Em 1940, quando o IBGE realizou seu primeiro censo, Ouro Preto tinha 27.890 habitantes
O crescimento da população fez com que a maioria dos núcleos se tocasse, além de fazer surgir novos bairrosAlguns deles, com edifícios de apartamentos e outras construções modernas, não lembram em nada o cenário protegido pelo IphanNesses lugares, é comum que moradores se refiram à área central como “Ouro Preto”, como se fosse uma cidade à parteNa Bauxita, há gente que quase nunca se desloca até as cercanias da Praça Tiradentes, a 2 quilômetros de distância.
Sônia e Maria das Mercês não entraram em quase nenhum dos museus e igrejas da área tombada, mas não é preciso sair da Praça Tiradentes para encontrar ouro-pretanos que não conhecem museu algum
Em Ouro Preto, os restaurantes mais frequentados pelos moradores, em geral, não são os preferidos dos turistasAlguns cafés e restaurantes, especialmente nas ruas Direita e São José, não sobreviveriam sem a presença de forasteiros“Mais de 90% do nosso ganho sai de turistasEles vêm pra gastar mesmo, pra comer bem”, comenta o húngaro Peter Bosze, de 56, dono de um restaurante de comida italiana na Rua DireitaEle celebra a chegada de julho, mês em que a cidade, que tem 170 pousadas e hotéis, recebe mais visitantes“Ganhamos um quarto do faturamento nesse mês Esperamos o ano inteiro para que ele chegue”, completa.
Peter mora há 26 anos na cidade, onde teve seis filhosVeio para trabalhar na exploração de pedras preciosas e foi ficando
Normalmente, a cidade se enche de turistas entre quinta e sexta-feira e despede-se deles no domingoNa segunda-feira, o núcleo histórico continua movimentado, mas por moradoresNa cidade, que tem 83% de católicos, segundo o Censo 2010 do IBGE, as igrejas ajudam a ditar a cadência do dia a diaNo século 19, Hermann Burmeister contou 10 igrejas “grandes e de belas torres”, conforme escreveuÉ provável que sejam a mesmas dez tombadas pelo IphanAs duas matrizes são a de Nossa Senhora da Conceição, a leste da Praça Tiradentes, e a de Nossa Senhora do Pilar, a oeste.
No primeiro domingo deste mês, o padre Marcelo Moreira, de 47, celebrou um casamento e três missas“É um cansaço confortadorVivenciar com o povo a fé compartilhada é realizar o que gosto, a missão que Deus me confiou”, disse à noite, na sacristia da Igreja do PilarAos domingos, a sonolenta Ouro Preto é despertada pelos sinos das igrejasNa de Nossa Senhora do Carmo, eles tocam às 7h30, chamando os fiéis para a missa das 8h30Em ritmo acelerado, os badalos duram cerca de dez minutosTodos os dias, o sacristão Jovelino Teodoro da Silva, de 70 anos, sobe os 74 degraus de uma das torres para tocar três sinos
História
No final do século 17, o bandeirante paulista Antonio Dias divulgou as primeiras notícias da descoberta de ouro na região que veio a compor o estado de Minas GeraisNos últimos anos daquele século, Dias e o padre João de Farias — que viraram nomes de bairros em Ouro Preto — fundaram os primeiros povoados no território elevado a vila em 1711, a Vila Rica Em 1823, ao ser promovida para cidade, passou a se chamar Ouro Preto Depois da vizinha Mariana, foi a segunda capital mineira até ser substituída, em 1897, por Belo HorizonteEm 1980, virou Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco