Jornal Estado de Minas

Engarrafamentos fazem do trânsito de BH o pior proporcionalmente entre as grandes capitais



Cercados por obras por todos os lados, enfrentando cruzamentos bloqueados, filas duplas e gente dirigindo devagar para falar ao celular, o belo-horizontino precisa de paciência para enfrentar o pior trânsito entre as maiores cidades brasileiras. Das grandes capitais monitoradas por empresas rastreadoras de transportes de cargas, valores e escoltas parceiras da Maplink, site que fornece mapeameto, BH é a que tem a área viária mais comprometida por engarrafamentos e lentidão, à frente de cidades como São Paulo (4º) e Rio de Janeiro (7º), segundo o levantamento feito entre julho e outubro de 2011 e de 2012.

O tempo que a pessoa perde no tráfego faz com que ela acelere quando o sinal ainda está abrindo Hercília Dias Gonçalves, missionária - Foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESSA capital mineira chegou a registrar 156 quilômetros de congestionamentos por volta das 18h do dia 14 de maio deste ano, o que equivale a uma paralisação de 63% dos 248 quilômetros monitorados por essas companhias. É como se, num horário de pico, três em cada cinco quilômetros estivessem parados. A fila de carros daria para ir a Bom Despacho, no Centro-Oeste do estado, que é ligada à capital pela BR-262, ou seja, a fila de veículos atravessaria Contagem, Betim, Juatuba, Florestal, Pará de Minas e Divinópolis.

E o sufoco enfrentado pelos motoristas e passageiros só piora. Pelo levantamento da Maplink, a média de lentidão diária no pico da manhã (entre as 7h e as 9h) saltou de 42 quilômetros para 53,25 quilômetros. Um aumento de 26% – medido em períodos nos quais a cidade já se encontrava tomada por obras de infraestrutura.

Para se ter uma ideia da extensão desse engarrafamento, é como se todos os dias uma fileira de veículos se estendesse da capital pela Grande BH, passando por Contagem, Betim, Sarzedo, Mário Campos e chegasse ao Centro de Brumadinho. Num comparativo de vias monitoradas, a média é de 20% de paralisação diária nas ruas, avenidas e rodovias do entorno de BH. No pico da tarde (das 18h às 20h), o crescimento foi menor de 2011 para 2012, chegando a 16,6%, mas o engarrafamento é maior e passou de 48,75 quilômetros para 56,5 quilômetros em média.

Tendo como ponto base a Avenida Cristiano Machado, ao lado do Mercado dos Produtores, no Bairro Cidade Nova, Nordeste de BH, o taxista Daniel Alves Silva, de 33 anos, sente todos os dias o prejuízo do combustível que gasta e o tempo que perde com engarrafamentos em todas as regiões da cidade.

“Não está tendo mais hora. A gente pega trânsito pesado até meio-dia, 13h. Na Rua da Bahia, nas avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena. A meu ver, há muitos carros. Logo vamos precisar mesmo de um rodízio”, afirma.

Veja mais detalhes sobre as capitais congestionadas (clique para ampliar) - Foto: Arte/Paulinho MirandaOs colegas do ponto de táxi reclamam também da dificuldade crescente para trabalhar no tráfego pesado. “Quando chove então é um suplício. Na tempestade do feriado do dia 15 (Proclamação da República), mesmo com a cidade vazia demorei exatamente uma hora e 30 minutos do Bairro São Paulo ao alto da Afonso Pena, perto dos bombeiros”, disse.
Tomando como exemplo o deslocamento do taxista nos 17 quilômetros que precisou percorrer, sua velocidade média naquela noite foi de 11,3km/h. Numa comparação com o movimento dos animais, o veículo dele alcançou o máximo que uma cobra consegue ao rastejar.

Para o mestre em engenharia de transportes e professor da PUC Minas Paulo Rogério da Silva Monteiro, os números representam um alerta e estão relacionados, principalmente, ao aumento da frota de veículos particulares e a uma oferta deficiente de transporte público. “Quem está na rua sente isso. É um reflexo, um sintoma dos problemas de trânsito da cidade. A frota cresceu menos do que o engarrafamento, mas, num sistema saturado, qualquer incremento repercute ampliando o caos e é isso o que estamos vivendo”, avalia o especialista. No mesmo período, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a frota belo-horizontina cresceu 6,2%, passando de 1.408.466 veículos em setembro do ano passado para 1.496.604 no mesmo período deste ano.

A missionária Hercilia Dias Gonçalves, de 59 anos, mora no Buritis, na Região Oeste de BH, e diz que, como pedestre, tem sentido a aflição e a falta de educação dos motoristas sendo transformadas em ameaças. “O tempo que a pessoa perde no tráfego faz com que ela acelere quando o sinal ainda está abrindo e a gente precisa correr para não ser atropelada. Os carros estão avançando sobre os pedestres.
Essa irritação é uma ameaça a todos”, considera. .