As mulheres de Minas ficam mais tempo nos bancos de salas de aula, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2012. De acordo com a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem, elas dedicam 15 meses a mais à formação intelectual, até numa tentativa de conseguir melhor remuneração. Os números mostram que as mulheres estudam em média 8,9 anos, enquanto a média para homens é de 7,6 anos. Os dados, porém, são inferiores ao total do país, que registra 7,9 anos para homens e 9,2 para mulheres.
“Meu trabalho é acadêmico, ganho para produzir conhecimento e tinha um objetivo claro de que ainda não era hora de dar uma pausa na carreira, quando Lucas nasceu. Tirei a licença e voltei quando ele ainda mamava no peito.
Para Luana, bióloga por formação que ainda fez mestrado e doutorado, o marido ganha mais porque a profissão dele é de uma área do conhecimento mais valorizada. “Acredito que uma engenheira no cargo dele ganharia a mesma coisa.” Segundo o IBGE, há diferenças ainda para raça/cor, uma vez que os ganhos de pretos e pardos equivalem a 66,7% do rendimento dos brancos.
O estudo do IBGE também aponta a maior inserção dos jovens na universidade e no mercado de trabalho. Em Minas, a maioria das pessoas cursam a educação fundamental (91,2%) e o ensino médio (88,1%) na rede pública, situação que se inverte no ensino superior, em que 75,1% dos alunos estudam em estabelecimentos privados. Segundo a demógrafa Luciene Longo, os estudantes vindos de escolas públicas não têm nível de aprendizado suficiente para conseguir vaga em universidade pública.
“Já em relação à frequência escolar, embora Minas tenha uma taxa bruta inferior à do Brasil para a população de 6 a 14 anos, com idades em suas séries correspondentes (taxa líquida), o estado apresenta números ligeiramente maiores do que a média nacional”, diz Luciene.
O "poder" da creche
A estudante Anna Caroline Leandro Costa, de 27, cursou a educação básica em escola pública e foi aprovada no vestibular para fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), mas precisou interromper os estudos no terceiro período porque não conseguiu arcar com as despesas. Anna tentou, então, a UFMG, mas não foi aprovada. “Aí, engravidei e optei por parar de estudar porque meu filho ficava sempre doente na creche e não consegui um turno nas faculdades que conciliasse com o horário dele (na creche). Também trabalhava, mas decidi ficar em casa e cuidar do Lucas.”
Segundo o estudo, as mulheres continuam afetadas por um fator preponderante para a vida profissional: aquelas com mais de 16 anos e que têm filhos com idades entre 0 e 3 anos fora da creche têm participação menor no mercado de trabalho (49,2%), quando comparadas às mulheres com filhos que nessa faixa etária já frequentam escolinhas (77,9%).
Diferenças no trabalho formal
No Brasil, o avanço da economia na última década resultou em formalização do mercado de trabalho. De 2001 a 2011, o percentual de pessoas sem carteira assinada caiu de 54,7% para 44%, segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Minas, o que se percebe são dois lados bem distintos. De um, a Grande BH com patamar de formalização entre os mais altos do Brasil. Do outro, o Vale do Jequitinhonha e a Região Norte se assemelham ao cenário das regiões Norte e Nordeste do país, onde prevalece ainda a informalização do mercado de trabalho.
No Sudeste, Minas apresenta o maior percentual de trabalhadores na informalidade, com 42,4% das pessoas ocupadas sem carteira assinada. Apesar do percentual elevado, devido à heterogeneidade do estado, o dado não retrata o que se passa nos quatro cantos do estados.
Devido ao desequilíbrio no estado, no ranking nacional o indicador mineiro fica no meio da tabela. O percentual de informais é superior aos estados das regiões Sul e Sudeste, enquanto é inferior ao dos nortistas e nordestinos. O pedreiro Antônio Ozolino está entre os moradores da Grande BH que permanecem sem carteira assinada, mas não reclama. "Não fico parado. Um indica para o outro e assim sempre consigo trabalho”, afirma.
Retratos de um país menos desigual
Os extremos entre pobres e ricos, notadamente marcados no Brasil, apresentaram ligeira diminuição ao longo da última década. Medida por diversos indicadores e aspectos sociais e econômicos, a distribuição de renda no país passou de 0,559, em 2004, para 0,508, em 2011, conforme a Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE. O dado refere-se ao coeficiente de Gini, de forma que quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade. Exemplo claro dessa mudança é que, de acordo com a pesquisa, a razão entre a renda familiar per capita dos 20% mais ricos em relação aos 20% mais pobres caiu de cerca de 24 para 16,5 vezes, entre 2001 e 2011.
Apesar da evolução, a desigualdade persiste.
Sobre as características da população, o levantamento do IBGE mostra que em 10 anos o número de idosos passou de 15,5 milhões, em 2001, para 23,5 milhões de pessoas, no ano passado e representam 12,1% da população. Outro dado se refere ao excesso de peso entre crianças e adolescentes. De acordo com o relatório, 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso, contra 4,1% com déficit de massa corpórea. Entre jovens, com 10 a 19 anos, 20,5% deles apresentam sobrepeso, ante 3,4% com "magreza" excessiva.
VIOLÊNCIA Ao analisar o nível de segurança, 67,1% das pessoas se sentem seguras em seus bairros, contra 78,6% em seus domicílios. Em Minas, esses percentuais são mais altos do que a média nacional – 79,1% dos mineiros declararam se sentir seguras em seu domicílio e 69,9% no seu bairro.
Minas lidera incidência de dengue
Minas Gerais se destaca pela incidência de dengue, com taxa de 268,6 casos por 100 mil habitantes. O número é bastante superior às taxas do Rio de Janeiro (44,8) e de São Paulo (28,8), mas inferior à do Espírito Santo (962,4), segundo a pesquisa do IBGE. Em relação aos dados nacionais, o estado também tem taxa mais elevada que a do Brasil (204,3). Sobre os casos de tuberculose, Minas apresentou a menor taxa do Sudeste (21,4), inferior à taxa nacional (38,4)..