Jornal Estado de Minas

Hippies fazem protesto para ficar na Praça Sete

Humberto Siqueira
Artesão Rafael Lage comandou a manifestação contra a proibição de venda de trabalhos no Centro de BH - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press


Popularmente conhecidos como hippies, embora se considerem uma reconstrução do conceito hippie justamente por terem recebido outras influências, como indígena e portuguesa, artesãos estão sendo proibidos de exporem seus trabalhos na Praça Sete, no Centro da capital, onde tradicionalmente estão presentes há várias décadasOntem, às 14h, os malucos, como se autoentitulam, fizeram uma manifestação na praça para esclarecer as pessoas sobre o impasse

Rafael Lage, artesão, fotógrafo, blogueiro e um dos responsáveis pela manifestação, viajou oito anos pelo Brasil e se assustou com a forma como os hippies eram repreendidos em BH, quando retornou em 2009“Aquilo me impactou e desde então venho registrando isso num trabalho fotográficoEm 18 ações de repressão, fui agredido em todasEstou exibindo algumas das fotos e a intenção, no fundo, é tentar o reconhecimento dessa cultura”, pondera

O que ocorre ainda, segundo ele, é que com o choque de repressão, o processo de favelização se intensificou na Praça Sete“Recolhiam inclusive as mochilas, matéria prima e ferramentas dos artesãosA mochila é tudo o que ele temEntão essa ação da Prefeitura de Belo Horizonte igualou o artesão com o morador de rua, deixando-o sem nadaE a partir daí, alguns realmente deixaram de trabalhar e se tornaram mendigos”, lamenta


Rafael reconhece existir consumo de entorpecente“O Centro tem de tudoTem punks, skatistas, hippies e traficantesOs comerciantes reclamam com razão do uso de drogas, mas, pelo menos atualmente, não são os hippiesEles não fumam aqui maisO problema é que há pessoas que nos perguntam por maconha e os traficantes estão sempre atentos para perceber essa demandaE, em seguida, se aproximam do usuárioSão grupos grandes de menores e moradores de rua que fumam nas ruas do Centro, mas a prefeitura coloca como se estivéssemos todos no mesmo barco”, reclama.

Fiscalização

Em 30 de março, o secretário municipal de governo, Josué Valadão, assinou parecer pela legalidade das atividades exercidas pelos artesãos de rua, em vista da inexistência de vedação legal nesse sentidoSegundo a assessoria de comunicação da Regional Centro-Sul, esse documento não é válido, pois feriu o Código de Posturas, que não permite atividade não licenciada na via pública“A fiscalização visa inibir essa irregularidade
As exceções são: pipoqueiro, engraxate, carros de lanche rápido, banca de revista e deficiente visualA regional recebeu uma recomendação do Ministério Público cobrando maior atuação na Praça Sete e está cumprindo

Ainda segundo a assessoria, foi oferecido aos artesãos participação em feiras, mas eles recusaram“Somos artista de rua, nômadesFicamos alguns dias numa cidade e depois partimosAlguns criam raízes mais fortes, mas esse conceito de feira de barraca não nos atendeSequer queremos uma feiraQueremos uma regulamentação, após sermos reconhecidos, que atenda à sociedade, mas não mate nossa cultura Seria como colocar terno num índioQue cidade é essa que tem espaço para feira hippie sem hippie e hippie sem espaço?”, questiona.

O músico Ventania (Wilson da Silva), de 49 anos, estava apoiando a manifestação“Todos nós temos de ter um espaçoCada um tem sua característica dentro de um mundo únicoÉ preciso um acordo para incluir os malucos da estrada ou “hippies” como gostam de chamar, entre os autorizados a expor no espaço público”, defendeEm Brasília, por exemplo, o artesão pode pegar uma autorização de 15 dias na prefeitura, sem burocracia, que lhe permite percorrer a cidade e vender alguns de seus trabalhos