Jornal Estado de Minas

Recuperação da dependência do álcool é possível

Flávia Ayer
Na sala dos Alcoólicos Anônimos (AA) da Avenida dos Andradas, no Centro de Belo Horizonte, Lúcio, de 71 anos, voluntário do grupo, conta que já viu entrar para o AA deficientes físicos, corpos carimbados por tiros e facadas, sem falar nos homens de saúde frágil e mãos trêmulas, todos marcados pelos efeitos destrutivos da bebida
“Essa doença corrói, é progressiva, sem cura e de fins fatais”, diz LúcioEm frente a ele, Silvério, de 61, balança a cabeça em sinal de concordância sobre a experiência trágica da dependênciaQuando chegou ao AA, em 1983, o metalúrgico não conseguia levar um garfo à boca, tamanha sua fraqueza, e acumulava currículo de internações e um desastre automobilístico em decorrência da bebidaSe não virasse a página dessa história, Silvério sabia que acabaria morto, assim como cinco tios e o próprio pai, que tiveram o organismo destruído pelo álcool.

“Bebia muito, todo dia e estava a ponto de morrerNão dava conta de comer sozinho, pois a tremura era muito grandeJá estava com o organismo tomado pela bebida”, conta Silvério, que durante duas décadas viveu os perigos e sofreu as consequências da dependência“O álcool deforma o caráter, tira sua censura e você passa a não dominar mais a sua vidaDali para frente, vale tudo”, descreve o metalúrgico, agora aposentado e dedicado ao trabalho voluntário no AA.

Na década de 1980, Silvério, que começou a beber aos 11 anos, foi internado numa clínica de dependentes e não consegue se esquecer do mal-estar que sentia depois que o “fogo” passava“Tinha gastrite, muita tremedeira, e, assim que saí da clínica, passei num bar do Centro para tomar um copo de cachaça e ficar melhor”, lembra o metalúrgico, que bebia desde as 6h30A mudança veio há 29 anos com a certeza de que, daquele jeito, não veria os filhos, na época com 4, 5 e 6 anos, crescerem
“O único requisito exigido pelos Alcóolicos Anônimos é o desejo de parar de beberO alcoolismo não tem cura, mas meu remédio é evitar o primeiro gole e frequentar as reuniões do grupo”, conta.

SERVIÇO

Alcoólicos Anônimos

(31) 3224-7744


PALAVRA DE ESPECIALISTA

"A pessoa fica agressiva"

Valdir Campos (psiquiatra)

O álcool é um depressor do sistema nervoso central e atua principalmente no sistema de recompensa cerebral, área responsável pelo planejamento, tomada de decisão e controle dos impulsosQuem bebe fica mais exposto aos riscos, pois a substância age nos neurotransmissores e altera a capacidade de responder aos estímulosTambém torna a pessoa mais agressiva, facilitando o envolvimento em brigas e violênciaNa primeira fase, a pessoa fica expansivaDepois, irritada e agressivaPor fim, tem vômitos e desmaios.