Jornal Estado de Minas

Em 56 anos, Rio São Francisco perdeu mais de um terço da vazão

Luiz Ribeiro
Extração de sedimentos se tornou ocupação para a população ribeirinha no município de São Francisco - Foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press
São Francisco, Bocaiúva, Montes Claros e Francisco Sá – Foi-se o tempo em que o pescador no São Francisco podia se gabar de tirar das águas surubim de 40 quilos em barco de grande porteAliás, foi-se o tempo em que se navegava tranquilamente pelo Velho Chico, que perdeu mais de um terço de sua vazão (35%) ao longo de 56 anos, entre 1948 e 2004As conclusões são do estudo do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), no Colorado (EUA), e estão no último relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobreo Rio da Integração NacionalEstão também no dia a dia dos ribeirinhos, que, sem peixe, agora “pescam” areia no fundo do leito.

O documento do TCU traz recomendações ao governo federal para apressar a revitalização do leito, tomada por bancos de sedimentos em vários pontos de sua calha.

O cenário, que já se tornou comum para os ribeirinhos, é, sobretudo, efeito da ocupação de quem mora bem distante da margem, capaz de alterar o leito onde ainda corre uma vazão estimada de 88 trilhões de litros d’água ao anoDe acordo com o relatório do TCU, de um total de 36 tributários do Velho Chico, 16 rios até então perenes se tornaram intermitentes.

“É um equívoco pensar no São Francisco com foco apenas no leitoO rio só existe por causa das bacias tributáriasA perda da vazão do Velho Chico é resultado da perda da vazão de seus afluentes”, explica o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Geraldo SantosTerceira maior do país, reunindo 14,3 milhões de habitantes em sua área de influência, 7,5% da população brasileira, a bacia do São Francisco corre por seis estados, além do Distrito Federal

O curso de seus 2,8mil quilômetros começa na Serra da Canastra, em Minas, estado onde estão concentrados 70% dos moradoresNo território mineiro estão também 10 importantes tributários – entre eles Paracatu, Velhas, Verde Grande e Paraopeba –, que nem sempre levam ao Rio da Integração Nacionalo que ele de fato merece.

Segundo o Panorama das Águas Superficial de 2012, divulgado mês passado pela Agência Nacional de Águas (ANA), a Região Metropolitana de Belo Horizonte contribui com 30% da carga de esgoto remanescente nas águas do São FranciscoEm outra vertente de agressões, o aumento dos processos erosivos levou cursos d’água a secar e mudou o ambiente
“O assoreamento nos trouxe um rio com ecossistema modificado e grande perda na quantidade de peixesA navegação ficou absolutamente prejudicada e hoje já não épossível mais sair de Pirapora rumo a Juazeiro (BA)”, lamenta Geraldo Santos(Com Flávia Ayer)