Sinal vermelho para a juventude em ruas, avenidas e rodovias de MinasO estado que ostenta a maior malha viária do país e onde a cada feriado prolongado as vítimas das estradas se contam às dezenas detém também o primeiro lugar na Região Sudeste em número de crianças e jovens de até 19 anos mortos no tráfegoOs dados fazem parte do estudo Mapa da violência 2012/Crianças e adolescentes, divulgado ontem pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos
Eles apontam que em uma década, entre 2000 e 2010, o aumento de mortes nessa faixa etária foi de 23,2% em território mineiro, passando de 440 para 542 óbitosOs números valeram ao estado a condição de único entre seus vizinhos de região a registrar aumento nesses indicadoresEspírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo tiveram queda nos índicesA taxa de mortalidade no tráfego por grupo de 100 mil habitantes nessa população também coloca Minas em destaque negativoCom salto de 6,3 para 8,9/100 mil, o estado pulou da 21ª posição no país em 2000 para 14º lugar no ranking nacional em 2010O aumento foi de 40% na taxa de óbitos por acidente viário
Crianças e adolescentes vítimas do tráfego são reféns da imprudência e imperícia de condutores, mas também podem surgir como protagonistas das tragédiasUm dos casos emblemáticos dessa realidade ocorreu em outubro do ano passado, quando o menor D.A.F.F, de 17 anos, conseguiu as chaves de uma van escolar para levar um grupo de amigos a uma festa e se envolveu em um acidente que deixou dois mortos, também jovens
No Brasil, os acidentes com carros envolvendo menores de 19 anos estão em segundo lugar na lista das mortes no trânsito, com taxa de 20,9%, o mesmo percentual dos atropelamentos com vítimas nessa faixa etáriaIsoladamente, a liderança é dos desastres com motos (27,8%)
Na avaliação do chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Ramos, o cenário negativo registrado no trânsito do estado pode ser entendido como resultado de um cruzamento de fatoresSegundo ele, é preciso levar em conta o aumento de 146% da frota mineira, que passou 3,2 milhões para 7,9 milhões de veículos entre 2000 e 2010“Com mais carros nas ruas e rodovias, as pessoas estão mais expostas ao risco de atropelamentos e acidentes de trânsito.”
No entanto, o especialista é rígido ao criticar a postura de condutores que expõe crianças a risco“Tem muito motorista que anda na marginalidadeMenores que dirigem sem habilitação, habilitados que abusam da velocidade e que não se preocupam com equipamentos de segurança para si próprios ou para passageirosTambém assumem comportamentos perigosos, aumentando a gravidade dos acidentes e do risco de morte dos passageiros”, disse
Vulneráveis
Mas o risco para crianças e adolescentes vem também do comportamento fora dos carrosBasta uma volta por algumas das vias mais movimentadas da capital para flagrar jovens expostos a risco, por imprudência ou falta de estruturaNos 26 quilômetros do Anel Rodoviário da capital, a via mais movimentada da cidade, por exemplo, ocorre diariamente um show quando o assunto é travessia em locais perigososFoi o que flagrou a reportagem do Estado de Minas em um trecho entre os bairros Goiânia e Nazaré, Nordeste de BH, onde dois meninos andavam sobre a mureta central da rodovia, aguardando o melhor momento para atravessar em meio ao tráfego pesadoO simples vai e vem de caminhões e ônibus poderia contribuir para desequilibrá-los e causar uma tragédia.
Na Avenida Nossa Senhora do Carmo, Bairro Sion, Centro-Sul da capital, outro flagrante de riscoEm um trecho da via próximo à entrada do Morro do Papagaio, a travessia é proibida, com grades dos dois ladosUma criança ignora os obstáculos e pula a grande para alcançar uma árvore no canteiro centralAtravessa a primeira pista, escala a árvore, desce, e atravessa a segunda pista sem se importar com o movimento intensoE o pior: bem perto de uma passarela.