Excessivamente confiante por estar completamente embriagado depois de uma noitada regada a cachaça, Silvério pegou o volante do carro do cunhado
Essa posição está exposta na Taxa de Mortalidade por Uso de Drogas adotada pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), à qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividadeO índice, que indica onde é mais preocupante o risco de morte, é composto por uma fórmula que considera os óbitos registrados no Sistema Único de Saúde (SUS) relacionados a drogas lícitas e ilícitas, dividido por habitantes residentes, segundo o IBGECom risco 7, BH só perde para Fortaleza, que tem 9,6, e está à frente do terceiro colocado, Brasília, com 5,1 .
Foram 167 mortos na capital mineira no último ano do levantamento, 2010, sendo que 92 (55%) foram vítimas de transtornos mentais e comportamentais ligados ao uso de álcoolEm segundo lugar, com 40 óbitos (24%), estão os registros por transtornos mentais e comportamentais por abuso de cocaína e derivados, como o crackMaconha, tabaco, solventes e alucinógenos integram o índice em números menores
Cultura do consumo
Pessoas sob efeitos dessas substâncias entram para a conta ao morrerem vítimas de traumatismos provocados por quedas, acidentes de trabalho e de trânsitoBenevides destaca que Belo Horizonte e Minas Gerais têm um forte fator cultural relacionado ao uso do álcool, o que torna a situação tão grave“A oferta é muito grande e o consumo começa em casaEm 2003 fizemos uma pesquisa, na qual 43% dos jovens responderam que começaram a beber na companhia dos paisSe começa em casa, depois é mais difícil o controle.”
O presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas, psiquiatra Aloisio Andrade, diz que os alcoólatras agudos são os que geralmente se sujeitam a mais acidentes, diferentemente dos crônicos, que costumam morrer de doenças relacionadas à bebida – cirrose, principalmente“Há dois tipos de bebedores: os excessivos regulares, que trabalham e depois se embriagam diariamente, causando poucos problemas, e o alcoolômano, que quando ingere álcool perde o controle e se expõe a situações de risco: briga, quer dirigir ou mexe com a mulher e a filha dos outros”, exemplifica.
Uma das faces mais perversas do álcool é justamente a presença da substância em todas as camadas sociais, por ser uma droga lícita que pode ser usada sem tanta censuraUm problema que só aparece quando atinge um estágio muito grave“Um usuário de crack não consegue esconder o vícioÉ nítida a degradação que sofre, nas ruas e em casaIsso acelera as medidas para combater o problema
Tanto o subsecretário quanto o presidente do conselho estadual admitem que a fiscalização contra venda de bebidas a menores é deficiente e está entre os motivos de os prejuízos relacionados com o álcool serem tão grandes em Minas Gerais“As famílias devem criar os filhos com valores éticos, morais e de esforçoPrecisamos de fiscalização para dificultar acesso das pessoasNo caso das drogas, é necessária repressão ao grande traficante, tratamento ambulatorial para casos simples e internações quando forem mais gravesA reinserção social do dependente é outro ponto fraco”, aponta o psiquiatra.
A meta mineira, de acordo com o subsecretário de Políticas sobre Drogas, é reduzir as mortes na capital aos níveis de São Paulo, que tem taxa de 2,1 e ocupa a nona posição entre as capitais onde há mais riscos“Amanhã (hoje) vamos ter apresentações de grupos de estudo nacionais sobre a temática das drogas, inclusive de São PauloUm grupo de estudos da subsecretaria vai formular depois propostas de legislação e de políticas para dificultar o acesso ao álcool e a outras drogas”, afirma BenevidesDe acordo com o subsecretário, Minas ainda aguarda que a licitação de equipamentos do Plano Nacional de Combate às Drogas seja realizada para receber R$ 470 milhões acordados para compra de equipamentos, abertura de 380 leitos, de quatro unidades móveis de videomonitoramento, aquisição de 400 câmeras fixas de vigilância, motos e armas não letais e capacitação de educadores para enfrentamento direto ou indireto do problema.