Jornal Estado de Minas

Sites oferecem desde comprimidos abortivos a drogas

Na última semana, o Estado de Minas procurou duas substâncias proibidas pela Anvisa em sites especializados na distribuição de suplementos alimentares e páginas de compra. Todos estavam disponíveis, até com preço em oferta.

Paula Sarapu
Quer teclar? Tecla de onde? Essas são perguntas sem respostas precisas na rede mundial de computadores
Atrás do monitor, o internauta pode ser qualquer um – bem-intencionado ou não –, principalmente quando o que está em jogo são produtos ilegaisEm 2011, as vendas do varejo em sites brasileiros movimentaram R$ 19 bilhões, segundo a e-bit Informação, empresa especializada em pesquisas sobre hábitos e tendências do comércio eletrônico no paísÀ época da CPI da Pedofilia, que investigou a pornografia infantil na internet em 2010, os dados apresentados pelo Conselho Nacional dos Procuradores Gerais davam conta de que o faturamento anual do comércio ilegal na internet chegava a US$ 3 bilhões, valor estimado pelo FBI (departamento americano de investigações).

Na última semana, o Estado de Minas procurou duas substâncias proibidas pela Anvisa em sites especializados na distribuição de suplementos alimentares e páginas de compraTodos estavam disponíveis, até com preço em ofertaEm um dos endereços eletrônicos, a reportagem colocou no carrinho o Jack3d e o Lipo 6 black e chegou a imprimir o boleto de pagamentoEm outro site, hospedado na Holanda e já denunciado à Interpol pela Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos, é possível escolher tipos variados de drogas, desde “cogumelos mágicos” e sementes de maconha até apetrechos como papel de seda, trituradores, balanças e cachimbos.

O texto é todo escrito em português, mas os preços da página aparecem em eurosAs encomendas de haxixe a comprimidos de ecstasy escolhidas pela reportagem poderiam ser pagas com cartão de crédito internacional, depósito n uma conta de banco holandês ou por envio do dinheiro em um envelope direto para a loja, neste caso em reaisO site informa que não constará na fatura o nome do estabelecimento nem as palavras semente e maconhaE alerta que não se responsabiliza pelo extravio do envelope com dinheiro nos Correios do BrasilCom letras em itálico e negrito, a página orienta que as notas sejam envolvidas em papel-alumínio
Há também um link de termos e condições, em que o site se isenta de qualquer responsabilidade e lembra que o usuário deve comprar de um país que não seja a Holanda, consultando as leis sobre adquirir e receber as substâncias fornecidasNo entanto, em outro link, a loja afirma que faz entregas no Brasil.

- Foto: Por e-mail

A reportagem também negociou produtos proibidos por e-mailNas conversas em que demonstra interesse em adquirir comprimidos abortivos, uma pessoa simpática que se diz médica formada por instituição de respeito, com cursos internacionais, cobra R$ 680 por um kit com oito comprimidos de dois medicamentos -– quantidade necessária, segundo ela, para oito semanas de gravidezEla oferece o Cytotec, proibido no Brasil, e o Ru 486 (Mifepristona), também suspenso pela Anvisa desde 1998A vendedora é carinhosa e chama a compradora de Flor, numa tentativa de se aproximarA troca de e-mails dura três dias e ela tira dúvidas: diz que o remédio vai dentro de um ursinho de pelúcia e que manda por Sedex, numa caixa sem qualquer referência ao métodoEla, inclusive, lista nove códigos de rastreamento de encomendas, para transmitir segurança de que o produto será enviadoA moça também comenta as reações de dor e sangramento e afirma que trabalha por indicação.

Há anúncios diversos que negociam animais silvestres e até componentes de máquinas caça-níqueisNuma página de compra e venda de todo tipo de produto, também foi possível encontrar arte sacraDepois do indicativo de compra de uma Nossa Senhora de R$ 1.300, a negociação passou para a troca de e-mails e o anunciante do interior de Minas Gerais cobrou o pagamento
Questionado sobre a existência de certificados que comprovassem a origem de duas imagens ofertadas na rede, ele respondeu que o telefone informado no cadastro era falso, embora fosse um número do próprio jornal, e disse que solicitou ao site a identificação do IP do computadorNuma tentativa de intimidar, disse que o comprador seria descoberto.

Em outra conversa, a reportagem simula o interesse em um anúncio de venda de órgão, com a desculpa do desespero de uma família para conseguir o transplante de um parenteUma das ofertas comuns nessa categoria é de alguém que se apresenta como um rapaz de 20 anos, de Santa CatarinaEle cobra R$ 200 mil pelo rim, se compromete a fazer exames médicos e admite que o procedimento é proibido, mas diz que a viagem e a procura por um hospital que faça o transplante ficam por conta do negociadorO EM comunicou à Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos todas as negociações e não efetuou nenhum pagamento.