Dos tempos em que andava de ônibus, o estudante de direito Pedro Ribeiro, de 18 anos, não guarda saudade
Estudo do Observatório das Metrópoles mostra o crescimento da frota no país e alerta para a insuficiência da infraestrutura e dos investimentos para acompanhar o ritmo dessa explosãoO trabalho avalia os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) em 12 metrópoles brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba, Brasília (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal), Belém, Goiânia e Manaus – conforme classificação de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de acordo com o relatório, o aumento no número de veículos foi de 108,5%, acima da médias nacional (de 90%), o maior entre os principais aglomerados urbanos do paísE o estudante Pedro, como milhares de pessoas, já sente os efeitos negativos desse crescimento.
“Lógico que minha vida melhorou muito com o carroTinha coisas que eu deixava de fazer porque ficava com preguiça de pegar ônibus
Na rota diária para a faculdade, o estudante leva três vizinhos e ainda usa o carro cheirando a novo para transportar familiares em seus compromissos“Os trajetos são relativamente curtos, mas as vias estão tão cheias que o tempo gasto é uma eternidadeNo fim do dia não estou aguentando nem ficar de pé”, comparaPara ele, a precariedade do transporte público é que leva tanta gente a disputar espaço nas ruas em seus próprios veículos.
Pesquisador do Observatório das Metrópoles e doutor em urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Juciano Martins Rodrigues concorda com o estudante e destaca que os governos ainda insistem em investir no modelo rodoviário de transporte, que classifica como saturadoAutor do estudo, ele diz que a tendência é de aumento da frota, sobretudo por causa de políticas de incentivo fiscal e de facilidades para compra e financiamento de veículos
Muito mais veículos para as mesmas ruas
As políticas de mobilidade e o investimento em obras estruturantes, porém, estão longe de acompanhar a velocidade de multiplicação da frota“O critério está bem desenhado, inclusive se olharmos para os dados parciais de 2012 do Denatran, e a tendência é de crescimento aceleradoO grande problema é que a infraestrutura oferecida não acompanha esse aumento, mesmo com investimentos para megaeventos”, afirma Juciano“Há pouquíssimo investimento no transporte sobre trilhos e no transporte não motorizado, como as bicicleta e até a circulação a pé, já que as calçadas não são adequadas e desestimulam o pedestre”, completa.
De acordo com a pesquisa, as frotas de Rio e São Paulo cresceram abaixo da média nacional, e com margem menor, porque antes de 2000, segundo Juciano, já registravam base altaSão Paulo, a metrópole mais populosa, tem cerca de 8,2 milhões de automóveis, o que representa 17,8% de toda a frota nacional
Já o Rio de Janeiro registrou aumento de 62% nos 10 anos, o equivalente a mais de 1 milhão de automóveis em circulação nesse períodoA Região Metropolitana de Belo Horizonte tem um incremento médio de 91.235 veículos ao ano e, percentualmente, só fica atrás de Manaus, que registrou aumento de 141%, passando de 26 mil automóveis em 2001 para 127 mil 10 anos depois.
Mas o crescimento da frota pode ter também aspecto positivo, considera o engenheiro civil e mestre na área de transportes Silvestre de Andrade Puty FilhoPara ele, mais carros na rua são um indício do aumento de renda da população da Grande BH, bem como da diminuição das taxas de desempregoMostram ainda que a população pôde absorver os incentivos fiscais e as facilidades de compra, segundo o especialista.
Mas como toda moeda tem dois lados, ressalta Silvestre, os governos municipais têm que arcar com o ônus dessa avalanche de carros nas ruas “As cidades têm que lidar com os problemas de congestionamento, de mais acidentes, de poluição atmosférica e sonora, que são algumas das consequências desse aumento.”
Ao comentar a liderança da Grande BH diante de outras regiões metropolitanas, como São Paulo e Rio de Janeiro, o engenheiro explica a diferença entre os movimentos de aquisição de veículos nessas localidades“Por ter uma estabilidade de renda maior, São Paulo já tinha uma taxa de motorização muito alta Nesse cenário, as aquisições de veículo ocorrem mais para renovação da frota ou complementação de carro na família”, afirmaJá a Grande BH, segundo o especialista, assistiu a esse movimento de ascensão do poder de compra nos últimos anos.