O crack consumido por uma legião de maltrapilhos no entorno da Avenida Antônio Carlos e Complexo da Lagoinha aproxima os usuários do trânsito intenso, provocando atropelamentos e outros acidentesDos 167 mortos na capital mineira por uso de drogas lícitas e ilícitas, o crack respondeu por 40 (24%), perdendo para o álcool que teve 92 (55%) óbitosContudo, em 2000 a droga, que é subproduto da cocaína, registrava apenas um morto entre os 79 computados por todos os tipos de entorpecentes, descrevendo um crescimento de 2.400%Naquela época, a taxa de mortes por drogas em BH seria de 3,5, exatamente a metade do risco atual, que é de 7, o segundo maior do país.
O corpo franzino e repleto de cicatrizes da jovem Marli*, de 24 anos, mapeia uma série de acidentes que ela sofreu perambulando entre as vias e viadutos do Complexo da Lagoinha para fumar crack“É como a gente diz: estava doidona, néNem via que estava atravessando a ruaO carro passa, bate de lado na gente
Vítimas
Segundo o presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas, Aloísio Andrade, os efeitos do crack são diferentes do álcool na formação de vítimas de acidentes“Quem usa crack não se fere no trabalho, porque dificilmente trabalha sob o efeito do tóxicoPor outro lado, a degeneração cerebral é muito grande e rápida
Edu*, de 27, morador de Contagem, na Grande BH, diz ter escapado por várias vezes de acidentes enquanto estava alucinado pela droga nesses últimos meses em que vive entre viciados nos arredores da Antônio Carlos“Não pode dar mole, nãoMas a gente vai e esquece mesmoAliás, nem lembra para onde estava indo”, disseUm amigo dele não teve a mesma sorte“O cara estava do meu ladoAí, do nada, atravessou a avenidaA gente nem viuSó escutou uma freada e um barulho de batidaIgual tem toda hora aquiFoi então que vimos o cara no meio do asfalto”, lembraO atingido teve fratura exposta na perna esquerda e precisou ser levado às pressas para o hospital“Na hora do acidente, mesmo estando anestesiado, a gente senteA dor é muitaO cara teve fratura exposta, berrou e chorouDepois que a ambulância o levou, nunca mais vi.”
(*)Nomes fictícios