Jornal Estado de Minas

Medo ronda o Bairro Funcionários

Apesar de a PM garantir redução de crimes violentos em área nobre da Região Centro-Sul de BH, moradores e trabalhadores enumeram ataques diários de bandidos, sobretudo à noite

Valquiria Lopes

A série de assaltos no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, que deixou um jovem universitário baleado na noite de anteontem, reflete o medo e a sensação de insegurança na área
Enquanto a polícia não consegue identificar os responsáveis pelos disparos contra o estudante Guilherme Abras Frauche, de 22, internado em estado grave no Hospital de Pronto Socorro João XXIII, moradores e pessoas que trabalham na região enumeram seguidas ocorrências de furto, arrombamento de carro e assaltosConforme a Polícia Militar, houve 10 assaltos no Funcionários em julho de 2011, contra três no mês passadoApesar de as estatísticas apresentarem queda, muita gente teme passar pelas ruas da região, sobretudo no período noturno

Segundo o analista de sistemas G.M., de 40 anos, assaltado minutos antes de Guilherme e responsável pela acionamento da polícia na noite de quinta-feira, quatro funcionários da empresa em que trabalha já foram vítimas de roubo neste mêsNessa sexta-feira, quando chegou para mais um dia de serviço, ele foi informado de que uma funcionária do mesmo prédio também foi vítima de dois assaltantes em uma moto minutos antes de ele ter sido abordadoO ataque de bandidos na noite de anteontem ocorreu na Rua Maranhão, no quarteirão entre as ruas Santa Rita Durão e Cláudio ManoelO rapaz baleado voltava da Universidade Fumec, no Bairro Cruzeiro, onde estuda engenhariaDepois de ter a mochila levada pelos bandidos, ele foi atingido no peito por um disparo de arma de fogo

“Parece que os bandidos perceberam que essa é uma região de executivos, advogados e de pessoas que trabalham até mais tardeComo as ruas são tipicamente residenciais, elas ficam desertas à noite
É aí que os criminosos aproveitam para assaltos”, afirmou G.MEle conta que na empresa onde ele trabalha há cerca de 150 funcionários e somente metade consegue sair às 18h“O restante sai em horários dissolvidos até as 22hVão buscar seus carros em estacionamentos da região e se tornam alvos fáceis.”

O analista critica a atuação policial na região: “O policiamento ostensivo se restringe às épocas em que ocorre algum fato isolado Passado o alvoroço, a região volta a ficar  fragilizada”Mesmo depois do susto e dos momentos de terror por que passou, quando abordado pela dupla de assaltantes e teve uma arma apontada contra o peito, G.Mconta que teve uma noite tranquila de sono“Não me abalei emocionalmente Estou é muito angustiado e triste pela dor do Guilherme e da família deleVer aquela cena dele deitado no chão, entre a vida e a morte, me fez pensar muito na fragilidade da vida
Espero que nossas autoridades possam pensar nisso”, ressaltou.

Fragilidade

- Foto: Também vítima da violência no Funcionários, o estudante de direito Luís Ataliba, de 31 anos, conta que há cerca de um mês teve o carro arrombado na região “Levaram uma mochila com um notebook e outros pertencesE esse não é um caso isoladoNo meu trabalho, todo mundo tem uma história parecida”, relata o rapaz, que trabalha em um escritório de advocacia na Avenida Getúlio VargasEle conta ainda que nesta semana uma colega presenciou uma tentativa de furto próximo ao local do seu trabalho“Falta presença policial para afastar o bandidoTemos uma companhia de polícia aqui perto, mas parece que não adianta nada”, disse.

O irmão gêmeo de Guilherme, Gustavo Abras Frauche, enviou pela reportagem duas perguntas à políciaOnde estão os dois bandidos e por que existe tanta insegurança? Com um terço entre as mãos, o rapaz rezava com a família e amigos pela vida do irmão na porta do pronto-socorro“Temos carro, mas preferimos ir a pé porque a distância é curta e de carro também há risco de arrombamentoNão sei o que é pior”, disse.

Policiamento

Responsável pelo policiamento do Bairro Funcionários, o comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Welton Baião, informou que imagens de câmeras de monitoramento da rua foram recolhidas e analisadas para identificação dos criminososO material, segundo ele, será repassado à Polícia Civil e anexado ao inquérito policial aberto ontem pela 1ª Delegacia de Polícia Civil do CentroAinda conforme  Baião, apesar de ainda não terem sido identificados, já há informações de que os dois assaltantes são do Aglomerado da Serra, na Região Centro-SulConforme o tenente-coronel, haverá reforço no policiamento do Bairro Funcionários e na região hospitalar, atualmente atendida por 150 policiais“Muito em breve, esses autores estarão presos e poderemos dar uma resposta para essa família e para a sociedade”, disse o comandante

De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, até o momento ninguém foi ouvidoA ocorrência não foi precisa quanto aos tiros e será preciso aguardar o laudo médico para saber em quais partes do corpo o rapaz foi atingidoUm cartucho foi apreendido no local

Torcida para salvar jovem

O susto de parentes e amigos de perder um rapaz alegre, comunicativo e brincalhão foi surpreendido ontem por muitos sinais de melhoraHoras após levar um tiro no peito e passar por uma cirurgia, o estudante universitário Guilherme Abras Frauche, de 22 anos, já reconheceu familiares, reagiu a estímulos e brincou com gestos, mostrando que daqui a pouco estará de voltaFoi o que contou o irmão gêmeo Gustavo Abras FraucheAssim como muitos familiares e pessoas próximas, ele passou o dia no rol de entrada do Hospital de Pronto- Socorro João XXIII, onde o jovem está internadoApesar da melhora, o estado de saúde de Guilherme, que ainda respira com ajuda de aparelhos, é grave

Guilherme é filho de uma família de três irmãosFocados no estudo, estiveram na Inglaterra por um semestre no ano passado para aperfeiçoar o inglês Seguem a profissão do pai, que é engenheiroA mãe é empresária e eles têm um irmão mais novo, de 15 anos“Conheço o Guilherme há três anosÉ uma pessoa super do bem, amigo, comunicativo e alegreTodo mundo parou hoje por conta dessa tragédiaGraças a Deus, ele está reagindo bem”, disse o amigo da família Adriano Moraes, de 32 anos

Para Gustavo, o sucesso da evolução do quadro de saúde se deve à rapidez na prestação do socorro“No princípio, a polícia queria que esperássemos a ambulância do Samu, mas um médico do meu prédio disse para trazermos eles para o hospital na viaturaViemos em menos de três minutos e aqui ele foi atendido na horaFoi tudo muito rápido”, disse(WL)