Jornal Estado de Minas

Sem acordo, morador teme drama em casas interditadas no Floresta

Valquiria Lopes
Obra na Rua Jacuí está interditada até a construtora apresentar laudo à prefeitura - Foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press
Famílias afetadas pelo desmoronamento de terra provocado por uma obra na Rua Jacuí, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte, temem ser personagens da mesma novela vivida pelas vítimas dos desabamentos nos bairros Buritis, Anchieta e CaiçaraDas tragédias que deixaram marcas na estrutura das residências e até mesmo levaram prédios inteiros ao chão, restam não só histórias tristes, mas também disputas judiciais que se arrastam sem soluçãoOntem, representantes do consórcio responsável pelas obras na Floresta se reuniram com os moradores das oito casas atingidasApenas a situação de um casal, que morava de aluguel, foi acertada.

Novas reuniões e vistoriais individuais estão marcadas a partir de hoje na tentativa de um acordo entre as partes, mas já há possibilidade de que o caso vá parar na JustiçaCerca de 20 pessoas participaram do encontro, entre elas os proprietários dos imóveis, moradores de aluguel e representantes da construtoraUm perito contratado pela empresa vai vistoriar hoje os imóveis e o local da obraTambém está prevista reunião com os moradores e representantes da associação comunitáriaProcurados ontem, dirigentes da empresa não se manifestaram.

O barranco do muro de arrimo que fica nos fundos da obra cedeu na madrugada de segunda-feira, derrubando três casas e deixando cinco interditadas, todas localizadas na Rua Itaúna, aos fundos da Rua JacuíO local foi vistoriado na semana passada pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), que na ocasião descartou risco de desabamento, mas orientou moradores a monitorar as trincas e acionar a Defesa Civil em caso de chuva forteNo dia do desabamento, os moradores foram acordados pelos cães e saíram correndo sem levar nadaUm deles foi o estudante de engenharia André de Almeida Nogueira Milagres, de 30 anos, e a mulher, a analista de suprimentos Dalila de Andrade Milagres, de 31, que ontem contabilizavam os prejuízos com representantes do consórcio
“Não estamos nem mesmo na fase de fazer acordoListamos nossos bens e colocamos preçoVamos também nos reunir com nosso advogado, porque acredito que vamos ter de resolver isso na Justiça”, disse André.

O morador da casa de número 112 da Rua Itaúna, David Rodrigues Tanure, também não quis esperarJá contratou um advogado e também um perito para avaliar os danos estruturais na área de lazer causados pela escavação da obra“Durante a reunião, tive a impressão que os representantes do consórcio estão interessados em resolver o problema, até mesmo porque não podem parar a obra”, afirmouO filho dele, o estudante Mateus Gomes Tanure, de 18, disse que as trincas apareceram há mais tempo: “Na semana passada, chamamos a Defesa Civil, mas não havia riscos de desabamentoAs trincas apareceram há um mês e aumentaram na segunda-feira”.

Prazos

Termina amanhã o prazo para o consórcio responsável pela obra apresentar à prefeitura laudo técnico com informações sobre as condições do terrenoO documento deve informar se há risco de desabamento e atestar a estabilidade do soloO descumprimento do prazo gera multa de R$ 9.938Até segunda-feira, a construtora receberá outra notificação para reparação de danos e estabilização do terreno
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) informou que está em contato com os órgãos competentes e profissionais e prevê que a fase de levantamento de dados e instauração de um processo administrativo levará 10 diasO trabalho, no entanto, não é uma perícia técnica da obra, mas uma verificação do exercício profissional conforme prevê a legislação.