Jornal Estado de Minas

Moradores entram em confronto com a PM após morte de jovem no Aglomerado da Serra

Houve troca de tiros entre PM e moradores do local - Foto: Leandro Couri / EM / D.A Press
Moradores do Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, voltaram a enfrentar a Polícia Militar (PM) após mais um assassinato no local. Os militares foram responsabilizados pela morte de um jovem de 24 anos na tarde desta segunda-feira. Um ônibus foi incendiado e um cinegrafista acabou atingido por um tiro de bala de borracha. Um inquérito policial foi aberto pela corregedoria da PM para apurar os fatos. Os policiais envolvidos na ocorrência foram detidos.

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A versão da Polícia Militar é que desde a manhã desta segunda-feira, os militares receberam uma denúncia via o 181 dizendo que homens armados estariam andando pela Avenida Mangabeira da Serra com Rua da Água. Uma viatura passou pelo local durante a tarde e deparou com os suspeitos. Houve troca de tiros e o jovem foi atingido na cabeça.


Já os moradores afirmam que os militares invadiram o aglomerado atirando, à procura de homens que haviam praticado uma saidinha de banco no Bairro Santa Efigênia e fugido para a região. A versão não foi confirmada pela corporação.

Algumas pessoas informaram que os policiais entraram atirando e acertaram Helenilson Eustáquio da Silva Souza, que morreu na hora. “Mataram covardemente um rapaz que nunca foi preso. Ele não estava armado e chegou a colocar a mão na cabeça antes de ser morto”, disse um morador.

A mãe do jovem, Zelita da Silva, 61 anos, lamentou a morte do filho. Segundo ela, Helenilson, que era usuário de drogas, foi “covardemente morto”. Os familiares também informaram que ele trabalhou o dia inteiro como auxiliar de pedreiro.
No fim da tarde, voltou para casa e tomou um banho. Logo depois saiu para a rua.

A população ficou revoltada com o assassinato. Algumas pessoas atearam fogo em um ônibus e atacaram a PM. A Rua da Água, que dá acesso ao beco onde aconteceu o homicídio, foi fechada. Durante o cerco, moradores jogaram pedras e rojões contra os militares, que revidaram com tiros de borracha. Um cinegrafista da Rede Bandeirantes acabou atingido na perna por um dos disparos.

Corpo retirado do local

Após a morte do jovem, uma enfermeira que passava pelo local, verificou o pulso da vítima e detectou a morte de Helenilson. Pouco depois, os militares levaram o corpo para o Hospital João XXIII.
De acordo com a PM, o corpo foi removido, pois a vítima apresentou espasmos e mexia.

Essa versão foi contestada pelo irmão do jovem, o jardineiro Wagner da Silva, de 26 anos. “Vi meu irmão morto, se tivesse vivo eu mesmo levava para o Pronto Socorro. Muito menos teria deixado a polícia colocar jornal em cima dele. O que eles fizeram foi descaracterizar a cena do crime”, disse.

A PM informou que um inquérito foi aberto para apurar o caso. Duas testemunhas que flagraram a ação dos militares já forma identificadas e são monitoradas. Elas devem ser ouvidas durante esta semana sobre o caso.

Conflito antigo

Em fevereiro do ano passado, o Aglomerado da Serra também foi palco de conflitos entre a população e a PM. Dois homens - Jeferson Coelho da Silva, de 17 anos, e seu tio e enfermeiro, Renilson Veriano da Silva, de 39 - foram assassinados por militares do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam).
Dois policiais - Jonas David Rosa e Jason Ferreira Paschoalinho - vão a júri popular pelo duplo assassinato.

Na ocasião, os moradores também queimaram ônibus e entraram em confronto com os policiais. Isso porque, após o crime, os militares envolvidos na ocorrência mudaram a versões dos fatos e criaram uma nova situação para justificar o duplo homicídio. Porém, durante as investigações, ficou provado que as vítimas foram assassinadas à queima roupa por tiro de fuzil.

Após os assassinatos, os moradores afirmam que foi feito um acordo para que a Rotam não entrasse mais ao Aglomerado. Mas, nesta segunda-feira, os policiais do grupamento estavam presentes no local, o que também casou revolta.

(Com informações de Landercy Hemerson).