Jornal Estado de Minas

Rede de vizinhos protegidos: o socorro que vem do lado na capital mineira

Mais de 7 mil famílias se tornam `câmeras vivas` em ruas e quarteirões da capital na luta contra a violência e conseguem salvar vizinhos, como uma vítima de assalto na Pampulha

  Casas de rua do Bairro Santa Amélia ostentam placas de um grupo quase invisível de vigilância, atento a todas as movimentações suspeitas - Foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press


O olhar atento do vizinho conseguiu salvar um empresário de 41 anos de um assalto na noite de terça-feira, no Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, em Belo HorizonteEle foi abordado por três bandidos armados quando saía de carro, mas o morador da frente percebeu a ação e acionou a Polícia MilitarTrês minutos depois, o quarteirão foi cercado e os suspeitos presosEm outra rua do Santa Amélia, uma mulher foi abordada recentemente por dois homens armados numa moto, mas uma vizinha começou a apitar, dando sinal de perigo para toda a vizinhança, que promoveu um apitaço, assustando os ladrões, que fugiram assustadosE no Bairro Fernão Dias, na Região Nordeste, quatro homens foram presos no momento em que assaltavam uma casa, graças à rapida denúncia de um vizinho

Ações como essas, em que as pessoas se ajudam mutuamente no combate à criminalidade, vêm garantindo respostas rápidas da polícia no socorro às vítimas, com atuação direta da Patrulha do Bairro, acionada pelos moradores por celular, e ampliando cada vez mais a adesão de ruas, quarteirões e até bairros inteiros ao programa Rede de Vizinhos Protegidos, desenvolvido pela Polícia MilitarAs pessoas se tornam uma espécie de “câmera viva” e, com a polícia, adotam estratégias eficazes de proteção

O projeto foi criado em 2004 e em setembro de 2012 as redes chegaram a 480, com estimativa de que já tenham passado hoje de 500 em todas as regiões da cidade, com a participação de mais de 7 mil famílias“Houve um crescimento de 25% da rede desde janeiro do ano passado, principalmente depois da descentralização dos batalhões e companhias da PM em 99 setores de BH, com o objetivo de aproximar mais a polícia da comunidade”, informou ontem a tenente Débora Santos, do Comando de Policiamento da Capital.

Vigilância

O empresário atacado no Santa Amélia atribui à rede de vizinhos a preservação de sua vidaSegundo ele, os ladrões o ameaçaram de morte, pois acharam pouco os R$ 1,5 mil que estavam em seu carro e o agrediram com coronhada na cabeça“Pensei que eles iriam realmente me matar, mas felizmente escutei o barulho da viatura da PM em frente à casa e os ladrões fugiram pelo muro dos fundos”, disse.

O empresário conta que conhece todos os vizinhos, inclusive os dos fundos, e que tem o telefone de contato deles

“Quando viajo, aviso o vizinho ao lado, que tem a chave da minha casa e recolhe as correspondências acumuladas para o ladrão não perceber que a casa está vaziaSe houver qualquer movimento suspeito na rua ou na casa do vizinho, a gente telefona para os policiais que atendem o bairro e eles chegam rapidinho”, disse o empresárioSegundo ele, a PM é chamada até mesmo quando casais namoram no escuro e quando há veículos parados por muito tempo na rua.

Uma empresária de 33 anos conta que toda casa da sua rua tem um apito“A gente participa de reuniões com a PM e somos orientados a apitar diante de qualquer suspeitaProcuramos conhecer mais os vizinhos, mas sem invadir a privacidade das pessoas”, disse a moradora, mostrando a lista dos vizinhos e telefones de cada um.

Publicitário Eduardo Condé diz que grupo acabou com arrombamentos - Foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press A rede de vizinhos das ruas Olinda Ferreira Lopes e Monsuetto Filizzola, no Santa Amélia, é integrada por 20 famíliasSegundo o seu coordenador, o publicitário Eduardo Ângelo Condé, há códigos secretos entre eles“Se você telefona para o vizinho e ele fala determinadas coisas, você logo sabe que está ocorrendo algo e chama a políciaAté o jeito de apitar é combinado”, disseNormalmente, segundo ele, quando alguém apita todo mundo começa a apitar também e vai para as ruas“Criamos a nossa rede em fevereiro de 2011 e os roubos e arrombamentos de casas acabaram”, disse o publicitário.

Nas primeiras reuniões com a PM, segundo Eduardo, a sensação das pessoas era de medo
“Depois, a gente passou a se conhecer, conversar mais com os vizinhosPassamos a ter uma relação de confiança, mantendo uma relação típica de cidade do interior”, contaCada casa que participa da rede recebe uma placa com o aviso: “Residência monitoradaRede de Vizinhos Protegidos”, com o número de telefone 181 para emergências.


`Se não fosse meu vizinho, eu estava morto`
- Foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press WFC., 41 ANOS, EMPRESÁRIO ASSALTADO

Rendido na noite de terça-feira na porta de casa, no Bairro Santa Amélia, na Pampulha, o empresário WFCrevela que foi ameaçado de morte por um dos três assaltantes e que, graças a ação de um vizinho, foi salvo pela polícia


Quanto tempo durou a ação dos ladrões?


Foi tudo muito rápido, cerca de três minutosUm deles estava armado e mandou que voltasse com o carro para a garagem e apareceram mais dois cúmplicesPegaram o dinheiro que estava no carro, minha aliança e o relógio e dois subiram para o andar superior da casa

Você foi agredido?


O assaltante que ficou comigo no sofá achou o dinheiro pouco e me deu uma coronhada na cabeça, dizendo que, se não arrumasse mais dinheiro, ele iria me matarNão demorou muito e escutamos a freada do carro da polícia chegando.


Qual foi a sensação com a chegada da PM?


Pensei que eles iam me pegar como refémEu disse que pela frente eles não teriam como sair, só pulando o muro dos fundos, mas a polícia cercou o quarteirão, eles foram perseguidos e presosSe não fosse meu vizinho, eu estava morto.