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Estado de Minas

Mudanças não escondem encontros "atrás da moita"


postado em 19/08/2012 07:23

De pouco adiantou a última reforma na Praça Raul Soares, em 2008. As árvores sofreram podas radicais e os arbustos, cortados em formato de bolinha, encolheram. As mudanças, porém, não inibiram os encontros fortuitos “atrás da moita”. Os flagras podem ser vistos madrugada adentro, à exceção das – raras – vezes em que uma viatura da PM é estacionada na praça. Na maior parte das noites, nem a presença dos agentes da Guarda Municipal inibe o movimento. Em meio ao clima de liberalidade, pode-se observar noite após noite a presença de homens mais velhos rondando a praça. Só o estilo da abordagem varia.

A figura desses senhores se destaca entre os grupos de rapazes magros, que falam fino, são mais agitados e têm gestos peculiares. O provável cliente aproxima-se devagar, sem pressa. Passa pelos jovens e lança olhares. Revela a que veio. Em seguida, ocupa um banco vazio da praça. Senta e espera. “E aí, amor?”, vão chegando dois ou três garotos, puxando assunto. Querem dinheiro.

“Já recebi propostas de pessoas mais velhas, tanto de homens quanto de mulheres”, revela S., de 16 anos. Ele continua frequentando a escola pública do bairro onde mora, na Região Norte de BH. “Na minha escola, quase ninguém sabe da minha preferência sexual, mas nunca me senti menor do que ninguém”, diz.

Ele não é o único a esconder a opção sexual. Com aliança na mão esquerda, o homem casado chega sozinho ao point próximo à Raul Soares, às 23h05. Sua idade pode ser calculada pelas têmporas grisalhas e pelo diâmetro da barriga. Ele tenta disfarçar os 55, 60 anos usando bermuda jeans e tênis. São itens de marca cara. Essa é uma das senhas para atrair rapazinhos na noite. Eles se dependuram no pescoço do homem, como mariposas atraídas pela luz. Abraçam, trocam três beijinhos e cochicham algo ao pé do ouvido. Estão se conhecendo.

De repente, um deles se afasta do grupo. Segue até a outra roda de “amigos” e transmite o recado ao mais escolado da turma. A partir desse momento, o “cafetão” está encarregado de arranjar um garoto mais novo para atender ao pedido do cliente, que já está esperando. Ele conversa com um e outro, sempre de forma descontraída e alegre. Não quer deixar pistas. Aos desavisados, não passa de um clima de paquera.

É assim a prostituição masculina na Raul Soares: velada. Nas imediações o esquema é mais escancarado, mas também envolve a participação de menores, ainda que em proporção mais discreta. De volta à praça, a negociação com os garotos de programa consome em torno de 20 minutos. Às 23h25, o “cliente” deixa o local abraçado a dois rapazes. Um tem 18 anos; o outro, menos de 14. Entram apressados em um Vectra preto estacionado estrategicamente no quarteirão acima. Não retornam antes da meia-noite. Os outros permanecem no ponto, conversando, se beijando e bebendo. Continuam “à caça”.

Quem aparenta menor poder aquisitivo leva mais tempo até conseguir um programa. Alguns deles já são figurinhas carimbadas no entorno da praça. Mudam os locais de permanência para não dar na cara, mas estão sempre por ali.


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