Jornal Estado de Minas

Transição à flor da pele

Fase entre infância e juventude é marcada por mudanças no corpo e no comportamento

Em muitos sentidos, a adolescência é uma espécie de novo nascimento. Na transição da infância para a fase adulta, o turbilhão provocado pelas transformações pode parecer um trem descarrilado, mas é um processo de amadurecimento físico e emocional importante para a construção do adulto. Alguns temas ganham relevância ainda maior nesse processo. Pode ser a primeira consulta com um médico especialista, conversas sobre distúrbios alimentares e abuso de drogas, brigas com o espelho por causa das espinhas e horas de estudos desperdiçadas nas redes sociais.


Lidar com a nova imagem e com as transformações que ocorrem rápida e desordenadamente na adolescência significa entender o ganho de peso e altura, a redistribuição da massa corporal, o início do funcionamento do sistema reprodutor e a alteração do sistema endócrino, entre outras mudanças físicas importantes. No lado psicológico, inicia-se um processo de desligamento da infância e da conquista da autonomia, o que inclui assumir suas próprias decisões e arcar com as consequências – algo novo para quem acabou de sair da infância. Ninguém precisou dizer a Ludmila Silva Horta, de 14 anos, que o tempo excessivo gasto no Facebook e no celular contribuiu para as recuperações que tomou na escola. “Sei que prejudiquei meus estudos e tenho que aprender a me policiar, sem que meus pais tenham que me cobrar isso. Já deveria ter essa maturidade”, reconhece.

Na maior parte dos casos, tudo isso é mesmo uma fase.

Em outros, é preciso um olhar atento para que o socorro chegue a tempo. Um modelo de atendimento na rede pública de saúde e que pode ser replicado em hospitais Brasil afora, não apenas universitários, mas que também atendam pelo SUS – para oferecer uma cobertura universal e atender o maior número de pessoas –, é o do Núcleo de Saúde do Adolescente do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A atenção mais abrangente aos jovens é a proposta do trabalho desenvolvido desde 1993, norteado por três eixos principais: a prática interdisciplinar; o ensino, pesquisa e extensão; e o investimento na criação de novos modelos de atenção à saúde.

 

De acordo com a pediatra Solange Melo Miranda, uma das fundadoras e coordenadoras do núcleo, são poucos os locais que atendem esse grupo etário levando em conta suas particularidades. “Considerando a maior vulnerabilidade dos jovens a agravos físicos, psíquicos e sociais, temos investido na criação de espaços especiais de atenção à sua saúde, principalmente por meio dos grupos de adolescentes.” No Núcleo, são realizadas atividades assistenciais que incluem atendimentos individuais, com marcação de consultas por meio do acolhimento realizado no Ambulatório São Vicente do HC, e em grupos, em que os jovens podem construir um conhecimento sobre questões próprias da adolescência e outras mais amplas, além de compartilhar dúvidas, conflitos e medos geralmente comuns aos participantes.

Às sextas-feiras, quando os atendimentos individuais são realizados, médicos, estudantes de medicina, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e outros especialistas do núcleo se reúnem em uma sala do 2º andar do ambulatório, a fim de discutir os casos do dia. São histórias que incluem obesidade, tabagismo, uso de bebidas alcoólicas, problemas escolares, depressão e conflitos familiares, entre outros.

Questões emocionais Coordenada pela pediatra Cristiane de Freitas Cunha, doutora em saúde da criança e do adolescente, a equipe do HC/UFMG esmiuça as informações fornecidas pelo adolescente, pelos familiares, pelos especialistas consultados anteriormente e pelos exames. “Discutimos muito cada caso para evitar que tenha vários encaminhamentos. Recebemos pacientes principalmente do Hospital das Clínicas, mas também temos uma procura espontânea de pais e adolescentes e encaminhamentos de escolas.

As demandas mais frequentes são em relação a doenças crônicas, distúrbios alimentares e questões emocionais, desde dificuldades na escola até impasses com a própria adolescência”, explica Cristiane, que afirma que obesidade, bulimia e anorexia estão entre as principais queixas.

 

FIQUE POR DENTRO

As inscrições para participar nos atendimentos em grupo, no próximo semestre, do Núcleo de Saúde do Adolescente do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão abertas.

Não é necessário que o adolescente esteja em acompanhamento no núcleo para poder frequentar os grupos. Mais informações pelos telefones (31) 3409-9541 e 3409-9274 e pelo site www.hc.ufmg.br/saudedoadolescente

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