Jornal Estado de Minas

Relíquia histórica natural retorna a Minas

Parceria entre Minas e a Dinamarca permite o retorno ao estado de 82 fósseis de mais de 10 mil anos, que vão ficar expostos durante três anos em museu inaugurado em Lagoa Santa

Gustavo Werneck

A inauguração, na tarde de ontem, do Museu Peter Lund, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, abre caminhos para novas parcerias culturais e científicas entre Minas e Dinamarca
O ponto alto dessa cooperação está presente na exposição de 82 fósseis de mais de 10 mil anos – humanos e de animais extintos –, que retornaram ao estado mediante comodato firmado entre os dois governos para exposição durante três anos e poderão ser vistos pelo público a partir de hojeAs peças foram enviadas ao país escandinavo no século 19 pelo paleontólogo Peter Peter Wilhelm Lund (1801-1880), que viveu na região durante 45 anos e fez escavações em cavernas e grutas com resultados de relevância “O prazo da mostra poderá ser prorrogadoEsta primeira etapa é muito importante, mas ainda não podemos dizer se receberemos mais fósseis ou se esses ficarão aqui definitivamente”, disse o governador Antonio Anastasia, certo de que a iniciativa vai aprofundar os estudos acadêmicos

A solenidade de abertura do chamado museu de território, integrante da Rotas das Grutas Lund, teve a presença do príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederik André Henrik Christian, e da mulher, a princesa Mary ElizabethNo seu discurso em inglês, iniciado com um simpático “obrigado” em português, Frederik destacou a importância da criação do museu, que representa um símbolo entre Brasil e Dinamarca“Lund viveu aqui numa época em que Charles Darwin (1809-1882) e Alexander von Humboldt (1769-1859) estavam em países próximosO trabalho de Lund se tornou parte da história do mundo e, com Minas, ele teve uma história de amor, com resultados que estão presentes neste museu, que incentivará pesquisas científica e despertará o interesse de outros setores da sociedade”, disse o príncipe

Localizado no Parque Estadual do Sumidouro e da Área de Preservação Ambienta Carste (APA) de Lagoa Santa, o Museu Peter Lund se integra à Rota das Grutas Lund ou Rota Lund, que tem a Gruta da Lapinha, que fica bem ao lado, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas (marco zero do caminho), o Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire, em Lagoa Santa, e as grutas Rei do Mato, em Sete Lagoas, e de Maquiné, em Cordisburgo, terminando no Museu Casa Guimarães Rosa, também nessa última cidade “Museu é um organismo vivo e, nesse caso específico, trata-se de uma joia, pois está integrado a outros pontos significativos na trajetória de Lund”, disse o superintendente de museus e artes visuais da Secretaria de Estado da Cultura, Leonardo Bahia.

O conjunto de fósseis apresenta pedaços de ossos de dedos, patas, dentes e costelas (não estão incluídos crânios), de animais como anta, preguiça, tamanduá, raposa, puma, porco, tigre-dente-de-sabre, tatu gigante, entre outras espécies que viveram na região há mais de 10 mil anos
Entre eles, estão 30 ossos de homens pré-históricos encontrados por Lund em Lagoa Santa Segundo os pesquisadores, são peças de relevância histórica por se tratar dos primeiros fósseis de homem pré-histórico encontrados nas Américas

O prédio que abriga o museu tem 1.850 mil metros quadrados, dividido em três andares, reservando duas salas para que o visitante conheça os planos de manejo do parqueHá também espaço multiuso e de exposição, sendo um deles dedicado ao acervo vindo de Copenhague, área para reserva técnica, conservação e restauro de obras, café e lojaO governo do estado investiu R$ 5,3 milhões, na obra Entusiasmado com a obra, que acompanha desde os tempos de vice-governador, e que teve ainda a participação decisiva do professor da PUC Minas, Castor Cartelli, Anastasia lembrou que o equipamento cultura e científico será um dos pontos altos para quem vier para a Copa das Confederações (2013) e a Copa’2014E, bem-humorado, dirigiu-se ao príncipe lembrando uma frase de Lund, para quem “Lagoa Santa era o local ideal para se viver”.

Descontração

Depois da solenidade, as autoridades mineiras e dinamarquesas visitaram a exposição e, em seguida, o interior da Gruta da Lapinha, que foi reestruturada e recebeu nova iluminação, a exemplo das Rei do Mato e MaquinéAntes de seguir a trilha, a princesa sentou-se descontraída e, num gesto bem europeu, trocou os sapatos de salto por sapatilhas confortáveisDepois do passeio à gruta, que conhecera em 1999, Frederik, ao lado da mulher, sentou-se numa pedra, à sombra, e, num clima bem informal, bateu papo com jornalistas conterrâneos que acompanham a missão

Visitando a exposição, o professor de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pablo Lima, disse que a vinda do acervo valoriza o patrimônio paleontológico do estado
A bióloga Mônica Meyer, que fez o pós-doutorado na Dinamarca em divulgação científica, conheceu todo o material existente sobre o naturalista naquele país, dividido entre biblioteca (documentos, cartas, anotações etc.) e Museu de Zoologia (objetos, ossos, fósseis etc.)“A grande paixão dele era o conhecimento”, afirmouAo lado, a irmã dela, a socióloga Maria Luísa Meyer, residente há 18 anos na Dinamarca, espera a criação de uma “senhora escola” nas proximidades do museu, com foco na formação dos jovens“Lund, na atualidade, significa preservação ambiental e esse deve ser um dos destaques desse museu”, afirmou

Oportunidades de negócios

O príncipe Frederik visitou ontem a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), onde tratou de possíveis parcerias na área de  alimentos e de desenvolvimento e transferência de tecnologias avançadas de gestão do uso ambientalmente correto da água, setor que em seu país emprega mais de 35 mil pessoas e encara o futuro do uso desse recurso no mundo com muita preocupaçãoO presidente da Fiemg, Olavo Machado, ressaltou que o comércio bilateral Brasil/Dinamarca cresceu 46,7% nos últimos quatro anos, saindo de US$ 777 milhões por ano para US$ 1,1 bilhão em 2011