e a quadra de esportes do prédio de cima rachou todaFoi quando chamamos a Defesa Civil”, afirma

Segundo ele, apenas um vez, há 20 anos, houve problemas de desabamentos de muro de contençãoMorador do mesmo prédio há dois anos, o advogado Luiz Felipe Aranha, já havia notado água vazando por uma fresta“Como não sou da área, nunca imaginei que poderia acontecer isso”, conta, enquanto fazia a mudança para a casa da sogra.


>> Prédios precisam de manutenção


O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape/MG), Clemenceau Chiabi Saliba Júnior, ainda não se inteirou da situação dos prédios do Bairro São Bento, mas avalia os últimos acontecimentos em Belo Horizonte relacionados a desabamentos, como os casos dos bairros Buritis, Caiçara e Floresta“Podemos listar três tipos de problemas graves que podem gerar o riscoUm deles é o solo, já que o filito está presente nos terrenos de alguns bairros, como Buritis, Santa Lúcia, São Bento, Serra, Pompeia, até chegar a SabaráÉ o que chamamos de primeiro terço da Serra do Curral”, afirma ChiabiEle explica que o material suporta bem o peso, mas a presença constante da água acaba contribuindo para que o filito escorregue com maior facilidade.

O especialista cita ainda os constantes transtornos gerados por obras vizinhas, quando uma falha na execução complica a situação de outros imóveisOutro problema é a falta de manutenção, segundo ele mais comum em prédios do que em casas“Da mesma forma que levamos o carro com frequência para a oficina ou do mesmo jeito que vamos ao médico, o imóvel também carece de manutençãoPorém, em prédios isso é mais complicado, pois são vários donos de apartamentos e isso dificulta o trabalho
É importante ressaltar que, se combinados, esses três fatores potencializam o risco”, conclui o engenheiro.

Como ficou?


CASAS NA FLORESTA


Famílias ainda desabrigadas

De acordo com o coordenador municipal da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, na quarta-feira vence o prazo concedido à Associação Pró-Construção 3, da construtora Resende Tavares, para apresentar o laudo com as causas do desabamento de um barranco que, no dia 21, provocou a destruição parcial de três casas e danificou a estrutura de outras seis, na Rua Itaúna, no Bairro Floresta, Região Leste de BHAs famílias prejudicadas esperam o ressarcimento dos prejuízosDesde o acidente, o relações-públicas Bruno Soares e mãe dele, a aposentada Mathilde Soares, que moravam em uma das casas interditadas, ainda não acharam novo endereçoO rapaz, de 27 anos, chegou a se hospedar em dois locais com amigosJá a mãe, de 65, foi acolhida na casa de parentesDesde sexta-feira, os dois estão em um hotel no Centro“Cansamos de pular de um lugar para o outroEstou pagando as diárias, mas a construtora prometeu me ressarcir”, conta Bruno“De noite, não consigo dormir: cama diferente, lugar diferente, muita preocupação”, explicaÀs 15h de hoje, os dois devem se reunir com representantes da empresa, para negociar a reparação dos danosPara a tarde de amanhã está marcada outra reunião, desta vez com a família de Elizabeth dos Santos Chaves, de 62, que morava com o marido e um filho no imóvel de número 102, também interditadoDesde então, os três estão alojados no apartamento de uma sobrinha de Elizabeth, no Bairro Prado, Região Oeste de BH“A rotina mudou muitoLá em casa, eu fazia a comida, arrumava tudoNa casa de outra pessoa, você não tem a mesma liberdade”, constata“Estamos correndo atrás de uma casa, mas é complicadoNão dá para conseguir uma de uma hora para outraParece que a vida fica interrompida por um tempo”, diz.

Memória

Sequência de quedas em prédios de BH


No início de 2009, durante obras de expansão do Shopping Plaza, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul da capital, surgiram trincas e rachaduras em prédios vizinhosEm julho, o Edifício Ágata foi esvaziado às pressas depois de problemas estruturaisUm muro de contenção foi construído pela empresa responsável pelas obras do shopping, mas a estrutura desabou em abril de 2010, colocando em risco mais quatro prédios: Lenise, Mônica, Érika e Ouro Preto 2Cerca de 30 famílias deixaram os prédios e brigam pela reparação dos danos na JustiçaEm janeiro do ano passado, dois edifícios desabaram na Rua Passa Quatro, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BHUm homem morreu e uma mulher foi resgatada com ferimentosA tragédia só não foi maior porque militares conseguiram retirar 11 pessoas antes do desmoronamentoUma semana depois, outro edifício foi abaixo em BHDessa vez, o Vale dos Buritis, prédio de três andares no Bairro Buritis, na Região Oeste, desabou dois meses depois de ter sido evacuado por risco de colapso na estruturaEle caiu um dia após a Justiça exigir que a empresa que fez a obra o demolisseTemendo o pior, a prefeitura acabou demolindo um dos blocos do prédio vizinho Art de Vivre, também condenado pela Defesa CivilHoje, o outro bloco do Art de Vivre ainda está de pé e a prefeitura faz obras de contenção no local