A comunidade de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, volta a respirar aliviada e manter a esperança. Depois do susto de ver paralisada a restauração da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, do início do século 18, por falta de repasse de verba federal à empresa responsável pela obra, os moradores do distrito recebem agora a garantia de que o serviço será concluído conforme o contrato. Em reunião em Brasília, o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Carlos Antônio Vieira, assegurou ao titular da paróquia, padre Oldair de Paulo Mateus, que a segunda parcela, no valor de R$ 124.740, já foi depositada na conta da Germec Construções. Há dois anos, a igreja foi escolhida pelo governo federal como a primeira a receber recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, o que não ocorreu, já que o dinheiro provém de emenda parlamentar. Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, o PAC também não funcionou, e dois prédios estão sendo cobertos com dinheiro do ICMS Cultural.
“Estamos satisfeitos, mas continuaremos atentos, pois a obra não pode parar mais”, disse, ontem, o padre Oldair, presente à reunião na companhia do assessor político da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Geraldo Martins, e dos representantes da comunidade, Sebastião Evásio Bonifácio (coordenador de patrimônio da paróquia), Willian Luiz de Castro (coordenador de comunidades), Francisco Xavier da Costa e Vicente Pedrosa Junior. No dia 11, o Estado de Minas mostrou a frustração e tristeza dos moradores diante da paralisação da obra, que, segundo os empreendedores, tem 80% do serviço no telhado e 35% dos elementos artísticos prontos. A igreja é tombada desde 1949 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Padre Oldair informou que Vieira garantiu “todo o empenho” para pagamento da obra, orçada em R$ 1,8 milhão e prevista para terminar em dezembro de 2013. Dessa forma, o compromisso será honrado tão logo cheguem ao ministério os boletins com as medições dos serviços executados no templo católico.
Mesmo confiante, a comunidade continua mobilizada. O presidente da Associação dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic), Rodrigo da Conceição Gomes, lembra que o movimento para recuperar a igreja começou há mais de 10 anos: “A nossa atitude será de mais fiscalização, para evitar que os serviços sejam interrompidos novamente”. Ele lembra que a igreja tem grande importância espiritual em Cachoeira do Campo e ocupa lugar de destaque na história de Minas.
LONAS Encarregado da restauração dos elementos artísticos, o especialista Silvio Rocha Viana de Oliveira destaca a importância do templo barroco, dono do primeiro forro pintado em perspectiva de Minas, de autoria do artista português Antonio Rodrigues Belo, em 1751. Há duas semanas, durante a paralisação da obra, ele lembra, o cenário foi de tristeza para os moradores, pois as peças em recuperação, devido à ação dos cupins, foram cobertas de lonas pretas como forma de proteção. “As pessoas viram nisso um sinal de luto e não deixam de ter razão, pois a igreja é um bem de grande valor cultural e todos temem pela sua deterioração”, disse. O templo estava completamente tomado pelos cupins e, para exterminá-los, foi feita a desinfestação. “Trocamos a maioria das peças, mas há algumas, como um dos esteios do altar, que precisam ser retiradas e substituídas”, diz Silvio, mostrando a madeira carcomida pelos insetos.
Emboabas
No início do século 18, os paulistas, descobridores das minas, estavam estabelecidos nos arraiais que iam de Caeté a São João del-Rei. Atraídos pelas riquezas, os emboabas chegaram em massa, invadindo a área e revoltando os pioneiros. A disputa pelo ouro e poder – a guerra foi, acima de tudo, uma disputa política, em torno dos principais cargos e postos da administração montada na região – levou a conflitos armados e à escolha, em 1707, de um emboaba para governador, à revelia da coroa portuguesa. A guerra abriu caminho para uma série de levantes, como a Sedição de Vila Rica (1720) e Inconfidência Mineira (1789) e criação das primeiras vilas do ouro.