(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Após acidente, Anel Rodoviário de Belo Horizonte enfrente 13 horas de desrespeito

Mais uma vez acidente com carga perigosa espalha transtorno pela capital, diante da falta de plano de emergência e da incapacidade dos órgãos públicos de liberar pistas


postado em 25/10/2012 06:00 / atualizado em 25/10/2012 07:15

Reflexos da interdição se espalharam e pistas ficaram paradas nos dois sentidos até o fim da manhã, irritando motoristas(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Reflexos da interdição se espalharam e pistas ficaram paradas nos dois sentidos até o fim da manhã, irritando motoristas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Belo Horizonte está refém dos acidentes com cargas perigosas, pela falta de uma estrutura capaz de proporcionar liberação imediata de pistas após acidentes envolvendo caminhões e carretas. Foi o que comprovou mais uma vez um tombamento no Anel Rodoviário, que provocou 13 horas de transtorno não apenas na via, mas em quase toda a cidade. O tumulto começou ainda na noite de terça-feira, por volta das 21h – quando uma carreta carregada com 25 toneladas de gás de cozinha (GLP) tombou no km 3 da rodovia, entre os bairros Buritis e Betânia, no sentido Vitória –, e só terminou após as 10h da manhã de ontem, quando o tráfego finalmente voltou ao normal. A pista permaneceu fechada durante toda a noite, e o congestionamento chegou a oito quilômetros nos dois sentidos da rodovia, em uma situação considerada inadmissível por especialistas em transporte e pelos cidadãos prejudicados.

Como consequência da falta de um plano de emergência e da capacidade de resposta dos órgãos responsáveis pelo trânsito, caminhões ficaram parados durante toda a madrugada, cargas deixaram de ser entregues na hora certa, pessoas se atrasaram para o trabalho e muitas até mesmo desistiram dos compromissos. O acidente reabre a discussão sobre a responsabilidade para retirada desse tipo de carga. Especialistas criticam a postura do poder público, que atribui o dever de liberar as pistas às empresas transportadoras.

“A relação entre o poder público e a população é direta, por isso os órgãos de trânsito e segurança não podem delegar a uma entidade privada a obrigação de providenciar a liberação da pista nos casos de acidentes”, ressalta o coordenador-geral do Núcleo de Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Guimarães Gouvêa. Para ele, o Estado deve se equipar e ter condições de manter uma estrutura com técnicos capazes de avaliar o risco que a carga oferece, além de equipamentos e guinchos para retirada dos veículos. “Se não puder oferecer isso, o poder público não deveria permitir a circulação desse tipo de veículo e de carga no Anel Rodoviário”, afirma.

A solução apontada pelo engenheiro para os constantes acidentes que  travam toda a cidade é a construção do Rodoanel, contorno Norte da região metropolitana, ligando a BR-040, em Nova Lima, à BR-381, em Ravena. Entretanto, as obras não têm prazo para serem executadas, já que até mesmo a reforma do atual Anel Rodoviário foi adiada, sem prazo de conclusão.

INADMISSÍVEL A espera de 13 horas que testou a paciência dos motoristas é considerada abusiva pelo especialista. “Houve excesso de tempo. A ação demorou muito e isso é inadmissível tendo em vista a posição estratégica do Anel, que liga diversas regiões e tem tráfego urbano intenso”, comenta o engenheiro.

O fechamento da pista durante toda a madrugada foi determinado pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv), que defende ser difícil agir rapidamente em acidentes com carga perigosa, além de isentar-se da responsabilidade de remoção do veículo da pista. Com a tarefa atribuída à empresa, foi necessário aguardar a chegada de um técnico da transportadora da carga de gás para analisar o risco de explosão. De acordo com o sargento Marcos Bina, um profissional enviado pela empresa Copagaz, dona da carga, esteve no local do acidente por volta das 23h, duas horas após o acidente. “Ele descartou o vazamento de gás ,para que outro cavalo mecânico fizesse a retirada da carreta”, disse. Segundo ele, o veículo que removeu a carreta com a carga de gás chegou às 3h.

O veículo veio de Lavras, no Sul de Minas, para atender à ocorrência. Às 6h, teria deixado o local, removendo a carga. A liberação da pista ocorreu por volta das 8h. O trabalho teve o apoio do Corpo de Bombeiros, que ajudou na limpeza da pista. A corporação também se isenta da responsabilidade de remover a carga perigosa. Na avaliação do capitão Frederico Pascoal, o tempo pode parecer muito para a população, mas é “razoável” diante do risco. “Aquele produto era tóxico e altamente inflamável. Um erro poderia provocar uma explosão com reflexos em um raio de 300 a 400 metros.”

Novo problema em velhas armadilhas

O acidente que mais uma vez desafiou a paciência dos motoristas que trafegam por Belo Horizonte não expôs apenas a falta de capacidade das autoridades para lidar com desastres envolvendo cargas perigosas. Evidenciou também outros problemas antigos: a inadequação do Anel Rodoviário para receber o tráfego pesado juntamente com o trânsito urbano e a ausência de soluções de engenharia que amenizem o conflito, especialmente na chamada descida do Bairro Betânia, onde o tumulto de ontem começou.

O motorista da carreta que tombou, José Jair Rigo, de 51 anos, disse aos policiais que percebeu ter ficado sem freios justamente no momento em que se deparou com uma retenção à frente. Para não atingir os demais automóveis, ele teria dado um golpe de direção, o que provocou o tombamento.

Depois de passar mais de duas horas no congestionamento, o professor Luís dos Reis Gonçalves Filho, de 33, que mora no Bairro Camargos (Região Noroeste) e trabalha no Jardim Canadá, em Nova Lima, ligou para o trabalho informando que não conseguiria chegar. Para Fabíola Marinho Carneiro, de 39, também professora na escola onde Luís trabalha, o transtorno foi maior. O carro dela, comprado há menos de dois meses, teve um problema mecânico provocado pelo arranca e para de horas no engarrafamento. “Fiz um esforço financeiro para comprar um carro novo, mas os problemas não se resolvem no Anel. Estou cansada de tanto acidente aqui”, reclamou.


Horas de tumulto
» 21h – A carreta placa MQS 9201, de Porto Ferreira (SP), dirigida pelo caminhoneiro José Jair Rigo, de 51 anos, tomba no km 3 do Anel Rodoviário, entre os bairros Buritis e Betânia, no sentido Vitória. O veículo vinha de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro e tinha como destino Ibirité, na Grande BH, onde a carga de 25 toneladas de gás de cozinha (GLP) seria entregue. Por causa do acidente, a rodovia ficou totalmente fechada.
» 23h – Um técnico em segurança do trabalho a serviço da empresa Copagaz, dona da carga, vai ao local do acidente para avaliar se havia vazamento ou risco de explosão.
» 3h – O cavalo mecânico da empresa transportadora chega no Anel para remover a carreta que levava o cilindro com a carga de gás.
» 7h – Com a carga finalmente retirada, a pista é liberada e o trânsito volta a fluir, ainda com lentidão.
» 10h – Depois de mais de três horas, necessárias para liberar os nós no tráfego, o trânsito no Anel Rodoviário volta ao normal.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)