Jornal Estado de Minas

Durante funeral, mãe de atriz assassinada na capital revela a mais pura expressão da dor

Mãe da atriz Cecília Bizzotto, assassinada por assaltantes, usa um palavrão para exprimir a revolta e a indignação pela perda brutal da filha, morta aos 32 anos

Flávia Ayer

Parentes de Ciça recebem o conforto de amigos, enquanto a mãe da atriz, Cláudia Bizzotto (abaixo), não consegue esconder o desespero pela morte da filha - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press


 

- Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press“Dizem que os filhos é que devem enterrar os paisEstou muito infeliz, pois agora enterro minha filhaNão sei como é a dor que vou sentir, mas só sei que estou muito puta com tudo issoAs câmeras da mídia estão todas aqui e espero que seja uma forma de protesto.” Foi assim, com um palavrão carregado de revolta e indignação, que a analista ambiental Cláudia Bizzotto, manifestou todo o seu sofrimento pelo assassinato da filha, a atriz e artista plástica Cecília Bizzotto Pinto, de 32 anos, a Ciça, morta por assaltantes na madrugada de domingo, no Bairro Santa Lúcia, na Região Centro-Sul de Belo Horizotne.

À beira da cova de Cecília, sepultada no Cemitério do Bonfim, na Região Noroeste de BH, e quebrando o silêncio incômodo dos presentes, a fala de Cláudia foi seguida pelos aplausos emocionados das cerca de 1 mil pessoas que compareceram ao sepultamentoMuito abalados, os parentes da atriz não permitiram a entrada de jornalistas no velório, reservado apenas aos parentes e amigos.

A mãe de Cecília, em companhia do marido, Jefferson Pinto, estava em Paris, em visita à outra filha do casal, Patrícia, de 29, que mora na FrançaO filho de Cecília, Arthur, de 12, também reside na capital francesaOntem de manhã, os quatro chegaram de Paris por volta das 11h30 e seguiram direto para o local do velório Arthur carregava uma foto da mãe e um caderno e pedia a cada um dos presentes que escrevesse uma homenagem à ela, reconhecida por lutar contra as injustiças e por uma sociedade melhorA intenção do menino, que há pouco mais de um ano reside com o pai no exterior, é fazer um memorial para Cecília.

Artistas e profissionais do setor de comunicação compareceram em peso ao velório e anunciaram um ato de protesto contra a morte violenta da atriz, em data que ainda não está definidaO ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias, amigo da família, compareceu ao enterro na companhia da mulher, Vera Victer, mas não quis falarCiça apoiou Patrus na disputa pela PBH e trabalhou no comitê do candidato

Na madrugada em que foi morta, ela voltava justamente da festa de encerramento da campanha do candidato petistaO vereador Arnaldo Godoy (PT) e o presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, também estiveram presentes

Tortura

- Foto: reprodução/Arquivo pessoalDurante o velório, Cristiano Quintino, tio da atriz, revelou detalhes do horror que Cecília viveu nas mãos dos assaltantes, antes de ser morta com um tiro no peitoEla, o irmão, Marcelo Bizzotto Pinto, e a cunhada Alexandra Silva Montes foram surpreendidos por três homens quando chegavam em casaCiça estava com medo de ficar sozinha e havia pedido ao irmão para dormir com ela naquela noiteDurante os 60 minutos que ficaram sob a mira das armas dos ladrões, as vítimas sofreram a violência psicológica.

“Os assaltantes chegaram a jogar álcool neles, ameaçando a todo momento atear fogo nos refénsDisseram que também matariam o cachorro de estimação e que se alguém chegasse na casa todos morreriam”, completouFoi esse clima de terror que teria levado Cecília a ligar para polícia quando foi atingida com um tiro no peito por um dos bandidosEm seguida, os criminosos obrigaram Marcelo a abrir o portão da casa e fugiram levando três celularesO corpo de Cecília ficou trancado num dos cômodos da casa.

Marcelo e Alexandra correram para buscar socorro e, quando chegaram, a Polícia Militar, chamada por vizinhos que ouviram o tiro, já havia encontrado Cecília morta
“Agora é menos uma guerreira para lutar por direitos iguais e contra as injustiças”, afirmou uma das primas da atriz, Júlia Bizzotto, de 34, que a definiu como uma pessoa engajada.

Para os alunos de Cecília, que era professora de teatro no programa Valores de Minas, voltado para jovens em situação de vulnerabilidade social, fica a imagem de uma mulher de força“Foi uma crueldade o que fizeram com a Ciça Ela era uma pessoa de atitude, força e que tinha muito amor ao teatro”, disse, aos prantos, a estudante Glayciele Renata, de 19Sócia fundadora da Companhia Lúdica de Atores, Ciça se preparava para dois espetáculos, um deles como atriz e outro como assistente de direção.