Jornal Estado de Minas

Saúde está à míngua no Centro-Oeste mineiro

Moradores de Bom Despacho e Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, podem ficar sem atendimento em unidade de primeiros socorros e maternidade, por crônica falta de dinheiro

Simone Lima

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Duas importantes cidades do Centro-Oeste de Minas passam por sérios problemas na saúdeEm Bom Despacho, a 156 quilômetros de Belo Horizonte, moradores podem ficar sem o pronto atendimento a partir de hojeEnquanto isso, perto dali, em Nova Serrana, a 133 quilômetros da capital, gestantes são obrigadas a procurar hospitais em outros municípios, porque a maternidade do Hospital São José está fechadaNos dois casos, a falta de repasse de verba pela prefeitura tem causado filas e muitos transtornos à populaçãoAlém de Bom Despacho, o pronto atendimento – que é administrado pela Santa Casa – atende pacientes de outras seis cidades da regiãoTodos os dias, pelo menos 70 pessoas passam pela unidadeA dívida do município chega a quase R$ 580 mil e os funcionários da instituição não receberam seus salários desde Eles prometem cruzar os braços, caso a situação não seja regularizada.

Segundo a presidente da Santa Casa na cidade, Glayds da Silva Coelho, há três anos foi firmado um convênio entre o pronto atendimento e a prefeitura, que, além de emprestar o imóvel em que são feitos os procedimentos, também ficou responsável por repassar verba para pagamento de funcionários e para o funcionamento da unidade“Ao todo, 25 funcionários e quatro plantonistas trabalham nelaTodos estão sem receber há três mesesTemos dificuldade de encontrar médicos que queiram dar plantão aqui, justamente devido a essa situação

Eles alegam que o problema está na arrecadação e que o município não tem a verba para repassarA verdade é que não temos condições de continuar mantendo o serviço dessa maneira”, afirmaCoelho diz que vai “lavar as mãos” e passará toda responsabilidade para o município, a partir de hoje“Vamos entregar a chave do imóvel para que a prefeitura passe a administrar a unidade”, diz

O prefeito de Bom Despacho, Haroldo Queiroz (PDT), nega qualquer tipo de crise na área da saúde e garante que a população não ficará prejudicadaPor telefone, ele confessou que o pagamento dos meses de agosto, setembro e outubro estão em aberto, mas afirma que a situação será normalizadaEle ressalta que a prefeitura, neste momento, tem problemas em conseguir a verba a ser destinado ao pronto atendimento“Toda verba vem do município e estamos com problemas no orçamento.” No caso dos responsáveis pelo PA entregarem a chave do imóvel, Queiroz garantiu que tomará todas as providências necessárias e que a unidade não ficará fechada

Aflição

Em Nova Serrana a situação da saúde também não é das melhoresA maternidade do Hospital São José, onde são feitos uma média de 100 partos por mês, está fechada há pelo menos uma semana
Segundo a assessoria, os atendimentos foram suspensos porque o município não tem repassado a verba para o pagamento dos médicos plantonistasA dívida atualmente está em R$ 225 milAlém de reivindicar o salário, os médicos querem que o plantão seja presencial, e não sobreaviso, como é atualmente.

Em 13 de setembro, obstetras e pediatras que atendem no Hospital São José entregaram um ofício à Secretaria Municipal de Saúde informando os atrasos no pagamento e a necessidade de mudar o regime do plantãoEles pediram que a administração desse um parecer até o fim do mês, o que não ocorreuCom isso, os médicos decidiram fechar a maternidade até que o município tome uma decisãoPor enquanto, as futuras mães são atendidas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e encaminhadas para cidades vizinhas, como Divinópolis e Bom Despacho.

O promotor de Defesa da Saúde, Leandro Willi, explica que a situação da maternidade é realmente preocupanteNa próxima semana, o Ministério Público deve realizar uma reunião entre representantes da prefeitura, Secretaria de Estado de Saúde, Ministério da Saúde e Conselho Regional de Medicina (CRM), para avaliar a situação da cidade e buscar uma solução“Inclusive, não há sequer um convênio firmado, em que a prefeitura se responsabiliza pelo pagamentoTudo está acordado verbalmente, o que não pode continuarClaro que como o Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser gerido na cidade pela prefeitura, ela acaba sendo a responsável pela saúde na cidadeMas é necessário acordar isso oficialmente, para que haja responsabilidades e deveres”, explica Nenhum responsável pelo hospital quis falar sobre o assuntoTodas as informações foram repassadas pela assessoria de imprensa da unidadeNa prefeitura, quem responde pela área da saúde preferiu não comentar o caso.