Jornal Estado de Minas

Shopping para animais oferece serviços vip

Em prédio erguido só para tratar de animais em BH, cachorros, gatos, roedores, peixes e até aves têm atendimento especial."Chega a ser excêntrico", diz um cliente dono de cão

Jefferson da Fonseca Coutinho

Schnauzer Boris, de 8 anos, toma banho em primeira visita que fez ao novo espaço - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Manobrista, salão de festas, atendimento médico, terapia, escolinha e até motelTantos serviços não são para os humanos, mas para animaisA inauguração de um prédio exclusivo para atendimento veterinário tem mostrado que, em Belo Horizonte, sobram donos dispostos a dar tratamento vip a seus bichos de estimação“Olhar fundo nos olhos dos animais é ver além do que se pode pensar,” diz a artista plástica Constância Vasconcelos Gomes, de passagem com a filha, Camila, de 29 anos, pelo edifício de oito andares no Bairro Gutierrez, na Região Centro-SulA família veio do Condomínio Alphaville, em Nova Lima, para conhecer a novidade e buscar ajuda profissional para a reeducação da maltês Frida, serelepe e “impossível”“É ela quem manda lá em casa”, diverte-se Constância

Com os pequenos, muitas históriasAntes de Frida, tinham a poodle Mimi, morta em 25 de agosto de 2009, aos 16 anos“Há uma relação muito especial entre o homem e o animalTem gente que não está preparado para isso”, considera a artista plástica, saudosa, ao se lembrar dos últimos tempos da família com a pequena de estimação“Ela estava bem velhinha

Meu marido, uma semana antes, comentou com tristeza que talvez a gente tivesse que sacrificá-laEla já estava surda e mudaAí, um dia, a encontramos sem vida na piscina Ela foi tão generosa que, para poupar a gente, simplesmente partiu”, emociona-seA filha conta que as cinzas de Mimi foram jogadas no jardim“Em seguida, o tempo fechou e choveu por cinco minutos”, conta Camila.

Só quem viveu passagens assim, de alegria e dor, é capaz de entender os mimos do edifício inaugurado há menos de um mês na Avenida do ContornoHá até motel decorado, temático, com supervisão veterinária para cruzamento, gestação e partoNo “andar do cão” há sala de terapias com ofurô, toalhinhas especiais, velas e rosasTem mais: praça de alimentação, com comidas e bebidas para os pequenosPão de queijo, biscoitos, petiscos, bolinhos de espinafre, laranja, chocolate, água mineral e cerveja sem álcool
“E vão chegar vinhos, sorvetes e picolés, produzidos especialmente para os cachorros”, conta Edvar Magalhães, de 53, no balcão, entusiasmado com o empreendimento.

Em frente ao elevador, no térreo, Lord, um jack russel invocado de 11 meses, faz uso do banheiro coloridoNa companhia do médico Leonardo Cintra, de 28, o cão saiu do Bairro Santa Efigênia para conhecer o lugarLonge das broncas ou dos olhares de quem é avesso aos bichos de estimação, Lord se mostra inteiramente à vontade até para mordiscar a equipe de reportagemDe brincadeira, claroO “rapazinho” está feliz com a tarde de folga do dono, chegado recentemente de residência no Hospital das Clínicas do Espírito Santo“Isso aqui é inovador, chega a ser excêntrico”, comenta o jovem doutor, que vê em Lord, companheiro, um divisor de águas em sua história“Minha vida mudou muito com a chegada deleE para melhor”, ressalta.

Família

À espera do banho, no subsolo, piso de estética canina, está BorisO schnauzer, de 8 anos, tem problema no fígado e precisa de alimentação especialO espaço foi um achado para Flávia Mari e a mãe, Maria Odete, do Bairro Santo AntônioDedicadas, querem o melhor para o “mocinho” Para Flávia, jornalista, não há nada de mais em tratar os bichos como humanos“É muito difícil, para quem gosta, fazer essa separação racionalClaro que não é a mesma coisaMas é um integrante da família Há uma relação de comunicação, a gente passa a se conhecer melhor”, consideraEm mais de 30 anos, Boris é o quarto animal de estimação da casa de Maria Odete“Sem dúvida, o mais humano de todos”, afirma Flávia.

Não são os cães os donos da cena no segundo andarSão dois peixes de família que rodaram o mundo em filme de animaçãoNo aquário marinho de 500 litros, o peixe-palhaço e o epatos – célebres por Procurando Nemo, da Pixar, ganhador do Oscar de 2004 – não passam despercebidos“Olha, o Nemo e a Dóris!”, diz a moça de olhar luminoso Ao fundo, os diamantes-corujinhas também chamam a atençãoSão pássaros pequenos, empoleirados, muito parecidos com as belas aves que os nomeiamLogo acima, no terceiro piso, o território é dos gatos: móveis e acessórios planejados, com arranhadores de luxo, em estampas de oncinhas, em meio aos brinquedos e passatempos coloridos, pensados exclusivamente para os bichanos.

Batendo bola

Para entrar na escola, os cães têm que fazer uma espécie de vestibular Eles são avaliados quanto ao nível de ansiedade, agressividade e socializaçãoA partir daí, o tratamento é traçadoA primeira lição parece fácil: passearÉ nesse tempo de recreação que eles se enturmam e mantêm a linha das quatro patasEm campo, fazendo bonito para a adestradora Valéria Brasil, de 38, Marley, Thor, Lucky, Lolita, Skol e BombomLucky, o samoieda, da família dos siberianos, dá sinais de que aprender é com ele

No rastro da bola, Lucky obedece e impressiona a plateia de seis filhotes, acomodada no canteiro de frente para a área de lazer e treinamentoZeus, o dálmata de olho azul, e seus companheiros de outras raças – buldogue francês, teckel e xitzu – estão tão atentos às peripécias do samoieda que parecem estar ali, sentados, especialmente para o show do colega galhardoA adestradora, apaixonada pelo ofício, fala da orientação: “A gente ensina para que o cão saiba como se comportarPara que o dono leve o animal para passear e não o contrário”Em casa, Valéria tem três assistentes, galgos, na educação de seus alunosOs animais, educados, ensinam uns aos outros.