Os problemas são conhecidosNos horários de pico, congestionamentos; fora deles, muitos motoristas se arriscando em alta velocidadeE com frequência assustadora, acidentes e mortes ocorrem em boa medida pela mistura de carros de passeio e motocicletas com caminhões e carretasO crescimento de Belo Horizonte e cidades no entorno da capital criou uma situação pouco comum em outras metrópoles brasileiras: duas rodovias federais que se tornaram parte do trânsito habitualO Anel Rodoviário e a BR-356, entre o trevo do Belvedere e o Viaduto do Mutuca, desafiam a paciência, a segurança e a capacidade de reação das autoridadesNo ano passado, só o Anel registou 33 mortes Este ano, até outubro, foram quase 2 mil acidentes, nos quais 25 pessoas perderam a vidaPara analisar a situação das vias e buscar soluções para torná-las mais seguras, o Estado de Minas ouviu especialistas habituados às duas estradasEm comum, todos apontam obras grandes para atacar o problema de maneira definitiva, casos da reforma do Anel e da construção do RodoanelMas, boa notícia para motoristas, eles concordam que há medidas passíveis de ser adotadas no curto prazoMais fiscalização e presença ostensiva da polícia, gestão integrada dos órgãos responsáveis pelos trechos, criação de plano de emergência, redução do limite de velocidade e melhorias na sinalização, eles avaliam, já serviriam para tornar o trânsito mais civilizado.
Velocidade menor, mais áreas de escape
O Anel Rodoviário, importante eixo da malha rodoviária nacional, foi engolido pela cidade
Para o professor Ronaldo Guimarães Gouvêa, do Departamento de Engenharia de Transportes da UFMG, um ponto é fundamental: aumentar o policiamento ostensivo, fiscalizando e punindo motoristas irresponsáveis“As câmeras de segurança são muito importantes, mas os agentes precisam estar mais láO Anel precisa de uma medida bem radical, quase de guerra, porque vemos como as carretas descem aquilo ali a mais de 100km/hPolícia na rodovia tem um forte impacto no lado psicológico”, acredita.
A Polícia Militar Rodoviária, responsável pelo patrulhamento no Anel – embora seja uma via federal – não divulga seu efetivo por questões de segurançaGouvêa cobra a revitalização da rodovia e defende até um controle maior da velocidade, chegando ao limite de 60km/h – hoje, a velocidade máxima para carros de passeio é de 70km/h e de 60km/h para caminhões“Se passar acima disso, os policiais têm que parar e reter os veículosÉ preciso vender uma imagem de que o Anel é ‘rabo de foguete’, de que passar lá é muito chato por causa do controle.”
O engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty Filho concorda com a redução do limite de velocidade e aponta medidas estruturaisEle defende o alargamento de trechos estrangulados, que reduzem a capacidade de circulação e aumentam chance de acidentes
Como parte das obras de revitalização do Anel, está prevista para amanhã a abertura de envelopes com os projetos de engenhariaEntre os pontos exigidos, como apontam os especialistas, estão o aumento da capacidade de fluxo com alargamento das pistas que afunilam, correção dos viadutos e instalação da via marginal ao longo de todo o AnelO projeto básico previa a reforma e construção de todas as interseções de acesso à cidade em toda a via.
Integração e plano de emergência urgentes
Para o mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro Paulo Rogério da Silva Monteiro, qualquer melhoria imediata passa pela elaboração de um plano de contingência e gestão integrada para rápida resposta aos acidentesNesses casos, por exemplo, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) costuma acionar a BHTrans para pedir um reboque emprestado
Em situações mais graves, quando há acidentes envolvendo carga tóxica ou química, a dificuldade é maiorNo dia 24 de outubro, por exemplo, as autoridades levaram 13 horas para desobstruir o Anel Rodoviário depois que uma carreta carregada com 25 toneladas de gás de cozinha tombouO congestionamento chegou a oito quilômetros“São rodovias com interface grande, mas jurisdições diferentesNão dá para pensar em quem é o responsável, quem faz o quê ou onde faremos desvios’”, defende Paulo Rogério“Um dos problemas é a gestão da operação, meio compartilhada, meio sem dono, meio com responsabilidade do outro”, critica
Ele afirma que falta aprendizado com os problemas e presença ostensiva da polícia “Poderia haver parceria com centrais de reboque, deixando um veículo às margens do AnelMas é claro que é preciso engajamento das esferas públicas e privada”, conclui