Por trás dos números estão histórias de vida forjadas pela falta de acesso à educação básicaPerdidas num emaranhado de letras, é impossível para essas pessoas fazer transações bancárias, preencher documentos e fichas para emprego sem ajudaApesar de invisíveis num país que cresce a passos largos e ostenta PIB de R$ 4 trilhões, os analfabetos existem e tentam superar as regras impostas pela condição sócioeconômica familiarGente como Cledison Santos do Nascimento, de 21 anos, que desembarcou em BH à procura de oportunidade em 2009 trazendo apenas as roupas e uma lata com farofa preparada pela mãe.
Mesmo tropeçando nas letras, em três anos ele conseguiu emprego de operador de betoneira, trouxe a mãe e os seis irmãos do interior da Bahia e hoje aprende o beabá na esperança de que isso lhe traga mais oportunidadesMais velho de seis filhos, trabalha desde os 12 anos para ajudar a mãe a criar os irmãosAprendeu a ler sozinho, montando as letras“Mas era muito difícil
Dependência
“Ser analfabeto é como ser cegoSe você não sabe ler, não segue o próprio rumoVai ser uma bênção quando eu estiver lendo e escrevendo”, diz Joaquim Rodrigues Barbosa, de 49Vindo do Vale do Mucuri, o operador de guincho já perdeu muitas oportunidades de trabalho“Quero ter mais liberdade e não precisar pedir nada a ninguémAs pessoas têm muito preconceito e poucas são de confiança”, revela.
O que Joaquim busca, Júlia Martins Silva, de 52, experimentou há pouco“Foi no ônibus que li a primeira palavra grande, ‘cidade administrativa’Nunca mais vou esquecer isso”, comemora a bordadeira, que há quatro meses frequenta o EJA da Universidade Federal de Minas Gerais, para compensar a falta de oportunidade da infânciaPara conseguir emprego, Júlia sempre omitiu a dificuldade, pois sabia que isso podia prejudicá-la