A conta é do Observatório das Metrópoles e usa dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)Segundo o elaborador do estudo, o pesquisador Juciano Martins Rodrigues, foram analisadas informações de 253 municípios“Usamos os critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para selecionar as capitais de Estado que formavam regiões metropolitanas”, afirma.
Em São Paulo, a metrópole que mais ganhou carros em números absolutos, as ruas receberam 3,4 milhões entre 2001 e 2011As 12 principais metrópoles somam 20 milhões de veículos, o que corresponde a 44% da frota nacionalCom o critério porcentual, a região metropolitana de Manaus é a campeãO aumento da frota foi de 141,9%A cidade ganhou 209 mil veículos (saltou de 147 mil, em 2001, para 357 mil)
São Paulo e Rio, capitais que já tinham as maiores frotas de carros do País, ficam nas últimas posições do ranking elaborado pelo estudo - que classifica o crescimento de frota de acordo com o crescimento relativo, ou seja, pelo porcentual de aumento do número de carrosO Rio é o lanterna: crescimento de 67%, embora isso signifique acréscimo de 1 milhão de carros no períodoJá São Paulo teve crescimento populacional de 7,9% na década, segundo dados da Fundação Seade - e o porcentual de aumento de carros foi de 68,2%
Nas metrópoles temos hoje 3,3 habitantes para cada veículo de passeio, o que corresponde aproximadamente a um veículo para cada domicílioAlgumas delas, porém, apresentam o índice de habitantes/veículos ainda menorComo são os casos de Curitiba, com 2,2 hab/veiculo, Campinas com 2,3 hab/veículo, Florianópolis e São Paulo, com 2,5 hab/veículo cada uma
Outras metrópoles, sentindo o reflexo do crescimento expressivo no número de automóveis, apresentam o índice bem próximo a essas já mencionadasComo são os casos de Belo Horizonte, Brasília e GoiâniaNa metrópole mineira o índice de habitantes por veículo caiu de 5,2 para 3,1 entre 2001 e 2010, resultante de um aumento de 88,5% do número de automóveisEm Brasília, considerando sua região de desenvolvimento integrado, no mesmo período esse aumento foi de 86,6%, enquanto sua população aumento em 20,4%, com isso seu índice de hab/veículo passa de 4,7 para 3,2
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) têm revelado também que um maior número de pessoas leva mais tempo em seus deslocamentos cotidianosTem-se tornado um martírio enfrentar longas distâncias, engarrafamentos e as constantes panes do sistema público de transporteUma verdadeira via-crúcisNa região metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, o percentual de pessoas que levavam mais de uma hora no trajeto casa trabalho passou de 13,5%, em 2001, para 16,5%, em 2008Em São Paulo, o recorde de congestionamento, que foi batido por duas vezes no mesmo dia em 2009, chegou a 294 kmNesse mesmo período, Belém aumentou por 10 vezes o número de motocicletas e em São Paulo elas passaram de 400 mil para 1,4 milhão
Capitais não estão preparadas
As capitais não estavam preparadas para receber tantos carros a maisEm São Paulo, por exemplo, em 2001 havia 1,2 mil agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) orientando o trânsito nas ruasDe lá para cá, mesmo com dois concursos públicos para marronzinhos, esse número não chega a 2 milA principal obra viária no período foi a ampliação da Marginal do Tietê, que trouxe mais três pistas para a via expressaNesse período, a velocidade média dos carros no horário de pico, medida pela CET no Corredor Eusébio Matoso-Rebouças-Consolação, caiu de 17,9 km/h para 7,6 km/h.
O crescimento da frota de veículos é um fenômeno que vem sendo notado há alguns anos, mas ainda não havia sido analisado como o Observatório das Metrópoles fezPara especialistas e autoridades, o avanço resulta de três fatores: aumento da renda da população (especialmente da classe C), reduções fiscais do governo federal e facilidades de crédito promovidas pelos bancosO gerente aposentado Pedro Manzoni, de 73 anos, é um exemploDono de um Corsa zero-quilômetro, diz trocar de carro a cada vez que o veículo atinge 20 mil km rodados“Já cheguei a ter cinco em casa, quando os filhos moravam comigoHoje, tenho apenas o meu, mas os filhos continuam com os deles.”
O arquiteto e urbanista Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), afirma que, em São Paulo, o núcleo viário central da cidade não acompanhou o crescimento da frota“E isso não é desejável”, afirmaPara ele a cidade não pode ser redesenhada para se adequar ao número de carros“Isso tem um preço social altíssimo, e a conta é paga por todos, não só por quem tem carro.”
Para Toledo, os ajustes que precisam ser feitos para minimizar o trânsito caótico passam não só pelo aumento da malha do Metrô, mas por um replanejamento das áreas de paradas metroviárias“As estações precisam ter comércio, prestação de serviçoNão ser uma 25 de Março, mas lojas que atendam às necessidades básicas das pessoas.”
(Com informações da Agência Estado e Observatório das Metrópoles)