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Estado de Minas

Restauradores concluem hoje trabalho para exterminar invasores das esculturas de Aleijadinho

No santuário de Congonhas, micro-organismos de algas e fungos corroeram a pedra-sabão


postado em 06/07/2012 06:00 / atualizado em 06/07/2012 06:37

Guia Sebastião Carlos da Silva mostra a turistas o processo de limpeza das 12 estátuas, coordenado pelo restaurador do Iphan Antônio Fernando Santos e integrado por especialistas de universidades mineiras(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Guia Sebastião Carlos da Silva mostra a turistas o processo de limpeza das 12 estátuas, coordenado pelo restaurador do Iphan Antônio Fernando Santos e integrado por especialistas de universidades mineiras (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Congonhas – Assim que viu a equipe coordenada pelo conservador e restaurador Antônio Fernando Santos chegar ao Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, o morador Sebastião Carlos da Silva, de 52 anos, estampou um largo sorriso e disse a alguns turistas que não se cansavam de fotografar e filmar o local: “Eles vieram deixar os profetas mais bonitos”. Tião, como prefere se apresentar, ganha a vida fazendo serviço geral numa paróquia local e tem grande paixão pelo principal cartão-postal da cidade: “As estátuas são obras de Aleijadinho. Precisam ser bem conservadas”, acrescenta.

Os 12 profetas esculpidos em pedra-sabão por Antônio Francisco Lisboa, entre o fim do século 18 e o início do 19, foram ocupados por micro-organismos que, a olho nu, mais se parecem com pequenas manchas brancas-esverdeadas. Cientificamente, porém, são liquens, que é uma associação de algas e fungos, capazes de causar grandes prejuízos, a longo prazo, na obra-prima do maior escultor brasileiro de todos os tempos. Primeiro, porque esses microorganismos liberam um ácido que corrói as imagens. Segundo, suas raízes podem penetrar na pedra-sabão.

O grupo de Antônio Fernando, funcionário do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), chegou à basílica com a missão de exterminar a praga. “Estamos aplicando um biocida (aseptim/P-hidroxibenzoato de etila) para eliminá-la. É um trabalho feito a cada cinco anos, que começou na década de 1990”, explicou o coordenador da restauração, que espera concluir a limpeza dos profetas ainda hoje.

Força-tarefa
Ele não está sozinho nessa batalha. Além de contar com a torcida de seu Tião, o restaurador tem a ajuda de uma força-tarefa formada por profissionais da Universidade Federal de Minas Gearis (UFMG), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da Prefeitura de Congonhas e da Unesco. Essa última entidade aprovou em 1985 o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, que ainda incluem seis capelas com cenas da Paixão de Cristo, como patrimônio histórico mundial, o que reforça a importância da joia cultural de Congonhas. Em nível nacional, o conjunto foi tombado no fim da década de 1930.

Guias turísticos que vendem seus conhecimentos no local cobram R$ 30 para contar a história do santuário, que começou a ser erguido no século 18. Eles dizem, por exemplo, que a obra foi ideia de um português, chamado Feliciano Mendes, que chegou àquelas bandas do estado atrás de ouro. Depois de ficar doente, devido aos anos em que procurou o metal precioso em minas, se curou e, como agradecimento, mirou o restante de sua vida em erguer o templo. Para isso, contam moradores, o europeu pediu até esmolas. Ele teria morrido antes da construção do santuário.

Hoje, o que ele não pôde ver encanta os olhos de turistas, sempre atentos às palavras dos guias. Uma das teses que mais desperta atenção dos visitantes é a possibilidade de Aleijadinho ter se inspirado em Tiradentes e em outros inconfidentes para criar sua obra. O profeta Jonas, por exemplo, foi erguido com uma vestimenta semelhante ao do alferes. Outra coincidência: a imagem olha para o alto, numa alusão ao enforcamento.

Além dos profetas de Aleijadinho, o interior da igreja ganha destaque com pinturas de Mestre Ataíde. A entrada no templo, a quem possa interessar, é gratuita. Certamente, Tião estará por lá para um dedo de prosa.


COMO FICOU? A réplica das imagens centenárias

Confecção de moldes é interrompida
As formas confeccionadas no ano passado para produzir réplicas dos profetas estão guardadas na Prefeitura de Congonhas à espera de definição para saber se as cópias serão encaminhadas ao futuro Memorial Congonhas ou terão outro destino. Segundo a prefeitura, não foram produzidos modelos de todas as 12 esculturas de Aleijadinho. Quando o trabalho de criação das formas começou, temia-se que os profetas de pedra sabão fossem substituídos pelas réplicas, mas a Arquidiocese de Mariana garantiu que isso não ocorreria. A primeira fase da construção do museu do memorial está em fase de acabamento. Em agosto de 2011, numa iniciativa da Unesco, o ateliê do santuário mostrou duas replicas do profeta Joel em fibra de vidro, pó de pedra e resina, e o outro de gesso (foto). Segundo técnicos, as réplicas, que ficariam guardadas, poderiam no futuro ajudar na reconstituição caso alguma escultura original seja danificada. Além disso, as estátuas poderão participar de exposições itinerantes.


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