“Se o exame dele permanecer nessa curva de crescimento , ele vai se tornar um homem baixinho e franzino
“No meu ambulatório, posso afirmar que já existem lesões ortopédicas em crianças provocadas pela obesidade”, denuncia a pediatra Virgínia Resende Silva Weffort, presidente do departamento de nutrologia infantil da Sociedade Brasileira de PediatriaEm seu trabalho no ambulatório do Hospital Universitário da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) é comum receber crianças obesas reclamando de dores nos joelhos “Com o excesso de peso, as pernas vão arqueando e os joelhos ficam voltados para dentroAlém da dor, a criança fica com as perninhas tortas e passa a ter mais dificuldade para andar”, diz a médica“Ela tem mais preguiça de fazer atividade física e fica só sentada dentro de casa, vendo tevê
Comida nova
“Os pais estão matando a sede da criança com suco de caixinha, que contém muito sódio, além do açúcar em excessoQuem tem sede tem de beber água”, reforça a nutricionista Ermelinda Lara, com 22 anos de experiência no Hospital das Clínicas da UFMGUsado para realçar o sabor, o sódio provoca ainda mais sedeCom isso, a criança pede cada vez mais o suco pronto e rejeita o naturalO excesso de suco de caixa e de carboidratos refinados (biscoitos recheados, sanduíches e massas instantâneas) faz inchar o abdômenO aumento da gordura abdominal, por sua vez, predispõe ao aparecimento de doenças degenerativas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e colesterol alto“É melhor oferecer porções menores de frutas do que dar suco adoçadoUma tampinha de laranja, um gomo de mexerica ou três uvas é melhor do que uma mamadeira de suco”, completa.
Uma recomendação da nutricionista é proporcionar condições para os filhos voltarem a brincar“As mães reclamam que o menino só fica no computador, mas criança não joga bola sozinhaÉ preciso combinar com os vizinhos do prédio um horário para as crianças descerem para brincar ou levar para a pracinha ou ao clube ”, avalia
Diabetes ganha força
Aos 10 anos, Anna Luíza já toma remédios para prevenir a diabetes mellitus tipo 2, que antes era doença rara na infância e só aparecia entre adultos de meia-idade e idososSua mãe, a funcionária pública Claúdia Gomes Fonseca Panda, de 45 anos, concordou em dar entrevista com o objetivo de alertar outros pais para os maus hábitos de muitas famíliasAté descobrir o diagnóstico, a menina era sedentária, apesar de morar no Condomínio Ibisco, em Contagem, não crescia e estava oito quilos acima do pesoTinha o costume de dormir tarde e levantar por volta das 11h, tomar um banho, almoçar e ir direto para a aulaNão sobrava tempo para se exercitar
“Estou mais felizFico com vontade de tomar Toddynho, mas eu bebo Gold (dietético), que é uma delícia”, confessa Anna LuízaEla passou a andar na esteira e a usar a bicicleta no condomínioTambém entrou para a aula de natação (além do balé que já fazia), na mesma academia onde os pais se matricularam no pacote para a família inteiraEm seis meses, Anna emagreceu três quilos e cresceu quatro centímetros
Calcula-se que, atualmente mais de 200 crianças e adolescentes desenvolvem o diabetes mellitus tipo 2 a cada dia no mundo, em decorrência da epidemia de obesidade e sedentarismoNos Estados Unidos, 8% a 45% dos novos casos de diabetes em crianças são do tipo 2Na Ásia, em países como Taiwan, os casos de diabetes tipo 2 em crianças já são duas a seis vezes maiores do que os do tipo 1
“As crianças veem as propagandas e ficam malucas para experimentar as guloseimasEstou orgulhosa da minha filha porque ela entrou de cabeça na reeducação alimentar”, elogia a mãeAnna Luíza é acompanhada de perto por ginecologista, endocrinologista e pela educadora em nutrição Natália Fenner PenaSó este ano Natália atendeu, entre 300 pacientes, 16 crianças e pré-adolescentes que apresentavam taxa de glicose no limite (99, 100 e 101 mg/dL) para acompanhamento nutricional e controle do pesoA taxa de glicose normal em crianças é de 70 a 99mg/dlNo diabetes tipo 2, o corpo não responde normalmente à insulina
Miopia mais cedo
Na geração anterior, a idade-chave para o aparecimento da miopia costumava ficar entre 10 e 15 anosAtualmente, os pediatras indicam o primeiro exame de visão para crianças a partir dos 7 anosA maior exigência de enxergar “de perto”, justamente na fase de desenvolvimento anatômico, está levando a uma epidemia de miopia, segundo a médica paulista Célia Nakanami, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia PediátricaOs últimos dados mostram que a maior cobrança por estudo e a mudança dos hábitos de lazer – com mais atividades em locais escuros como tevê e jogos – leva ao aparecimento do grau e a sua progressão cada vez mais cedo
“Se existe a predisposição e um dos pais é míope, a chance aumenta muito, de 20% a 30%Se os dois são míopes, a probabilidade chega a 40%”, comparaEla explica que o processo de acomodação dos olhos para enxergar de perto com boa nitidez e foco induz a um crescimento do diâmetro posterior do olhoDe forma leiga, o esforço repetitivo de prestar atenção no game “força o olho” “Os músculos trabalham mais para focar, o que aumenta o diâmetro do globo ocularE um olho ‘grande’ é um olho míopeEssa é uma das hipóteses para justificar o aumento do aparecimento da miopia nessa faixa etária”, completa