O barulho assustador da correnteza do Ribeirão Arrudas no fim da canalização de concreto e os alertas de inundação e desabamento da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) não foram suficientes para convencer a dona de casa Sandra Izabel Florentina, de 35 anos, a deixar seu barraco, na Vila da ÁreaNa comunidade da Região Leste de BH, no fim da Avenida dos Andradas, 13 famílias que viviam à beira do Arrudas já tinham ido embora para casas de parentes ou para o abrigo municipal, mas ela relutava“É difícil sair da nossa casaAinda mais porque tenho dois meninos pequenos, de 6 e 4 anosA gente se acostuma com o perigo”, disse
Foi depois de estrondo seguido de tremor de terra que a vida da família de Sandra mudou, há duas semanasAs rochas que sustentavam a casa se partiram em blocos gigantes que rolaram ribeirão abaixo, deixando a moradia dependuradaEla e os meninos escaparam por pouco largando às pressas a casa cheia de trincas
O drama de Sandra não é um caso isoladoSão 56 famílias na lista da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) que precisam ser removidasO Estado de Minas acompanhou a situação de quem não quer sair e constatou que as áreas de risco continuam a ser invadidas, apesar do perigo.
A estimativa da Urbel é de que cerca de 2,5 mil moradias na capital estejam em áreas de risco geológico, a maioria na Regional Centro-Sul
INVASÃO SEM MEDO O perigo e os casos de desabamento não intimidam todo mundoEntre as favelas Vila Cafezal e Vila São Lucas, uma área que pertencia a uma antiga construtora vem sendo sistematicamente invadida há pelo menos 10 anos
“A Comdec informou que minha casa estava em risco iminente de desabamento, mas isso não é verdadeEstou trabalhando no morro para melhorar a segurança da casaNão traria minha família para um local que não acho seguroAlém do mais, essa casa tem dinheiro, que economizei desde os 15 anos de idade”, contaA última obra estrutural feita pelo pedreiro foi a construção de uma canaleta de cimento, pedras e sacos de entulho com 40 metros de extensãoA intervenção serve para escoar a água da chuva que poderia se acumular no topo do barranco sobre o qual ele construiu sua casa.
Descendo pela trilha estreita, por entre os barracos, chega-se às casas mais expostas no fundo do valeEntre os moradores está o carpinteiro Lucivaldo do Nascimento, de 23, que ajuda os vizinhos numa criação de com mais de cem porcos“A gente alimenta os animais com restos de comida de sacolões do Bairro Santa Efigênia (Região Leste)Por dia precisamos fazer seis viagens com a carroça puxada por cavalo ou burro”, disse Lucivaldo.
Os moradores da área admitem que invadiram o terreno“Precisamos de lugar para morarNão adianta a prefeitura vir aqui tirar a gente, porque vem outro para o mesmo lugar depois e faz outra casaSe me tirarem faço tudo de novo no mesmo lugar”, afirma MaurícioA prefeitura não pode remover pessoas que vivem em áreas de risco, a não ser que suas habitações estejam condenadas pela ComdecSegundo a Urbel, no período da estiagem foram feitas 72 obras em áreas de risco, que beneficiaram 250 famílias ameaçadas.
PREVISÃO As chuvas típicas de janeiro, com longa duração e intensidade constante, se tornam mais presentes a partir desta semana, de acordo com a previsão do 5º Distrito de MeteorologiaAlerta para as áreas de risco, uma vez que, segundo geólogos, esse tipo de precipitação é que encharca o solo e o torna mais suscetível a desabamentos