A estimativa da Polícia Militar (PM) e da administração do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu é de que este ano 100 mil pessoas tenham passado pelas 24 horas de celebrações e homenagens ao padroeiro das causas impossíveis, no Bairro da Graça, Região Leste de Belo HorizonteTodo ano, a data oficial em que o santo é festejado muda a rotina da região com esquema especial de trânsito, segurança, ambulâncias, logística sanitária – água e banheiros extras para os fiéis –, além de movimentar a economia informal nas cercanias, com dezenas de vendedores ambulantes.
Quadrante de civilidade, não se vê confusão ou grosseriasAté os flanelinhas, ali, pareciam menos achacadores – observados pela BHTrans, pela Guarda Municipal e pela PMCom capacidade para 1,6 mil pessoas sentadas, o santuário chega a receber mais de cinco mil pessoas, em pé, no dia 28 de outubroFora outras centenas de fiéis, nas calçadas, que se contentaram em ouvir os celebrantes da rua, sem nenhuma visão do altar
Carla Abu Kamel, de 43, advogada, desde que passou no vestibular – segundo ela, pela intercessão de São Judas Tadeu – passou a ter ainda mais féCom Luca, de 2, no colo, emocionada, eçapede em especial pela saúde e sorte do filho“Ele ainda não está falando, e estou preocupada”, diz, tomada pela força da esperançaNo velário, o calor das chamas que empretecem as paredes não incomodou a multidão em trânsito e oraçãoA senhora de cabelos claros, bem cuidados, cruzou o salão com as mãos ao alto, olhar distante e prece silenciosa – um sopro nos lábios.
“Com fé, para São Judas não há causa sem solução”, disse Rita das Graças Pereira, de 72A aposentada, moradora do Bairro Maria Goretti, acostumada a agradecer e a pedir por saúde, desta vez pediu pelo filho João Paulo, de 7, de criação“Ele sonha ser jogador de futebol e quer jogar no Galo… quem sabe São Judas não ajuda”, sorriuLeandro Silva, de 28, professor de línguas, considera o dia especial“É um momento em que as pessoas deixam de lado o materialismo, grande causador da violênciaÉ muito positivo ver tanta movimentação pela fé”.
Gratidão Padre Pedro Souza Pinto, de 76, pároco emérito do santuário e celebrante da missa das 10h, vê a multidão de fiéis no Bairro da Graça como “símbolo da busca permanente pelos dons de Deus”
De olhos verdes reluzentes, Maria Vera Marques, de 44, saiu cedo do Bairro Serra por gratidão ao santo, “que não a desampara em nenhuma situação”Contou que marca presença todos os dias 28 do anoNeste outubro, o administrador do santuário, Álvaro Fernandes Moreira Soares, de 42, ressaltou o movimento ainda maior: dez mil pessoas a mais“Houve uma divulgação maior pela centralização das comemoraçõesNão tinha visto um movimento tão grande”.
Eliana Cândida, de 65, de Betim, pediu luz para todas as pessoas do mundo, além de redenção para enfermos e prisioneirosHá 35 anos, na companhia de familiares, faz, de joelhos, o caminho em torno do santuárioNas costas da igreja, num canto da Sala das Promessas, encostada, uma cruz de madeira de quatro metros chamava a atençãoÁlvaro, o administrador, explicou: “Foi trazida nos ombros por um fiel que veio a pé, de Contagem”
Calor não abala público
Mesmo com o tempo seco, na manhã de forte calor – 35 graus, segundo o Climatempo –, não havia metro quadrado vazio dentro do santuárioLotação que se repetia para as missas rezadas de duas em duas horas, desde a noite de sábadoCom o aumento da violência, Vânia Maura de Lima, de 36, consultora de vendas, pediu, este ano, especialmente por proteção para todas as famíliasNa falta de espaço, houve esbarrõesTodos desculpados, sempre aos sorrisos de comunhãoQuatro gerações, ao menos, de todas as classes sociais, ali estavam, unidas na fé.
Do lado de fora, sombrinhas coloridas e guarda-chuvas para proteger do sol escaldanteAmbulantes se misturaram aos fiéis na lida por um troco“É R$ 1 o pacote de velas de boa procedência, de parafina… faço questão de vender para o senhor, para a senhora…”, anuncia o moço dos pés sujos sobre as sandálias encardidas“Fé? Sei lá, mano… Acho que é a prosperidade que Deus me dá”, disse, desconfiadoNa esquina das ruas Restinga com Macaé, pais refrescaram com água mineral os filhos de colo.
SAIBA MAIS - Devoção desde o século 18
São Judas Tadeu nasceu em Caná de Galileia, na PalestinaSua mãe, Maria, era prima de Maria Santíssima, e o pai, Alfeu, irmão de São JoséPortanto, São Judas Tadeu era primo de JesusEra irmão de Thiago, José, Simão e Maria SaloméDepois da ascensão de Jesus, São Judas, perseguido, iniciou a pregação da féTomou parte no primeiro Concílio de Jerusalém e evangelizou Mesopotâmia, Edessa, Arábia e SíriaDestacou-se principalmente na Armênia, Síria e Norte da Pérsia.
Na Mesopotâmia, São Judas ganhou a companhia de outro apóstolo: Simão, o ZeloteSegundo São Jerônimo, ambos foram martirizados cruelmente quando estavam na Pérsia, mortos a golpes de machado, desferidos por sacerdotes pagãos, por se recusarem a prestar culto à deusa DianaSão Judas é invocado como advogado das causas desesperadas e dos supremos momentos de angústiaEssa devoção surgiu na França e na Alemanha, no fim do século 18.
No Brasil, a devoção a São Judas é muito popular e surgiu no início do século 20Devido à forma como foi martirizado, é representado segurando um livro – simbolizando a palavra que anunciou – e uma machadinha – o instrumento de seu martírioSuas relíquias atualmente são veneradas na Basílica de São Pedro, em RomaSua festa litúrgica é celebrada em 28 de outubro, suposta data de sua morte