A saída para frear a onda de violência que aterroriza moradores de bairros da Zona Sul de Belo Horizonte, onde a atriz Cecília Bizzotto foi assassinada por ladrões no último domingo, pode estar em um tripé que vem se revelando frágil na cidade, e no qual uma das peças de sustentação se mostra especialmente bamba: a investigação
Ações emergenciais, como intensificação do policiamento, afirmam estudiosos do assunto, são eficazes para aumentar a sensação de segurança, mas não se sustentam por muito tempo e não resolvem o problemaFalta um planejamento de longo prazo, alertam os especialistas, e respostas ou prisões são necessárias para que os moradores não percam a confiança na polícia ou sintam-se desestimulados a colaborarIntegrante do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio considera que a violência está banalizadaSegundo ele, o assassinato de Cecília Bizzotto demonstra um momento de desorientação das polícias“A capacidade investigativa é péssimaTem faltado material até para coletar impressões digitais”, critica“Por outro lado, a Polícia Militar anuncia ações, mas falta continuidadeÉ preciso políticas de longo prazo, baseadas em um diagnóstico bem feito”, acredita.
Classificando o roubo a residências como um crime de oportunidade, Sávio avalia que é preciso aumentar o efetivo policial, colocando nas ruas militares de áreas administrativas, mas diz que a Polícia Civil tem que dar uma resposta rápida à sociedade depois que o crime acontece
Para o especialista em estudos de criminalidade e segurança pública, o policial precisa estar a pé, de bicicleta, conversando com os moradores e discutindo problemas do bairro“Essa relação melhora a eficiência do trabalho policialNo entanto, o sentimento de desordem social é perverso e, às vezes, a gente vê um estranho na porta do vizinho, se isola e não denunciaPor que as cidades pequenas têm menos crimes? É o exercício da vigilância informalNão dá para transferir a responsabilidade, mas o cidadão precisa confiar na polícia.”
Punição é fundamental
Especialista em inteligência, análise criminal e crime organizado, o cientista político Guaracy Mingardi avalia que é difícil prevenir crimes como roubo a residênciasPor considerar esse delito “mais profissional” do que outros, como o assalto em sinal de trânsito, ele afirma que a arma de combate é a boa investigação“Pode-se aumentar a patrulha, fazer barreiras policiais e fiscalizar carros suspeitos, mas polícia tem cobertor curto
Mingardi integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e lembra que o criminoso deixa muitos indícios em casos como o assassinato da atriz, no Bairro Santa Lúcia “Ele entra, é visto, mexe nas coisas e deixa digitaisSabe que não vai escapar se a polícia investigarBasta fazer um arquivo com as descrições físicas, formas de agir, horário, região e o que procuram”, exemplifica“Identificando as quadrilhas, é possível saber se são os mesmos criminosos e prendê-los.”
O especialista também afirma que ações pontuais não resolvem o problema“É só o remédio para baixar a febre, mas não cura a infecção”, afirmaMingardi avalia que o policiamento comunitário é um bom investimento, mas tem reservas quanto a projetos de participação popular“Não funciona nas classes mais altas Esses bairros de casas são como condomínios fechados, em que todos passam de carro e as pessoas não se veemO que acontece atrás dos muros altos fica lá e ninguém nem percebeTambém não basta ter um policial fardado andando por aliÉ preciso um policial que seja referência, que seja conhecido e tenha bastante contatoNesse caso, o morador pode até ligar para ele.”
O secretário de estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, diz que o trabalho da Polícia Civil está sendo feito para apurar os últimos episódios e sustenta que os índices de roubos a residências caíram 22% entre janeiro e setembro deste ano, se comparados ao mesmo período do ano passadoMas ele admite que o efetivo da Polícia Militar é reduzido e afirma que poderá lançar concurso ainda este ano, além de anunciar a compra de 500 câmeras do Programa Olho Vivo, para o ano que vem“Eventos concentrados em poucos dias trazem intranquilidade justificável, e nós queremos reduzir ao máximo o problema e minimizar a sensação de insegurançaVamos fazer uma aproximação maior da Polícia Militar com os moradores, com plano de setorização, que vai trazer visibilidade e ostensividade ao patrulhamento, reforçando policiamento comunitário”, afirma
Equanto isso, caçada a assassinos de atriz continua
Investigadores da Delegacia de Homicídios já sabem que os bandidos que invadiram a casa da atriz Cecília Bizzotto, no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, costumam agir na área praticando assaltos e roubo de carros, além de ter envolvimento com tráficoOs suspeitos seriam do Aglomerado do Morro do Papagaio e já teriam passagens pela polícia, segundo fontes ligadas à investigaçãoOntem, a cunhada da vítima prestou depoimento e reforçou as suspeitas dos policiais, descrevendo o modo de agir dos bandidos e suas características físicasSegundo a delegada Elenice Batista Ferreira, o irmão da atriz, que deve prestar depoimento novamente, e a cunhada reconheceram os criminosos em álbuns de fotos da políciaOs agentes procuram imagens de câmeras de casas da Rua Saturno, onde ocorreu o crime, e possíveis rotas de saída do bairro A polícia ainda aguarda os laudos periciais.