Jornal Estado de Minas

Ações tentam minimizar tragédias em casas localizadas nas margens do Rio Paraopeba

Quando se trata de áreas de risco, medidas de curto prazo são essenciais
Ainda assim, todo problema tem sua raiz e se ela não é tratada, o problema sempre volta a aparecerEsse também é o caso com as questões que têm comprometido a vida do Rio Paraopeba.  Esgoto, resíduos industriais, excessos na retirada de água são algumas das atividades que comprometem a bacia e, por consequência, podem causar danos significativos para quem depende dela para viver“As causas que temos aqui é que devem ser atacadasPrecisamos começar um processo de reversão das causas – que não se resolve em um ano”, pontua o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (Cibapar), Mauro da Costa Val.

Para tanto, o consórcio tem coletado dados e feito análises sobre todo o universo que envolve o rioCom base na informação técnica coletada, o Cibapar tem tentado estabelecer um diálogo entre governos estadual, municipal e sociedade para garantir que a relação entre o homem e o rio seja mais harmoniosaAlguns dos dados mais importantes para esse relacionamento dar certo foi a descoberta do que tem prejudicado o rio, em termos de quantidade e qualidade.

Segundo Val, os principais usos das águas da bacia do Paraopeba são abastecimento público; indústria diversificada; aproveitamento elétrico - por meio da Usina Igarapé, da Cemig; criação animal e irrigaçãoApesar de não ser o mais danoso se tratando de qualidade da água, o abastecimento público é a causa que mais retira água da bacia“O que podia, pelos termos legais, ser retirado em quantidade de água da bacia do Paraopeba para todos os usos é levado por um único usuário, que é o sistema de abastecimento de água”Na altura de Belo Vale, parte da água é transferida para o sistema Rio Manso, que é responsável pelo abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte.

Outro problema dessa retirada é que nem sempre a água volta tratada para o rio“O governo do estado e a Copasa estão fazendo um trabalho excepcional, mas que precisa ser melhorado em áreas de despoluição de matéria orgânica”, destaca
De acordo com o levantamento do Cibapar, componentes como cromo, arsênio e especialmente óleo diesel e graxa são encontrados em grande quantidade na baciaSegundo o órgão, cerca de 15 toneladas de óleo e graxa são entregues diariamente à represa de Três Marias pelo ParaopebaO balanço mostra que o rio tem vários agentes químicos que não estão presentes no esgoto das casas, mas sim originários de atividades industriais

As indústrias metalúrgica e mineradora são algumas das que mais depositam componentes no rio e em seus afluentes, sendo responsáveis pelas atividades mais danosas na baciaPara os moradores que foram desabrigados na última inundação da Colônia Santa Isabel isso ficou bem claroIsso porque quando a água baixou as casas ficaram repletas de barro de pó de minério, o mesmo barro que regularmente fica depositado nas calhas dos rios

Para o secretário, os problemas não são impossíveis de serem tratadosNo entanto, eles demandam tempo e boa vontade de diversos setores da sociedade, que vão desde o governo, até a iniciativa privada e as comunidades que dependem da bacia para viver“Verificando a tecnologia utilizada em cada atividade você consegue enxergar as causas, os efeitos e o que precisa ser feito”, comenta“Se tivermos uma articulação e uma integração institucional de várias instituições da sociedade e do estado, vamos demorar mais de dez anos para reverter o processo”, completa.

Além disso, ele ressalta que é importante entender que em uma bacia que comporta tantas cidades como essa - 48 municípios mineiros são banhados pelas águas - é fundamental estabelecer um diálogo e nunca creditar à somente uma cidade a responsabilidade pelos problemas
“O que a gente faz aqui influencia quem está acima, no Alto Paraopeba, e os que estão abaixo também”Contudo, ele alerta que enquanto ações significativas e a cooperação não existir em prol da bacia, os desastres têm tudo para continuar acontecendo“Os fenômenos naturais governam o homem, não o contrário”.

Mas nem tudo são más notícias no que tange o rio ParaopebaRecentemente, ele foi incluído em um projeto do governo do estado que visa revitalizar bacias hidrográficas nos mesmos moldes do projeto no Rio das VelhasA bacia do rio Doce também será contemplada nessa fase do processoDe acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), os investimentos de R$430 milhões irão revitalizar os rios Piracicaba, Mogi-Guaçu, Paraopeba e Pará, além de promover o desenvolvimento dos instrumentos estratégicos de gestão de recursos hídricos no Estado de Minas Gerais.

As ações prevêem a elaboração de planos para incremento do percentual de tratamento de esgoto sanitário nas bacias, a implantação e ampliação da coleta e tratamento de esgoto com obras acordadas no âmbito do planejamento da Copasa, a elaboração de projetos executivos de esgotamento sanitário, entre outras açõesDe acordo com a gerente de integração com políticas municipais do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Maria de Lourdes Amaral Nascimento, o trabalho é justificado pela importância do rio para o estado“Ele é um dos principais rios da região e do momento em que ele deságua em outros rios ele leva toda a poluição com eleEle e o Velhas são as principais bacias da região e a carga de poluição deles é muito grande, especialmente devido à amplitude deles, que é muito grande”.

De acordo com os dados coletados pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), a conjuntura atual dos serviços de esgotamento sanitário na bacia do Paraopeba é crítica de modo geral e cerca de 73% dos municípios que fazem parte dela foram classificados com Índices de Qualidade dos Serviços de Esgotamento Sanitário Municipal (IQES) ‘Ruim’ e ‘Muito ruim’.

Das sete Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) da Copasa em operação em Betim, seis foram classificadas como em condições precárias e somente uma recebeu a legenda de ‘boas condições’Mesmo assim, o município teve um IQES classificado como ‘bom’, ficando à frente de seus vizinhos São Joaquim de Bicas, Ibirité e Sarzedo, classificados com IQES ‘ruim’; e bem à frente de Mário Campos e Esmeraldas que foram consideradas como ‘muito ruim’Já o índice da qualidade da água do rio Betim e do rio Paraopeba, em boa parte da Grande BH, é considerado ‘ruim’.

Por isso, Nascimento destaca que é muito importante as pessoas entenderemos danos de se jogar lixo nos rios“A educação ambiental tem que vir antes”Para tanto, o projeto estratégico do governo para revitalização da bacia também comporta um projeto de educação ambiental e mobilização social, que será desenvolvido no ano que vem em todas as 48 cidades que compõem a baciaSegundo ela, um levantamento será feito para detectar os principais problemas da bacia e, após isso, uma série de oficinas com as comunidades do entorno.