Jornal Estado de Minas

Patrimônio de Sabará ganha novo visual

Largo do Ó e a igrejinha que dá nome ao espaço, depois de cinco meses de obras e de um projeto idealizado há seis anos, serão entregues amanhã à população de Sabará

Gustavo Werneck

Largo do Ó, depois de cinco meses de obras e de um projeto idealizado há seis anos, será entregue amanhã à população de Sabará - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press



As fachadas das casas ainda exalam cheiro de tinta fresca, os rostos dos moradores transmitem alegria e a paisagem exibe as cores da revitalizaçãoDepois de cinco meses de obras e de um projeto idealizado há seis anos, o Largo do Ó, cartão-postal de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, está pronto para ser curtido pelos moradores e admirado pelos visitantes de todo o mundoTendo como ponto alto a Igreja de Nossa Senhora do Ó, de 1717, conhecida popularmente como igrejinha do Ó, o espaço estará em festa amanhã, às 10h, quando serão apresentadas, oficialmente, as 37 casas do entorno, algumas centenárias, que foram pintadas e ganharam outros serviços de conservação

Residente há 74 anos no Largo do Ó, o aposentado Unias de Mello, de 82 anos, se diz feliz com o visual da praça em tons pastel – creme, pêssego, bege, chá e outros“Este lugar está mais bonito, agora é preciso que todos o conservem para ficar sempre assim”, afirma com um sorrisoUnias diz que o espaço ficou mais claro, com as cores bem distribuídas, valorizando o templo barroco famoso pelas “chinesices”Também moradora da praça, Gertrudes da Silva, a dona Tude, de 92, está satisfeita com a mudança“Moro aqui há décadas e agradeço a Deus por ver tudo issoCom certeza, a comunidade não teria dinheiro para bancar os serviços”, diz Gertrudes, que adorou a cor amarela da casa onde mora com a filha, Rosângela


O trabalho de revitalização é fruto da parceria entre o Instituto Yara Tupynambá e o governo de Minas, via Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese), com apoio da prefeitura local e interveniência do Conselho Estadual de Direitos Difusos (Cedif)Segundo o diretor-presidente do instituto, José Theobaldo Júnior, o projeto foi muito discutido com os proprietários das residências, que aprovaram a cartela de cores escolhida pela artista plástica Yara Tupynambá

“Eles acompanharam todo o processo e viram a simulação do antes e depoisA interação foi completa”, diz José Theobaldo, lembrando que todas as etapas tiveram autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento do templo católico.


Outro ponto destacado pelo dirigente é a conscientização da comunidade“À medida que a obra foi evoluindo, as pessoas foram mostrando interesse e valorizando o patrimônio”, informa José TheobaldoA arquiteta supervisora, Tatiana Harue, conta que, além da pintura, houve retirada de chapisco de algumas fachadas, para permitir mais harmonia com a atmosfera colonial, janelas foram readequadas e feitas pequenas intervenções“Não se trata de restauração, mas de uma revitalização”, salienta a arquitetaEm janeiro e fevereiro, ela recorda-se, houve a definição das cores, em março foram apresentadas aos moradores e em junho os trabalhos começaram


“O mais importantes disso tudo é que revitalização do Largo do Ó está estimulado moradores de ruas próximas a também preservarem suas residências“Ficou um ambiente limpo, bem cuidado”, diz a arquitetaDurante o desenvolvimento do projeto, o sargento reformado e ex-coordenador de voo Carlos Augusto da Silva, de 57, pôs a mão na massa e trabalhou como encarregado“Eu era pau para toda obra”, brinca

Diante da casa em que morad com a família, ele admira o visual com o sorriso largo de elogio.

 

'Chinesices'
A Igreja do Ó tem esse nome devido à festa da padroeira, quando são cantadas as ladainhas, repetindo-se, a cada dia, as sete antífonas, sempre precedidas por um “Ó”Um dos maiores tesouros do templo, de fachada singela, está na talha da primeira fase do barroco – estilo nacional português, segundo os especialistasChamam a atenção as “chinesices” do arco-cruzeiro, de aproximadamente 1725Essas pinturas teriam sido feitas por artistas vindos das possessões portuguesas no Oriente, ou copiadas de desenhos de louças vindas de Macau, na China