Jornal Estado de Minas

Conheça as obras projetadas por Berti em Belo Horizonte

Arquiteto italiano Raffaello Berti chegou à capital em 1929 para ficar apenas seis meses e nunca mais deixou a cidade, onde foi autor dos projetos de mais de 500 imóveis

Gustavo Werneck

O Cine Metrópole, já demolido mas na memória de muitos cinéfilos, foi um dos grandes projetos do arquiteto italiano em BH - Foto:

 

A atual restauração do Cine Santa Tereza, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste, traz à tona da história de Belo Horizonte o nome de um dos seus arquitetos mais importantesE produtivosNas mais de quatro décadas que viveu e trabalhou na capital, o italiano Raffaello Berti (1900-1972) foi autor de mais de 500 projetos de casas, cinemas, escolas, igrejas, hospitais e edifícios residenciais, comerciais e públicosSó para destacar alguns que se tornaram referência: o prédio da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, nº 1.212, no Centro; da Santa Casa, no Bairro Santa Efigênia; o Palácio Cristo-Rei, sede da arquidiocese, na Praça da Liberdade; sede social do Minas Tênis Clube, na Rua da Bahia; e o Cine Metrópole, demolido e ainda na memória de muitos cinéfilos e apaixonados pelo patrimônio cultural de BH


Berti chegou a BH em 1929 a convite do arquiteto mineiro Luiz Signorelli, autor do projeto do Grande Hotel de Araxá, na Região do Alto ParanaíbaCasado com a carioca Aracy Nunes, o italiano tinha a intenção inicial de ficar apenas seis meses, mas fixou residência, participando da fundação da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e produzindo em alta voltagem até o fim dos seus dias, em 1972“Era um arquiteto criativo e inovador, um profissional no sentido lato, totalmente conectado com o mundo em que vivia, antenado com tudo o que era contemporâneo”, diz o professor e ex-diretor da escola, Flávio Carsalade, lembrando que Berti desenvolveu projetos no estilo art déco e depois modernista

Além de atuar na capital mineira, arquiteto projetou imóveis também em cidades do interior do estado - Foto: A trajetória profissional, no Brasil, do arquiteto formado na Real Academia de Belas Artes, em Carrara, na Itália, começou em 1922Depois de desembarcar no Rio de Janeiro, duas semanas antes de completar 22 anos, foi trabalhar no Escritório Técnico Heitor de Melo e se juntou à equipe encarregada do planejamento da exposição internacional comemorativa do centenário da IndependênciaNa sequência, ainda na capital fluminense, projetou o Hospital Gaffrée-Guinle e a sede do Jóquei Clube, ao lado dos arquitetos Arquimedes Memória e Francisque CuchetSete anos depois, chegou à capital mineira

Em BH, onde morou a maior parte da vida e criou os quatro filhos –Mario e o jornalista Túlio Berti (ambos falecidos), que atuou no antigo Diário da Tarde, Dária, residente na capital, e Marina, moradora de Governador Valadares, na Região Leste –, Raffaello encontrou terreno fértil para desenvolver suas ideias_

“Quando morreu, Raffaello estava com um projeto na prancheta”, diz a professora de direito da UFMG e juíza do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese Metropolitana de BH, Silma Mendes Berti, viúva de Mario que também era arquiteto e professorCoordenadora editorial do livro Raffaello Berti – Projeto Memória, com textos de Maria Alice de Barros Marques Fonseca, Silma diz que “grande parte da história arquitetônica de BH resulta do trabalho de Raffaello, não só em quantidade mas também em qualidade”E conta que o filho caçula de Camilo e Fortuna veio para o Brasil tendo como referência uma das irmãs, que chegara poucos anos antes e se estabelecera no Rio

Aquarelas urbanas

Basta andar pela cidade para encontrar um projeto de autoria de Raffaello BertiAlguns já desapareceram do mapa, como o Cine Metrópole, mas é possível admirar o Colégio Izabela Hendrix, na Rua da Bahia, para o qual, em 1939, projetou o auditório; o hoje decadente prédio do Cine México, na Avenida Oiapoque; o antigo Hotel Itatiaia, na Praça Rui Barbosa; a Maternidade Odete Valadares; o Edifício Alcazar, na Rua da Bahia, onde morou; e a Feira Permanente de Amostras, já demolida para dar lugar ao terminal rodoviárioBerti também era pintor e fez a exposição Aquarelas e arquitetura moderna na cidade em abril de 1932O presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, que tem mestrado em restauração e doutorado em história da arte, destaca que a maioria dos prédios de Berti, em estilo art déco, tem linhas retas e frisos horizontais, com fachada em pó de pedra“Berti marcou a cidade”, afirma o dirigente

O Museu Histórico Abílio Barreto (MhAB), vinculado à FMC, guarda os projetos de autoria de Berti, os quais estão sendo digitalizados, além de objetos pessoais, como caixa de trabalho, vidros de tinta, livros, documentos, retratos, diplomas e outros
Todo o material foi doado pela família do arquiteto e a intenção, no futuro, é fazer uma exposiçãoQuem visitar a instituição, que fica na Avenida Prudente de Morais, 202, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul, vai se surpreender com o álbum de figurinhas que conta um pouco da vida profissional de Berti em BH

O arquiteto desenvolveu projetos (residências, igrejas e prédios públicos) para Divinópolis e Itaúna, na Região Centro-Oeste, Uberlândia, no Triângulo, Peçanha, no Leste, Capelinha, no Norte de Minas e outros municípios “Ele projetou casas de gente e de DeusE sempre fez questão de transmitir aos filhos o amor que sentia pelo Brasil, a terra que o acolheu”, afirma Silma

Confira alguns dos grandes projetos arquitetônicos de Raffaello Berti em Belo Horizonte

- Foto: Palácio Cristo Rei (1937), na Praça da Liberdade (foto)

Santa Casa (1941-1946), no Bairro Santa Efigênia

Minas Tênis Clube (1940), na Rua da Bahia

 Cine Metrópole (1941, demolido), no Centro

Prefeitura Municipal (1935), na Avenida Afonso Pena

 Hospital Felício Rocho (1944), na Avenida do Contorno

Hospital Odilon Behrens (1941), no Bairro São Cristóvão

 COLÉGIO MUNICIPAL Marconi (1938-1941), na Contorno

 

 

- Foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press - 21/6/11 Cine Santa Tereza (1942), na Praça Duque de Caxias (foto)

Hospital Vera Cruz (1944), na Avenida Barbacena