Jornal Estado de Minas

Primeiro temporal em BH traz os problemas de sempre

Vias inundadas, carros e motos arrastados, falta de energia, prejuízos e transtornos. Bastou uma tempestade para que a capital sofresse mais uma vez com um drama sem fim

Valquiria Lopes, Gustavo Werneck e Sandra Kiefer
Vergonha - Lixo acumulado em bueiro na Rua Ituiutaba, no Bairro Prado, virou rotina em BH - Foto: ramon lisboa/EM/D. A PRESS
A primeira tempestade do ano, que correspondeu a 16% do previsto para janeiro, serviu como prévia para o que pode ocorrer no  mês em pontos críticos de BHMais uma vez, a realidade de quem sofreu com prejuízos e transtornos foi de drama sem fim, como na Avenida Francisco Sá, palco frequente de inundação de lojas, carros e motos arrastados e pedestres correndo riscos de serem levados pela correntezaAs causas foram as de sempre: falta de escoamento da água e bueiros entupidos.


Em poucos minutos a chuva causou estragos no Prado, na Região OesteNa Rua Jaceguai, 10 motos e dois carros estacionados foram arrastados pela enxurrada e só pararam num grande bueiro na Rua Ituiutaba, um quarteirão adianteO motoboy Alex Ferreira da Silva, de 42 anos, tinha 20 entregas de produtos farmacêuticos para fazer, mas apenas uma foi salvaO restante foi embora com a correntezaA moto dele ficou danificada“O guidom entortou e o velocímetro estragouTive de chamar o reboque, porque a moto não tem condições de rodar”, disse

Os motociclistas Marcos Barcelos, de 36, e Lucimar Fernando Vieira, de 35, tiveram prejuízos também“O tanque da minha moto ficou arranhado

Devo gastar uns R$ 2 mil para arrumar”, contou LucimarSegundo Marcos, não havia como salvar os veículos: “Foi perigoso demais.”

 No cruzamento das avenidas Amazonas e Francisco Sá, a correnteza invadiu estabelecimentos comerciais e assustou até quem está acostumado com os alagamentosDe acordo com o encarregado de pátio do lava a jato da concessionária Roma Fiat, Luis Gustavo Barros, a água subiu em menos de 10 minutos e causou confusão no trânsito e medo em pedestres“Por causa do alagamento, os motoristas voltaram na contramãoDois carros bateram e motoboys começaram a andar sobre as calçadas”, afirmou

“É sempre a mesma coisaBasta uma chuva forte para a água subirAlém do perigo dos carros e de pessoas serem arrastados, há o desconforto da água entrando na lojaAlguma coisa precisa ser feita”, afirmou a gerente de uma oficina mecânica, Ariane Simão Demétrio
No cruzamento da Francisco Sá com Nepomuceno, um motorista deixou o Celta e tentou atravessar a avenida
Ele quase foi arrastado, mas acabou salvo por várias pessoas com uma corda.

Prejuízos e irritação também para comerciantes do Bairro Barro Preto, no Centro-SulCom a falta de energia elétrica, lojistas dispensaram funcionários e fecharam as portas por volta das 17h, duas horas antes do habitualPara atender clientes, eles usaram lanternas celulares, lâmpadas recarregáveis de LED e geradores“Por sorte, estou com o notebook, que contém o movimento da casa, pois o caixa não está funcionandoAs máquinas de cartões de débito e crédito estão na mesma situação”, informou Jefferson Martins Guerra, dono de uma lanchonete na Rua Goitacazes.

“Houve perda de mercadorias, devido ao descongelamento dos frios, e sumiço de clientesAvisei a Cemig, mas ainda não resolveram o problema”, disse, por volta das 17h30Numa loja de aviamentos, o gerente Wellington Luiz Pereira usou o visor do celular para vender um carretel de linha para o eletricista Márcio Sena, que comprava o material para a mulher, que é costureiraMárcio levou uma pequena amostra, mas, no escuro, ficou difícil acertar o tom com a cartela de cores
    
Na Rua Araguari, empregados de uma estamparia usaram lâmpadas de LEDPerto do computador, Wesley Biannucci contou que a falta de luz começou às 16h30“Dá muita amolação, temos de ficar sem os computadores”, afirmouJá numa loja de equipamentos na esquina das ruas Tupis e Araguari, o jeito foi ligar o geradorSegundo funcionários, há um transformador na região que sempre dá problemas nesta épocaAté as 19h, segundo a Cemig, o problema não havia sido identificado no Barro Preto, que continuava sem luzHouve falta de energia também no Horto, na Região Leste, e Cidade Nova e União, na Nordeste

 

Bueiro entupido

Atacante ilhado - O jogador Jô, do Atlético, foi surpreendido pelo temporal quando seguia para a reapresentação na Cidade do Galo, em Vespasiano, na Grande BH. Por volta das 15h30, a BMW dele ficou num alagamento perto do centro de treinamento e ele teve de abandonar o veículo - Foto: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS Um bueiro entupido de lixo parou o Centro da cidade por mais de uma horaPrimeiro, provocou alagamento, que, por sua vez, enguiçou dois carrosMais à frente, houve engarrafamento de mais de quatro quilômetrosSegundo o agente da BHTrans Jackson Lima, o problema começou por volta das 17h, quando o temporal alagou a pista na altura do viaduto com a Avenida Silva Lobo, no sentido bairroCom o “piscinão” que se formou, ao tentar passar dentro da água, um caminhão Hyundai ficou parado, o que acabou acontecendo também com um Corsa Sedan.

Diante do alerta da BHTrans, foram chamados o reboque e um funcionário da área da limpeza da Regional NoroesteA ação foi rápidaEle retirou do bueiro garrafas PET, latas de refrigerante, papelão, calotas de carros e até uma placa de veículoTerminada a tarefa, a enorme poça escoou em exatos oito minutos“Foi lixo que entupiu a boca de loboLixo não, falta de educação do povo”, protestou o pedreiro Sidney Pereira, de 41 anos, condutor do Corsa parado pelas águas, enquanto aguardava a chegava do guinchoHouve engarrafamento de quatro quilômetros, que se estende do viaduto da Silva Lobo até o Centro da cidade.

Houve transtornos também na Avenida Cristiano Machado, que teve trechos alagados por causa de bueiros entupidosHouve queda de árvores na Avenida Bernardo Vasconcelos, no Bairro Cachoeirinha.

Previsão

De acordo com a Defesa Civl de BH, choveu mais na Região Oeste (com índice pluviométrico de 69,4 milímetros), seguida da Leste (58), Nordeste (57,2), Pampulha (54), Noroeste (42,6), Venda Nova (37,4), Centro-Sul (32,4) e Barreiro (24,6), entre as 15 e as 19hNa Norte não houve mediçãoSomando as oito regiões, a média foi de 46,95mmIsso equivale a 16% da média histórica para janeiro, que é de 292mm, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia

Segundo Adelmo Correia, do Centro de Climatologia PUC Minas Tempo Clima, a tempestade foi causada pela instabilidade climática ocasionada com grande circulação de ventos e altas temperaturasSó na Pampulha, a temperatura chegou a 32 grausPara os próximos dias, no entanto, uma frente fria que está sobre a Região Sul do país e se aproxima do litoral do Sudeste e poderá causar chuvas frequentes(Colaborou Carolina Mansur)